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No divã, FMI admite erros com Argentina
Especialistas contratados pelo órgão apontam que Fundo sonegou informações na crise do país
FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES
Um estudo de um trio de especialistas independentes contratados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) avaliou
que o órgão manipulou e sonegou informações para proteger
o próprio staff, esconder seus
erros e acentuar a responsabilidade dos governantes da Argentina pelo colapso econômico ocorrido em 2001.
O relatório divulgado nessa
semana é mais uma sessão de
análise da atuação do Fundo
durante crise do país vizinho,
que acabou levando a própria
instituição para o divã. O FMI
passa por uma crise sem precedentes em suas mais de seis décadas de existência, tanto financeira quanto de identidade.
O informe é uma espécie de
"auditoria da auditoria" e põe
em xeque os mecanismos internos do organismo multilateral. Os especialistas revisaram
o trabalho da OEI (Oficina de
Avaliação Independente, na
tradução) do FMI em dez países, incluindo a Argentina, para
concluir que, no caso do país vizinho, o Fundo sonegou informações a seus auditores e os induziu a erros de análise.
"O staff manteve reservada
informações do caso argentino.
Não lhes informou [ao auditores da OEI] sobre as bases de
um entendimento com Domingo Cavallo", diz o texto. Cavallo
era então o ministro da Economia argentino, responsável pela política de conversibilidade
(um dólar equivalente a um peso), arrastada até o fim de 2001.
Segundo o relatório, naquele
ano houve discussões com Cavallo sobre a possibilidade de
fazer mudanças estruturais na
política econômica se as reservas chegassem a um nível muito baixo. Essas conversas não
foram divulgadas suficientemente nem a própria OIE as
apontou, segundo o informe.
O estudo é categórico ao dizer que o relatório da OEI sobre
a crise argentina "acomodou"
suas conclusões para proteger
os diretores do FMI. "O rascunho sobre as razões que levaram ao colapso argentino se foca nos erros de análise por parte do staff e dos diretores do
FMI: a versão final do parágrafo, porém, se centra nos erros
de avaliação das autoridades
argentinas", diz o grupo de especialistas liderado pela ex-diretora do FMI, Karin Lissakers.
O governo argentino, que
mantém tensa relação com o
Fundo, não comentou o relatório, que ataca a gestão da "dama
de ferro" Anne Krueger.
Para o presidente argentino,
Néstor Kirchner, as receitas
econômicas do FMI foram responsáveis pela crise argentina.
Em janeiro deste ano, o país pagou toda sua dívida com o Fundo. Antes, Kirchner fez um duro discurso contra o órgão e
pregou independência da política econômica do país.
O Fundo continua realizando missões de rotina no país. A
última, na semana passada, elogiou a recuperação da economia argentina, mas deixou mais
recomendações: afirmou que a
inflação, a maior ameaça à economia que cresceu 8,6% no 1º
trimestre, e as políticas do governo Kirchner para combatê-la "geram tensões que precisam
ser resolvidas".
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