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Dependência de estrangeiros eleva risco
Com turbulência, vendas de investidores de fora causaram boa parte da queda da Bolsa
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
As últimas semanas mostraram o perigo que existe no fato
de o mercado acionário brasileiro ter uma parcela considerável de suas operações nas
mãos dos investidores estrangeiros. Com a turbulência que
tem afetado o mercado global
há cerca de 40 dias, a Bovespa
sofreu pesadas perdas -em
grande parte resultado da venda de ações pelos estrangeiros.
Desde o começo da atual turbulência do mercado, no dia 10
de maio, o Ibovespa (principal
índice de ações da Bolsa doméstica) acumula desvalorização de 17,61%. Considerando a
variação desse índice, quem tivesse aplicado R$ 10 mil no dia
10 teria hoje R$ 8.239,00.
Os lançamentos de ações feitos na Bolsa de Valores de São
Paulo neste ano mostram o
quanto essa dependência é
grande: na média, 72% dos novos papéis vendidos foram para
carteiras de estrangeiros, segundo levantamento da Bovespa. Foram considerados os lançamentos de ações (IPO, na sigla em inglês) e as novas emissões de empresas que já negociam ações na Bolsa.
Analistas explicam que a farta liquidez que vinha marcando
o mercado internacional nos
últimos meses justificava o interesse das empresas nacionais
em oferecer altos volumes ao
investidor externo. Em outras
palavras, os grandes fundos internacionais tinham muito dinheiro disponível para aplicar,
especialmente em emergentes.
"Sempre fui um crítico disso
[ofertas grandes para estrangeiros]. Acho fundamental estimular o investidor local, fazer
com que a cultura de aplicar em
Bolsa se amplie", diz Alexandre
Póvoa, diretor responsável pela
Modal Asset Management.
"Todo mundo fica comemorando IPO [lançamento de
ações] onde estrangeiros chegam a participar com 70% da
oferta, mas não concordo com
isso. O que é comum é ouvir
que o investidor estrangeiro é
importante por ser de longo
prazo. Mas não é o que presenciamos nas últimas semanas."
Neste mês, até o dia 13, os investidores externos mais venderam que compraram ações
no montante de R$ 1,82 bilhão.
Esse resultado negativo é pior
que o registrado em todo o mês
de maio, quando a saída líquida
de recursos da Bolsa paulista
foi de R$ 1,51 bilhão.
No mesmo período, o saldo
dos negócios do investidor pessoa física ficou positivo em R$
297 milhões. Ou seja, se o pequeno investidor estivesse liquidando suas posições com a
mesma vontade que o estrangeiro, a Bovespa teria caído
muito mais no período.
A Copasa, que estreou no
mercado acionário em fevereiro deste ano e teve 74% do volume ofertado destinado a estrangeiros, viu sua ação ordinária cair 27,91% nos últimos 30
dias. A Company, que ofertou
ações na Bovespa em março
deste ano, com 64% do volume
vendido nas mãos do investidor
internacional, teve queda de
29,93% em sua ação ON.
O que ninguém sabe dizer
ainda é se as empresas irão passar a reservar uma parcela menor aos estrangeiros, temerosas de novas ondas de volatilidade no cenário internacional.
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