São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Queda nas commodities afeta o Brasil

Para analistas, redução nos preços de produtos primários indica que problema econômico não é inflação, mas crescimento

Se Fed mantiver política de alta dos juros nas próximas reuniões, existe o risco de uma recessão global, diz economista brasileiro

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O setor de commodities, tantas vezes percebido como de proteção em tempos de crise, é um dos que mais sofrem com a turbulência nas Bolsas. Para alguns analistas, a queda de preços dessas mercadorias cotadas internacionalmente pode afetar a moeda brasileira.
"Preços de commodities é uma sinalização do que investidores esperam de crescimento e de como estão vendo o Brasil", diz Alexandre Lintz, estrategista-chefe do BNP Paribas.
Para Marcelo Ribeiro, da Pentágono Asset Management, o sinal é de preocupação, acima de tudo com o crescimento. O fato de "setores cíclicos ou de commodities estarem sendo penalizados significa que o mercado está sinalizando para Ben Bernanke, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), que ele deve se preocupar com o crescimento americano e global e não com a inflação", diz.
Se o temor do mercado fosse realmente a inflação, as ações de produtores de commodities estariam entre as de menores quedas, segundo Ribeiro.
Os preços de commodities estiveram bem acima da média histórica e por tempo prolongado. O pico de algumas delas foi em 2004. Desde maio passado, o índice MSCI, do Morgan Stanley, mostra queda mais acentuada dos metais.
O Brasil também está sentindo o tombo das ações do setor. Entre 9 de maio e a quarta-feira, enquanto o Ibovespa caiu 21,5%, a Petrobras perdeu 25%; a queda foi de 27% nas ADRs, papéis negociados em Nova York; Vale caiu 23%; Gerdau recuou 21% e 24% nas ADRs.
Relatório do Société Générale aponta o risco de estouro da bolha de commodities, a exemplo do que ocorreu em 2000 com empresas de internet.
Segundo Lintz, o que sustentou preços recentemente foi a forte demanda forte da China, "real, e não especulação, o que caracteriza uma bolha", diz ele. "Se continuar uma desaceleração, se os bancos mundiais puxarem mais fortemente os juros, o impacto será negativo."
Para Ribeiro, se Bernanke entender que o problema do mundo é crescimento, não inflação, e parar de subir juros, após o próximo encontro, há uma boa probabilidade de os mercados mundiais se recuperarem a partir de novembro.
"Se o Fed continuar elevando os juros em agosto e nas próximas reuniões, podemos ver o mundo mergulhar numa recessão", afirma. Muitos economistas seguem, no entanto, preocupados com a inflação corrente nos EUA, que está muito alta. "Estão de olho no retrovisor."

Dólar
Para o consultor Walter Mundell, a desaceleração dos EUA reduzirá a demanda por importações, afetando a China e a Índia. Ele lembra que o real se valorizou graças à ação do Tesouro e do Banco Central e de um cenário muito favorável à apreciação de commodities, principalmente metálicas, com o crescimento dos países asiáticos, apoiado no alto consumo e baixa poupança nos EUA.
O consultor recomenda cuidado com apostas na valorização do real, a não ser que a moeda venha a se desvalorizar muito, "o que não é o caso hoje". Mundell ainda considera cedo, porém, para posições que tentem captar uma possível alta do dólar em relação ao real.
"A tendência é o real "andar de lado", ao menos enquanto a turbulência permanecer. Vamos esperar o que o Fed vai fazer e o que Bernanke vai dizer."
Para alívio de investidores, não está previsto nenhum pronunciamento do presidente do Fed na próxima semana.


Texto Anterior: Legião estrangeira
Próximo Texto: Dicas Folhainvest: Bovespa tem semana ruim e acumula perda de 1,93%
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.