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Agendas são diferentes
do enviado especial
A grande batalha em Genebra,
durante a 2ª Conferência Ministerial da OMC, ontem inaugurada,
vai ser em torno da agenda para
futuras negociações comerciais.
É nessa guerra que se decide
que temas entram e em que
circunstâncias. E é nela, igualmente, que se volta a um confronto antigo entre o mundo
rico e os países em desenvolvimento.
Para estes, trata-se, acima de
tudo, de assegurar uma agenda
"em que possamos ver vantagens para nós", como diz o
embaixador da Jamaica junto à
OMC, Anthony Hill, falando
em nome de um grupo de 15
países em desenvolvimento.
Na prática, significa que o
mundo rico deve cumprir os
acertos da Rodada Uruguai,
encerrada em 94 com o mais
abrangente pacote de liberalização comercial da história.
O acordo previa que os países
desenvolvidos reduziriam em
36%, na média, suas tarifas alfandegárias na área industrial e
que as subvenções agrícolas
cairiam 20% na comparação
com o volume do período
86/88.
O que acontece hoje? Na área
agrícola, as tarifas e outras barreiras vão a 40%, pelos cálculos
de Tim Josling, da Universidade norte-americana de Stanford, divulgados pela revista
britânica "The Economist".
Para comparação: a tarifa
média norte-americana de importação não vai além de 5%.
Mesmo na área industrial,
"exportadores asiáticos de
têxteis, produtos eletrônicos e
químicos ainda enfrentam
barreiras de mais de 12% para
entre 10% e 15% de seus bens",
contabiliza Victor Ognivetscz,
especialista da Unctad, o braço
da ONU para comércio e desenvolvimento.
Por fim, os EUA, em especial, mas também a União Européia, usam sua legislação sobre dumping (venda de um
produto a preço igual ou inferior ao de produção, para ocupar o mercado) de forma "claramente protecionista e política", acusa Patrick Messerlin,
do Instituto de Estudos Políticos da França.
O mundo rico também quer
novas reduções das tarifas sobre produtos industriais, o que
incomoda o Brasil.
"Nossa dificuldade é aceitar
novas reduções de tarifas industriais até se completar a implementação do decidido na
Rodada Uruguai" (o que só
ocorrerá entre 2002 e 2004),
contrapõe Graça Lima, o negociador brasileiro.
Já a agenda prioritária dos ricos é outra e nem sempre há
coincidências entre eles.
Exemplo: a União Européia
pressiona por uma acordo que
defina a chamada política de
competição. Ou seja, as medidas que um governo pode adotar para se defender de parceiros externos. Os EUA são contra, porque sua legislação é rígida demais e, como diz Patrick Messerlin, usada de forma protecionista.
O mundo rico quer também
um código de investimentos
externos ultraliberal e acordos
que protejam a propriedade
intelectual da pirataria e introduzir na OMC a questão do
vínculo entre comércio e meio
ambiente e comércio e direitos
trabalhistas básicos.
(CR)
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