São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 2006

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Dependência de estrangeiros eleva risco

Com turbulência, vendas de investidores de fora causaram boa parte da queda da Bolsa

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

As últimas semanas mostraram o perigo que existe no fato de o mercado acionário brasileiro ter uma parcela considerável de suas operações nas mãos dos investidores estrangeiros. Com a turbulência que tem afetado o mercado global há cerca de 40 dias, a Bovespa sofreu pesadas perdas -em grande parte resultado da venda de ações pelos estrangeiros.
Desde o começo da atual turbulência do mercado, no dia 10 de maio, o Ibovespa (principal índice de ações da Bolsa doméstica) acumula desvalorização de 17,61%. Considerando a variação desse índice, quem tivesse aplicado R$ 10 mil no dia 10 teria hoje R$ 8.239,00.
Os lançamentos de ações feitos na Bolsa de Valores de São Paulo neste ano mostram o quanto essa dependência é grande: na média, 72% dos novos papéis vendidos foram para carteiras de estrangeiros, segundo levantamento da Bovespa. Foram considerados os lançamentos de ações (IPO, na sigla em inglês) e as novas emissões de empresas que já negociam ações na Bolsa.
Analistas explicam que a farta liquidez que vinha marcando o mercado internacional nos últimos meses justificava o interesse das empresas nacionais em oferecer altos volumes ao investidor externo. Em outras palavras, os grandes fundos internacionais tinham muito dinheiro disponível para aplicar, especialmente em emergentes.
"Sempre fui um crítico disso [ofertas grandes para estrangeiros]. Acho fundamental estimular o investidor local, fazer com que a cultura de aplicar em Bolsa se amplie", diz Alexandre Póvoa, diretor responsável pela Modal Asset Management.
"Todo mundo fica comemorando IPO [lançamento de ações] onde estrangeiros chegam a participar com 70% da oferta, mas não concordo com isso. O que é comum é ouvir que o investidor estrangeiro é importante por ser de longo prazo. Mas não é o que presenciamos nas últimas semanas."
Neste mês, até o dia 13, os investidores externos mais venderam que compraram ações no montante de R$ 1,82 bilhão. Esse resultado negativo é pior que o registrado em todo o mês de maio, quando a saída líquida de recursos da Bolsa paulista foi de R$ 1,51 bilhão.
No mesmo período, o saldo dos negócios do investidor pessoa física ficou positivo em R$ 297 milhões. Ou seja, se o pequeno investidor estivesse liquidando suas posições com a mesma vontade que o estrangeiro, a Bovespa teria caído muito mais no período.
A Copasa, que estreou no mercado acionário em fevereiro deste ano e teve 74% do volume ofertado destinado a estrangeiros, viu sua ação ordinária cair 27,91% nos últimos 30 dias. A Company, que ofertou ações na Bovespa em março deste ano, com 64% do volume vendido nas mãos do investidor internacional, teve queda de 29,93% em sua ação ON.
O que ninguém sabe dizer ainda é se as empresas irão passar a reservar uma parcela menor aos estrangeiros, temerosas de novas ondas de volatilidade no cenário internacional.


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