São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 2006

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Calote tem maior alta em um ano e bate recorde

No mês passado, foram devolvidos 3,4 milhões de cheques em todo o país

Comércio recebeu os dados sem alarme; economistas discutem desde 2005 se capacidade de crédito da população está esgotada

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A inadimplência voltou a repicar em maio, segundo todos os indicadores publicados na semana passada. A última subida em patamar semelhante aconteceu há mais de um ano, em abril de 2005. Dessa vez, a repentina alta foi forte e verificada em todos os levantamentos -os estudos seguem metodologias e cobrem regiões diferentes. Não obstante, o setor varejista recebeu os dados sem susto e não crê que isso possa ser uma tendência.
Foram 3,4 milhões de cheques devolvidos em maio no país -recorde histórico para o mês, informa a empresa de crédito Equifax. Em São Paulo, a taxa de inadimplência líquida (contas em atraso, menos contas pagas) foi a 8,2%, índice próximo apenas da média anual verificado em 2003, segundo dados do Banco Central.
Em maio, 414,5 mil novos nomes de pessoas com dívidas em atraso entraram no SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) da ACSP (Associação Comercial de São Paulo) -um número que é hoje o sexto maior da história da pesquisa para um único mês.
Numa primeira olhada, seriam dados alarmantes. Faria soar o sinal de esgotamento da capacidade de crédito da população -uma discussão que se arrasta desde 2005 e divide os economistas.
Mas na mão oposta desse movimento de alta, há um série de fatores que tranqüilizam o mercado de varejo.
Em primeiro lugar, cresce o volume de pessoas que consegue tirar o nome da lista de devedores. Se 414,5 mil apareceram como novos devedores no mês passado, quase 300 mil saíram da relação (o mesmo número de pessoas registradas em novembro, mês da primeira parcela do 13º salário).
Tem mais: essa taxa de inadimplência de 8,2% é a metade do índice mais alto já verificado -16% em 1998-e já deve ceder em junho. Isso ocorre porque abril e maio são meses atípicos.
O brasileiro compra em dezembro e, de quatro a cinco meses depois, na quinta parcela, em média, começa a ter problemas para pagar o carnê da loja. Isso é sazonal.

Acomodação
Os analistas de varejo já aguardam uma acomodação nas taxas por conta do que os analistas e empresas de análise de crédito chamam de movimento de "ondas esparsas".
Ele representa a curva da inadimplência, com ritmos graduais de sobe e desce, mas sem pontos de pico. "A população da classe C, principalmente, faz as compras, gasta mais do que pode, se endivida e, depois, corta gastos para acomodar o orçamento. Então, depois, volta a comprar. Nesse momento, ela está fazendo os ajustes", diz Clifford Young, diretor da Ipsos Publicis, braço da empresa de análise de tendências em consumo Ipsos.
Uma série de razões ajuda a explicar o porquê de a inadimplência se manter controlada em comparação a anos atrás, quando o calote disparou e, ajudou, inclusive a quebrar lojas.
São esses fatores que dão segurança para que os economistas não acreditem em escalada no calote a partir de maio. Por exemplo, o comércio alongou prazos para vender mercadorias em até 24 vezes. Isso torna a prestação menor e a faz pesar menos no orçamento -a despeito da cobrança de juros mensais em até 4% ao mês na lojas. Dados da Ipsos mostram que o consumidor deve, em média, hoje R$ 69,23, contra R$ 71,44 em abril e R$ 70,33 em março, R$ 74,58 em fevereiro e R$ 77,16 em janeiro.
"A inadimplência não é alta. Ela tem oscilações, se comporta de forma sazonal e continuará assim se o varejo não descuidar nem resolver reduzir critérios de concessão de crédito para tentar vender mais", diz Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa, empresa de análise de crédito.
A leve expansão na renda, o ganho salarial neste ano com o aumento do salário mínimo (R$ 300 para R$ 350) e o maior número de pessoas ocupadas no país repercutem positivamente nesses resultados. O rendimento médio real do trabalhador cresceu 0,5% de janeiro a março -último dado disponível. Em março de 2006 ante março de 2005, a alta real em 12 meses é de 3,8%.


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