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DEPOIS DO CALMANTE
BC volta a vender dólares, mas a moeda dos EUA dispara e o risco-país tem alta de mais de 5%
Mercado tem recaída do quadro nervoso
ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL
Durou apenas um dia a trégua dada pelo mercado ao Banco Central. A instituição voltou a intervir no mercado, mas sem o sucesso de anteontem.
"O mercado ainda está muito nervoso. O BC ainda não conseguiu acalmá-lo de fato", afirma Flavio Datz, da Ágora Sênior.
Após a boa queda de 1,88% na segunda-feira, o dólar voltou a se
valorizar. Subiu, ontem, 1,91% e
encerrou o dia valendo R$ 2,715, a
mesma cotação da sexta-feira. O
risco-país, medido pelo JP Morgan, voltou a superar os 1.300
pontos. Encerrou o dia em alta de
5,04%, para 1.313 pontos. O indicador mede a capacidade de um
país honrar seus compromissos
financeiros.
As taxas de juros no mercado
futuro também voltaram a subir.
Os contratos mais negociados e
que servem de referência para o
mercado, com vencimento em janeiro de 2003, subiram de 21,73%
para 22,95%. A Bovespa caiu
0,97%.
Para Helio Osaki, analista da Finambras, a deterioração nos indicadores financeiros do país reflete
o fato de que os bancos estrangeiros não podem mais errar: "Eles
perderam muito dinheiro na Argentina. Não podem mais perder
nada e não vão arriscar".
Ainda segundo Osaki, o cenário
interno do Brasil é suscetível. O
país passa por um ano eleitoral,
com as pesquisas apontando a vitória da oposição, e o mercado
não aceita mais carregar títulos da
dívida pública de longo prazo.
Intervenção
A maior pressão sobre o dólar
ontem foi por parte de empresas.
Com dificuldades para rolar suas
dívidas, devido à deterioração dos
indicadores financeiros do país,
elas têm optado por comprar a
moeda norte-americana e pagar
seus débitos. Nesta semana, há
grande concentração de vencimentos do setor privado.
No início da tarde, o BC fez uma
consulta ao mercado para avaliar
qual seria a demanda pela moeda
e voltou a intervir nas operações.
Como já fizera na sexta-feira, vendeu dólares. Logo após a venda, o
dólar reduziu sua valorização,
que beirava 1,5%, para 0,63%.
Mas, instantes depois, retomou a
tendência de alta, que chegou a
bater, na máxima do dia, em
2,18%. Na estimativa do mercado,
o BC vendeu entre US$ 5 milhões
e US$ 10 milhões, para apenas
dois bancos.
"Esse volume é irrisório", afirma Osaki. "Se o BC tivesse sido
mais hábil, vendido um montante
maior ou pelo menos quantias
baixas, mas com uma sequência
de intervenções, poderia ter conseguido um resultado melhor."
Datz também avalia que a atuação foi tímida. Para Alexandre
Maia, economista-chefe da GAP
Asset Management, não faria sentido se o BC tivesse feito uma forte
operação de venda ontem: "Num
dia como hoje [ontem", em que a
procura por moeda era muito forte, seja por especulação ou por necessidade, de nada adiantaria o
BC ter entrado pesado no mercado. Apenas teria desperdiçado
munição."
Na sexta-feira passada, o mercado estimara que a intervenção teria ficado entre US$ 20 milhões e
US$ 25 milhões. Ontem, o presidente do Banco Central, Armínio
Fraga, afirmou que a venda foi da
ordem de US$ 10 milhões. O valor
correto da venda de sexta-feira será conhecido hoje. Os números
das reservas internacionais refletirão a intervenção, que só é liquidada dois dias úteis depois. O resultado exato da operação de ontem será conhecido na sexta-feira.
Também foi notada por analistas ontem a procura por "hedge"
(proteção cambial) por parte das
instituições. Preocupados com a
possibilidade de a moeda norte-americana disparar, investidores
e empresas realizam essas operações de compra de dólares para se
proteger de possíveis altas.
O dia no mercado foi de muitos
boatos, mais uma vez, em relação
a pesquisas de intenção de voto
para as eleições presidenciais deste ano. O mercado voltou a temer
uma disparada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na preferência dos
eleitores.
Hoje o dia deverá ser, mais uma vez, agitado. O Copom (Comitê
de Política Monetária) do BC anunciará sua decisão para os juros brasileiros. O mercado espera que a taxa seja mantida em 18,5% ao ano.
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