|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA
Aswath Damodaran, da Universidade de Nova York, vê risco no mercado imobiliário e diz que o Brasil errou ao mirar AL
Analista prevê nova bolha em seis meses
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma nova bolha pode estourar
nos EUA, e isso pode ocorrer nos
próximos seis meses. A opinião é
de Aswath Damodaran, 45, professor da Universidade de Nova
York. Considerado por analistas o
papa da área de avaliação de investimentos, Damodaran diz que
pessoas esquecem muito rápido o
que passaram, mas que, desta vez,
o estrago não será tão grande.
"Uma bolha como a de 99 você vê
uma vez na vida. A próxima deverá ser menor e num setor menor."
Com relação ao Brasil, o professor, que já deu consultoria a uma
estatal e três bancos, diz que o
mundo tende a passar a ver menos o risco-país e mais a qualidade da administração das empresas. "As companhias vão ter de
deixar de se esconder atrás das
cortinas do risco-país."
Mas diz diz que há empresas nacionais bem administradas, comparáveis a companhias internacionais. Quando a comparação é
com China e Índia, Damodaran
diz que o Brasil limitou-se muito
ao focar relações comerciais na
América Latina.
Em 2000, quando o mercado sobrevalorizava ações de uma companhia de tecnologia, Damodaran sustentou que os papéis valiam pouco mais da metade do
preço que investidores estavam
pagando por eles. O tempo mostrou que a avaliação de Damodaran estava correta. O professor
usara o método do fluxo de caixa
descontado. A partir da taxa de
crescimento e margens de lucro, o
modelo projeta o resultado que a
companhia pode gerar no futuro
e, a uma taxa de desconto, estima
o valor presente do investimento.
O método é usado desde a análise
de grandes fusões até a estimativa
do valor de um restaurante. A seguir, trechos da entrevista, concedida na semana passada, em passagem por São Paulo, para apresentar um seminário, a convite da
Alliance e da Economática.
Folha - Que informação o sr. tinha
em 2000, e outros analistas, não,
para concluir que algumas ações de
tecnologia estavam sobrevalorizadas, contra o que dizia o mercado?
Aswath Damodaran - O problema em comparar uma ação com
outras é que, se todo o setor estiver sobrevalorizado, você não
perceberá que o mercado está cometendo um grande erro. A vantagem do modelo é que não importa o valor que o mercado dá, e
sim o que você ganha quando
compra a ação.
Folha - Alguns setores da economia brasileira têm poucas empresas. Como compará-las?
Damodaran - Pense quem são os
competidores de Embraer: Bombardier, Boeing. Não vejo por que
uma companhia brasileira de bebidas ou uma empresa venezuelana não possa ser comparada com
a Coca-Cola. Estão todas tentando crescer juntas.
Folha - Como o senhor vê críticas
no fato de o modelo focar o longo
prazo?
Damodaran - Ao comprar uma
ação de empresa com alto potencial de crescimento, você aposta
no futuro. Antes de oito, dez anos,
você provavelmente não sabe se o
que estima para a companhia
realmente se torna verdade.
Folha - Como o senhor avalia o
mercado brasileiro?
Damodaran - Eu acho que o mercado brasileiro sempre gira em
torno do risco-país. Quando está
alto, o mercado desaba. Quando o
risco cai, o mercado vai bem. Você pode ser uma empresa brasileira muito boa, que pode ir bem por
seis meses. Mas, se o Brasil tem
seis meses ruins, você é punido,
preços oscilam conforme o mundo vê o Brasil. Como o risco tem
subido nos últimos dois anos, o
foco se deslocará do país para a
empresa. Companhias bem administradas farão melhor em
mostrar ao mundo sua boa administração. E, mal administradas,
vão ter que sair detrás da cortina.
Por muito tempo, foram capazes
de se esconder atrás dessas cortinas do risco-país. Eles não olham
para nós com um risco diferente.
Não é minha culpa. É do país.
Companhias que não são sérias
vão se ver punidas pelo mercado.
Folha - Há ações ou setores sub
ou sobrevalorizados no Brasil?
Damodaran - É difícil dizer. Nos
últimos dois anos, houve mudanças. O real ficou mais forte. Companhias que foram recompensadas agora estão sendo punidas. E
companhias que foram punidas
dois anos atrás por causa do real
estão sendo recompensadas agora porque o real valorizou-se.
Folha - E nos Estados Unidos?
Damodaran - Vejo um perigo: as
pessoas esquecem muito facilmente. Dizem: "Nunca mais vou
fazer isso de novo, investir em
empresas pontocom", mas esquecem. A próxima bolha nunca parece ser a próxima. E nunca se parece com a que passou. Minha suposição é que há uma bolha no
mercado americano. Pode ser no
mercado imobiliário. Parte do
problema é que os juros estão tão
baixos nos EUA, e as pessoas estão fazendo coisas estúpidas:
"hedge funds" [fundos agressivos] tomando emprestado a 3%,
investindo em aplicações arriscadas e lucrando 5%, 6%. Mas, se os
juros vão para 6%, isso vai ser varrido. Compram uma casa que eles
não podem pagar. Eu posso vender a casa para alguém mais por
20% mais. Conforme as taxas de
juros subirem para 7%, você verá
o estouro de uma bolha. Uma bolha como a de 99 você só vê uma
vez. Essa vai ser uma bolha muito
menor, num setor menor.
Folha - Pode ser no curto prazo?
Damodaran - É difícil dizer, pode
ser nos próximos seis meses. Alan
Greenspan [presidente do Fed, o
BC dos EUA] está tentando suavizar a alta dos juros. Então, não vai
fazer repentinamente o ajuste.
Folha - Como vai o Brasil em relação à Índia e à China?
Damodaran - Dez anos atrás, o
Brasil tinha saído na frente em relação a eles. Uma das tragédias
nos últimos dez anos é que eu
acho que o Brasil e outros emergentes ficaram onde estavam enquanto outros mercados, especialmente China e Índia, cresceram por serem alvos de investimentos. É interessante ter uma
população grande como mercado. E China e Índia têm essa vantagem. O desafio para emergentes
é criar nichos para eles mesmos.
Nos últimos dez anos, onde o Brasil fez negócios? Concentraram-se
na América Latina. O Brasil é um
grande celeiro, o maior mercado
da América Latina, mas você pode pôr duas ou três vezes a América Latina na China. Então, precisa
ver suas vantagens comparativas.
É tecnologia?É capital humano?
Recursos naturais? E tentar usar
para atrair investimento e mostrar a investidores que não precisam sair da China, mas que precisam ter algum dinheiro no Brasil
porque Brasil também tem vantagens comparativas.
Texto Anterior: Previdência: Internet e telefone ajudam segurado na greve Próximo Texto: Entrevista: "Legalize já (a maconha)", diz Friedman, 92 Índice
|