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Calote tem maior alta em um ano e bate recorde
No mês passado, foram devolvidos 3,4 milhões de cheques em todo o país
Comércio recebeu os dados sem alarme; economistas discutem desde 2005 se capacidade de crédito da população está esgotada
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A inadimplência voltou a repicar em maio, segundo todos
os indicadores publicados na
semana passada. A última subida em patamar semelhante
aconteceu há mais de um ano,
em abril de 2005. Dessa vez, a
repentina alta foi forte e verificada em todos os levantamentos -os estudos seguem metodologias e cobrem regiões diferentes. Não obstante, o setor
varejista recebeu os dados sem
susto e não crê que isso possa
ser uma tendência.
Foram 3,4 milhões de cheques devolvidos em maio no
país -recorde histórico para o
mês, informa a empresa de crédito Equifax. Em São Paulo, a
taxa de inadimplência líquida
(contas em atraso, menos contas pagas) foi a 8,2%, índice
próximo apenas da média
anual verificado em 2003, segundo dados do Banco Central.
Em maio, 414,5 mil novos nomes de pessoas com dívidas em
atraso entraram no SCPC (Serviço Central de Proteção ao
Crédito) da ACSP (Associação
Comercial de São Paulo) -um
número que é hoje o sexto
maior da história da pesquisa
para um único mês.
Numa primeira olhada, seriam dados alarmantes. Faria
soar o sinal de esgotamento da
capacidade de crédito da população -uma discussão que se
arrasta desde 2005 e divide os
economistas.
Mas na mão oposta desse
movimento de alta, há um série
de fatores que tranqüilizam o
mercado de varejo.
Em primeiro lugar, cresce o
volume de pessoas que consegue tirar o nome da lista de devedores. Se 414,5 mil apareceram como novos devedores no
mês passado, quase 300 mil saíram da relação (o mesmo número de pessoas registradas em
novembro, mês da primeira
parcela do 13º salário).
Tem mais: essa taxa de inadimplência de 8,2% é a metade
do índice mais alto já verificado
-16% em 1998-e já deve ceder
em junho. Isso ocorre porque
abril e maio são meses atípicos.
O brasileiro compra em dezembro e, de quatro a cinco meses depois, na quinta parcela,
em média, começa a ter problemas para pagar o carnê da loja.
Isso é sazonal.
Acomodação
Os analistas de varejo já
aguardam uma acomodação
nas taxas por conta do que os
analistas e empresas de análise
de crédito chamam de movimento de "ondas esparsas".
Ele representa a curva da
inadimplência, com ritmos graduais de sobe e desce, mas sem
pontos de pico. "A população da
classe C, principalmente, faz as
compras, gasta mais do que pode, se endivida e, depois, corta
gastos para acomodar o orçamento. Então, depois, volta a
comprar. Nesse momento, ela
está fazendo os ajustes", diz
Clifford Young, diretor da Ipsos Publicis, braço da empresa
de análise de tendências em
consumo Ipsos.
Uma série de razões ajuda a
explicar o porquê de a inadimplência se manter controlada
em comparação a anos atrás,
quando o calote disparou e, ajudou, inclusive a quebrar lojas.
São esses fatores que dão segurança para que os economistas não acreditem em escalada
no calote a partir de maio. Por
exemplo, o comércio alongou
prazos para vender mercadorias em até 24 vezes. Isso torna
a prestação menor e a faz pesar
menos no orçamento -a despeito da cobrança de juros
mensais em até 4% ao mês na
lojas. Dados da Ipsos mostram
que o consumidor deve, em
média, hoje R$ 69,23, contra
R$ 71,44 em abril e R$ 70,33 em
março, R$ 74,58 em fevereiro e
R$ 77,16 em janeiro.
"A inadimplência não é alta.
Ela tem oscilações, se comporta de forma sazonal e continuará assim se o varejo não descuidar nem resolver reduzir critérios de concessão de crédito para tentar vender mais", diz Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa,
empresa de análise de crédito.
A leve expansão na renda, o
ganho salarial neste ano com o
aumento do salário mínimo
(R$ 300 para R$ 350) e o maior
número de pessoas ocupadas
no país repercutem positivamente nesses resultados. O
rendimento médio real do trabalhador cresceu 0,5% de janeiro a março -último dado
disponível. Em março de 2006
ante março de 2005, a alta real
em 12 meses é de 3,8%.
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