São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

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DEPOIS DO CALMANTE

Analistas de NY dizem que recompra de papéis da dívida pode render US$ 450 mi/ano

Negociar títulos dá ganhos para o BC

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central faz um ótimo investimento ao "recomprar" títulos da dívida externa brasileira -uma das principais medidas do "pacote calmante" anunciado pelo governo na semana passada-, avaliam analistas de Nova York ouvidos pela Folha.
O potencial de ganho com essas operações é de US$ 450 milhões por ano, dadas as atuais condições de mercado.
Se comparada a taxa de retorno dos títulos da dívida externa com os juros pagos pelo país sobre o empréstimo de US$ 10 bilhões obtido do FMI (Fundo Monetário Internacional), o BC pode lucrar de US$ 240 milhões a US$ 330 milhões ao ano.
O presidente do BC, Armínio Fraga, confirmou ontem, em audiência pública na Câmara, que a instituição já começou a adquirir os papéis e que tem conseguido nessa aplicação taxa de retorno de aproximadamente 15% ao ano. A intenção do BC é recomprar até US$ 3 bilhões em títulos da dívida externa com vencimento em 2003 e 2004.
Para se ter uma idéia da alta rentabilidade desses papéis, os títulos do Tesouro dos Estados Unidos de mesmo prazo pagam somente 3% ao ano.
O objetivo do BC com essa operação é corrigir o preço dos títulos da dívida externa, muito desvalorizados nas últimas semanas. Com essa estratégia, o BC contribui também para reduzir o risco Brasil (medida da capacidade de o país honrar suas dívidas), que atingiu níveis recordes nos últimos dias.
O risco-país é o diferencial de taxa de juros que os papéis do governo pagam acima dos títulos do Tesouro americano (de risco zero). Ontem, o risco-país brasileiro alcançou 1.303 pontos. Isso significa que a média dos juros pagos pelos papéis brasileiros acima dos títulos americanos é de 13,03 pontos percentuais.
Em linha gerais, quanto mais depreciados os títulos, maiores os juros pagos. Consequentemente, mais alto o risco-país.
Quando o BC recompra os papéis, contribui para aumentar seu preço no mercado. A operação de recompra dos papéis é considerada investimento porque o BC usa na aquisição dos títulos as reservas nacionais em moeda estrangeira, que passam a ser remuneradas pelos juros pagos pelos títulos. O BC pode também, a qualquer momento, vender os títulos.
Outra medida da rentabilidade que o BC tem obtido nessas operações é o quanto de juros em dólar o governo tem pago aos investidores locais. As NTNs cambiais (corrigidas pela variação do dólar) com vencimento em 2004 têm rendido ao investidor 12% ao ano. Ou seja, o Tesouro toma empréstimos em dólar no mercado doméstico a 12% ao ano, enquanto o BC recebe nos títulos da dívida externa 15% ao ano. Um ganho líquido para o governo de três pontos percentuais em dólar, o que é considerado muito bom.
Outro indicador é o empréstimo que o FMI confirmou ontem. Os juros médios cobrados pelo Fundo ao Brasil vão de 4% a 7% ao ano. É como se o BC obtivesse ganho de 8 a 11 pontos percentuais entre o quanto paga ao Fundo e o quanto recebe dos títulos.



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