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Queda nas commodities afeta o Brasil
Para analistas, redução nos preços de produtos primários indica que problema econômico não é inflação, mas crescimento
Se Fed mantiver política de
alta dos juros nas próximas reuniões, existe o risco
de uma recessão global,
diz economista brasileiro
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O setor de commodities, tantas vezes percebido como de
proteção em tempos de crise, é
um dos que mais sofrem com a
turbulência nas Bolsas. Para alguns analistas, a queda de preços dessas mercadorias cotadas
internacionalmente pode afetar a moeda brasileira.
"Preços de commodities é
uma sinalização do que investidores esperam de crescimento
e de como estão vendo o Brasil", diz Alexandre Lintz, estrategista-chefe do BNP Paribas.
Para Marcelo Ribeiro, da
Pentágono Asset Management,
o sinal é de preocupação, acima
de tudo com o crescimento. O
fato de "setores cíclicos ou de
commodities estarem sendo
penalizados significa que o
mercado está sinalizando para
Ben Bernanke, presidente do
Fed (Federal Reserve, o banco
central dos Estados Unidos),
que ele deve se preocupar com
o crescimento americano e global e não com a inflação", diz.
Se o temor do mercado fosse
realmente a inflação, as ações
de produtores de commodities
estariam entre as de menores
quedas, segundo Ribeiro.
Os preços de commodities
estiveram bem acima da média
histórica e por tempo prolongado. O pico de algumas delas
foi em 2004. Desde maio passado, o índice MSCI, do Morgan
Stanley, mostra queda mais
acentuada dos metais.
O Brasil também está sentindo o tombo das ações do setor.
Entre 9 de maio e a quarta-feira, enquanto o Ibovespa caiu
21,5%, a Petrobras perdeu 25%;
a queda foi de 27% nas ADRs,
papéis negociados em Nova
York; Vale caiu 23%; Gerdau
recuou 21% e 24% nas ADRs.
Relatório do Société Générale aponta o risco de estouro da
bolha de commodities, a exemplo do que ocorreu em 2000
com empresas de internet.
Segundo Lintz, o que sustentou preços recentemente foi a
forte demanda forte da China,
"real, e não especulação, o que
caracteriza uma bolha", diz ele.
"Se continuar uma desaceleração, se os bancos mundiais puxarem mais fortemente os juros, o impacto será negativo."
Para Ribeiro, se Bernanke
entender que o problema do
mundo é crescimento, não inflação, e parar de subir juros,
após o próximo encontro, há
uma boa probabilidade de os
mercados mundiais se recuperarem a partir de novembro.
"Se o Fed continuar elevando
os juros em agosto e nas próximas reuniões, podemos ver o
mundo mergulhar numa recessão", afirma. Muitos economistas seguem, no entanto, preocupados com a inflação corrente nos EUA, que está muito alta.
"Estão de olho no retrovisor."
Dólar
Para o consultor Walter
Mundell, a desaceleração dos
EUA reduzirá a demanda por
importações, afetando a China
e a Índia. Ele lembra que o real
se valorizou graças à ação do
Tesouro e do Banco Central e
de um cenário muito favorável
à apreciação de commodities,
principalmente metálicas, com
o crescimento dos países asiáticos, apoiado no alto consumo e
baixa poupança nos EUA.
O consultor recomenda cuidado com apostas na valorização do real, a não ser que a moeda venha a se desvalorizar muito, "o que não é o caso hoje".
Mundell ainda considera cedo,
porém, para posições que tentem captar uma possível alta do
dólar em relação ao real.
"A tendência é o real "andar
de lado", ao menos enquanto a
turbulência permanecer. Vamos esperar o que o Fed vai fazer e o que Bernanke vai dizer."
Para alívio de investidores,
não está previsto nenhum pronunciamento do presidente do
Fed na próxima semana.
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