São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

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DEPOIS DO CALMANTE

BC volta a vender dólares, mas a moeda dos EUA dispara e o risco-país tem alta de mais de 5%

Mercado tem recaída do quadro nervoso

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

Durou apenas um dia a trégua dada pelo mercado ao Banco Central. A instituição voltou a intervir no mercado, mas sem o sucesso de anteontem.
"O mercado ainda está muito nervoso. O BC ainda não conseguiu acalmá-lo de fato", afirma Flavio Datz, da Ágora Sênior.
Após a boa queda de 1,88% na segunda-feira, o dólar voltou a se valorizar. Subiu, ontem, 1,91% e encerrou o dia valendo R$ 2,715, a mesma cotação da sexta-feira. O risco-país, medido pelo JP Morgan, voltou a superar os 1.300 pontos. Encerrou o dia em alta de 5,04%, para 1.313 pontos. O indicador mede a capacidade de um país honrar seus compromissos financeiros.
As taxas de juros no mercado futuro também voltaram a subir. Os contratos mais negociados e que servem de referência para o mercado, com vencimento em janeiro de 2003, subiram de 21,73% para 22,95%. A Bovespa caiu 0,97%.
Para Helio Osaki, analista da Finambras, a deterioração nos indicadores financeiros do país reflete o fato de que os bancos estrangeiros não podem mais errar: "Eles perderam muito dinheiro na Argentina. Não podem mais perder nada e não vão arriscar".
Ainda segundo Osaki, o cenário interno do Brasil é suscetível. O país passa por um ano eleitoral, com as pesquisas apontando a vitória da oposição, e o mercado não aceita mais carregar títulos da dívida pública de longo prazo.

Intervenção
A maior pressão sobre o dólar ontem foi por parte de empresas. Com dificuldades para rolar suas dívidas, devido à deterioração dos indicadores financeiros do país, elas têm optado por comprar a moeda norte-americana e pagar seus débitos. Nesta semana, há grande concentração de vencimentos do setor privado.
No início da tarde, o BC fez uma consulta ao mercado para avaliar qual seria a demanda pela moeda e voltou a intervir nas operações. Como já fizera na sexta-feira, vendeu dólares. Logo após a venda, o dólar reduziu sua valorização, que beirava 1,5%, para 0,63%. Mas, instantes depois, retomou a tendência de alta, que chegou a bater, na máxima do dia, em 2,18%. Na estimativa do mercado, o BC vendeu entre US$ 5 milhões e US$ 10 milhões, para apenas dois bancos.
"Esse volume é irrisório", afirma Osaki. "Se o BC tivesse sido mais hábil, vendido um montante maior ou pelo menos quantias baixas, mas com uma sequência de intervenções, poderia ter conseguido um resultado melhor."
Datz também avalia que a atuação foi tímida. Para Alexandre Maia, economista-chefe da GAP Asset Management, não faria sentido se o BC tivesse feito uma forte operação de venda ontem: "Num dia como hoje [ontem", em que a procura por moeda era muito forte, seja por especulação ou por necessidade, de nada adiantaria o BC ter entrado pesado no mercado. Apenas teria desperdiçado munição."
Na sexta-feira passada, o mercado estimara que a intervenção teria ficado entre US$ 20 milhões e US$ 25 milhões. Ontem, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, afirmou que a venda foi da ordem de US$ 10 milhões. O valor correto da venda de sexta-feira será conhecido hoje. Os números das reservas internacionais refletirão a intervenção, que só é liquidada dois dias úteis depois. O resultado exato da operação de ontem será conhecido na sexta-feira.
Também foi notada por analistas ontem a procura por "hedge" (proteção cambial) por parte das instituições. Preocupados com a possibilidade de a moeda norte-americana disparar, investidores e empresas realizam essas operações de compra de dólares para se proteger de possíveis altas.
O dia no mercado foi de muitos boatos, mais uma vez, em relação a pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais deste ano. O mercado voltou a temer uma disparada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na preferência dos eleitores.
Hoje o dia deverá ser, mais uma vez, agitado. O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC anunciará sua decisão para os juros brasileiros. O mercado espera que a taxa seja mantida em 18,5% ao ano.



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