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MERCADO ABERTO
Delfim diz que Lula precisa mudar
O deputado Delfim Netto (PP-SP) tem sido um expectador
cada vez mais privilegiado
no governo Lula. Além de
ser um dos principais conselheiros do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, ele tem sido
bastante ouvido pelo presidente
Lula e pelo ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho.
Delfim está sendo apontado
como o principal inspirador de
um novo plano econômico que
está em elaboração na Fazenda.
Trata-se de um programa com o
objetivo de zerar o déficit nominal do país num prazo de seis
anos. Ou seja, ao fim desse período, tudo o que o Brasil gastar (incluindo os juros) terá que ser coberto com o que arrecada.
Para Delfim, um programa como esse é o melhor caminho para
o governo recuperar sua base de
apoio política. "A atual política
econômica é uma bananeira que
já deu cacho. Só com essa mudança o presidente conseguirá
recompor sua base política de
apoio ao governo", diz. A seguir,
trechos da entrevista:
Folha - Como sr. viu a saída de
José Dirceu?
Delfim Netto - Em primeiro lugar, o Dirceu foi um eficiente ministro. Ele deu dinamismo ao governo e controlou o que era preciso controlar pela Casa Civil.
Saiu-se muito bem como ministro e acertou de novo quando tomou a decisão de voltar ao Congresso para se defender das acusações. Com isso, ele não só fica
mais à vontade para poder fazer
sua defesa como tira o governo
desse processo. Ele vai ajudar
muito o governo na Câmara.
Folha - O sr. acha necessária uma
ampla reforma ministerial?
Delfim - Os ministros são, na
verdade, emanação do presidente. Tudo morre na decisão solitária do presidente. Ele é que tem
que se convencer se deve fazer isso ou aquilo. A escolha de um
ministro tem pouca importância
se não houver
um projeto.
Folha - O governo tem projeto?
Delfim - O governo tem dado
sinais de que está
preparando uma
mudança importante e tudo leva
a crer que o peso
maior dos ajustes
recairá sobre a
política fiscal.
Não é possível
mais sustentar
uma taxa de
câmbio declinante com uma dívida pública imensa como a nossa,
ainda mais com déficits nominais que acabam exigindo juros
escorchantes. O governo tem que
fazer um programa de redução
de despesas de seis anos com o
objetivo de zerar o déficit nominal. Hoje, você gasta mais com
juros do que o necessário se praticasse uma política inteligente.
O equilíbrio nominal das contas
públicas irá produzir uma queda
substancial nas taxas de juros. O
país vai entrar num círculo virtuoso de crescimento. Em vez de
pagar juros, o governo poderá investir e fazer programas sociais.
Folha - Qual o principal objetivo
do programa?
Delfim - O programa tem que
ter como objetivo o déficit nominal zero. Para isso, será importante também reduzir as vinculações orçamentárias. A vinculação é um desastre porque torna
mais difícil administrar as finanças e acaba exigindo taxas de juros muito superiores às necessárias. O Brasil está
precisando de
um choque de
gestão. A política
que está aí, que
fez o governo elevar em 13% a taxa
de juros e sem reduzir a inflação, é
uma armadilha
da qual o governo
tem que se livrar.
Essa política de
juros altos e sobrevalorização
do câmbio torna pífias as perspectivas de crescimento.
Folha - Quais são os outros pontos do programa?
Delfim - Outra coisa importante
é o governo reduzir de maneira
dramática os cargos de confiança. Temos que voltar ao período
que obrigava que a administração pública fosse profissional.
Não pode ser partidarizada. O
ministro pode ser político, mas,
do secretário-geral para baixo,
tem que ser um profissional. São
eles que se prepararam para a
função, fizeram cursos, tiveram
um aprendizado para o cargo. Os
esforços que foram feitos até agora para melhorar a gestão foram
muito tênues. O Brasil não terá
saída com a estrutura que está aí.
A atual política econômica é uma
bananeira que já deu cacho. Só
com essa mudança o presidente
conseguirá recompor sua base
política de apoio.
Folha - Os políticos apoiariam o
programa?
Delfim - A idéia de que todo o
deputado, todo o senador, só está
interessado em si próprio não é
verdade. Eu garanto que 99,9%
dos congressistas estão interessados num bom programa de governo e irão ajudar a pô-lo em
prática. Mesmo os deputados e
senadores de oposição. Qual o líder de um partido que iria se
opor a um bom programa de governo que tenha o apoio da mídia? Existe um fato elementar,
que é o caixa do governo. O caixa
é limitado. Não é possível o Brasil
não ter condições de voltar a
crescer. Nós não somos tão malformados que não podemos fazer uma boa política, sem déficit
externo e sem inflação? O que falta na verdade é explicar para a sociedade que o desenvolvimento
tem um custo, o combate à inflação tem um custo. O Brasil está
maduro para isso. Não adianta
aplicar 104% em educação. Todo
mundo vai morrer PhD.
Folha - O sr. será ministro?
Delfim - Imagina. Não sei de onde surgem esses boatos.
SEM SAÍDA
"O Brasil não terá
saída com a
estrutura que está
aí. A atual política
econômica é uma
bananeira que já
deu cacho"
Delfim Netto
DESEMBARQUE BELGA
O diretor regional da cerveja
Stella Artois para a América Latina, Tom Verhaegen, chega ao
Brasil nesta semana para integrar a equipe de marketing da
marca. Traz na bagagem a estratégia de lançamento da cerveja
belga, uma das marcas globais da
InBev, no país. Segundo a empresa, a Stella Artois deve ser lançada nos próximos meses. Os cálices de degustação da bebida,
por exemplo, virão da Bélgica.
RIGOR MAIOR
O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, enviou para a
Assembléia Legislativa projeto
de lei que caça a inscrição, no cadastro de contribuintes do
ICMS, do estabelecimento que
adquirir, distribuir, transportar,
estocar ou revender derivados de
petróleo adulterados. Na prática,
quem for flagrado ao comercializar combustível fora dos padrões
da ANP (Agência Nacional do
Petróleo) terá que fechar.
FUGA NOS TRILHOS
Para evitar as longas filas de caminhões no porto de Santos, a
empresa de transporte marítimo P&O Nedlloyd decidiu recorre às ferrovias. A empresa já tem dois terminais -um no interior de São Paulo, em Hortolândia, e outro na capital- para recolher a carga e levá-la, de trem, ao porto de Santos. "Estamos
estudando parcerias para um terceiro terminal, que pode ser
para o eixo Belo Horizonte-Sepetiba", diz Thais Perrella, gerente da empresa. Com o sistema, a transportadora consegue reduzir o tempo entre a retirada dos produtos nos clientes e o embarque nos navios, sua especialidade. A escolha pelos trens
também se deve à segurança, uma vez que itens como eletrodomésticos são constantemente alvo de ladrões nas estradas.
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