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DEPOIS DO CALMANTE
Analistas de NY dizem que recompra de papéis da dívida pode render US$ 450 mi/ano
Negociar títulos dá ganhos para o BC
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central faz um ótimo investimento ao "recomprar" títulos da dívida externa brasileira -uma das principais medidas do
"pacote calmante" anunciado pelo governo na semana passada-,
avaliam analistas de Nova York
ouvidos pela Folha.
O potencial de ganho com essas
operações é de US$ 450 milhões
por ano, dadas as atuais condições de mercado.
Se comparada a taxa de retorno
dos títulos da dívida externa com
os juros pagos pelo país sobre o
empréstimo de US$ 10 bilhões obtido do FMI (Fundo Monetário
Internacional), o BC pode lucrar
de US$ 240 milhões a US$ 330 milhões ao ano.
O presidente do BC, Armínio
Fraga, confirmou ontem, em audiência pública na Câmara, que a
instituição já começou a adquirir
os papéis e que tem conseguido
nessa aplicação taxa de retorno de
aproximadamente 15% ao ano. A
intenção do BC é recomprar até
US$ 3 bilhões em títulos da dívida
externa com vencimento em 2003
e 2004.
Para se ter uma idéia da alta rentabilidade desses papéis, os títulos
do Tesouro dos Estados Unidos
de mesmo prazo pagam somente
3% ao ano.
O objetivo do BC com essa operação é corrigir o preço dos títulos
da dívida externa, muito desvalorizados nas últimas semanas.
Com essa estratégia, o BC contribui também para reduzir o risco
Brasil (medida da capacidade de o
país honrar suas dívidas), que
atingiu níveis recordes nos últimos dias.
O risco-país é o diferencial de
taxa de juros que os papéis do governo pagam acima dos títulos do
Tesouro americano (de risco zero). Ontem, o risco-país brasileiro
alcançou 1.303 pontos. Isso significa que a média dos juros pagos
pelos papéis brasileiros acima dos
títulos americanos é de 13,03 pontos percentuais.
Em linha gerais, quanto mais
depreciados os títulos, maiores os
juros pagos. Consequentemente,
mais alto o risco-país.
Quando o BC recompra os papéis, contribui para aumentar seu
preço no mercado. A operação de
recompra dos papéis é considerada investimento porque o BC usa
na aquisição dos títulos as reservas nacionais em moeda estrangeira, que passam a ser remuneradas pelos juros pagos pelos títulos. O BC pode também, a qualquer momento, vender os títulos.
Outra medida da rentabilidade
que o BC tem obtido nessas operações é o quanto de juros em dólar o governo tem pago aos investidores locais. As NTNs cambiais
(corrigidas pela variação do dólar) com vencimento em 2004 têm
rendido ao investidor 12% ao ano.
Ou seja, o Tesouro toma empréstimos em dólar no mercado doméstico a 12% ao ano, enquanto o
BC recebe nos títulos da dívida externa 15% ao ano. Um ganho líquido para o governo de três pontos percentuais em dólar, o que é
considerado muito bom.
Outro indicador é o empréstimo que o FMI confirmou ontem.
Os juros médios cobrados pelo
Fundo ao Brasil vão de 4% a 7%
ao ano. É como se o BC obtivesse
ganho de 8 a 11 pontos percentuais entre o quanto paga ao Fundo e o quanto recebe dos títulos.
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