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Governo considera "decepção" leilão de energia alternativa
Usinas ofertam e vendem menos eletricidade do que sua capacidade de produção
Fonte alternativa é a que
não se enquadra na geração
hidráulica oriunda de grande
hidrelétrica, nuclear, gás
natural, carvão ou petróleo
MÁRCIO RODRIGUES
DA FOLHA ONLINE
O 1º Leilão de Energia de
Fontes Alternativas, realizado
ontem em São Paulo, frustrou
as expectativas do governo e do
setor energético, mesmo tendo
movimentado cerca de R$ 4,2
bilhões. O ministro interino
Nelson Hubner (Minas e Energia) considerou uma "decepção", principalmente em relação à oferta das usinas térmicas
à biomassa (madeira e bagaço
de cana-de-açúcar).
Fontes alternativas de energia são as que não se enquadram na geração hidráulica
oriunda de grandes hidrelétricas, nuclear, gás natural, carvão
ou derivados de petróleo.
Segundo o ministro, apesar
de as usinas sucroalcooleiras
dizerem possuir uma capacidade de produção de energia entre 2.000 e 3.000 MW (megawatts), foram ofertados apenas
1.019 MW e vendidos 542 MW.
A iniciativa do governo em realizar esse leilão, de acordo com
Hubner, partiu justamente de
pedidos feitos pelas usinas.
"A oferta, principalmente
das térmicas, foi decepcionante. Foi muito baixa se comparada à capacidade de produção.
Se os volumes permanecerem
pequenos, não valerá a pena
realizar leilões específicos."
No leilão organizado pela
CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), o total de energia vendido no caso
da biomassa foi de 542 MW, e
as PCHs (Pequenas Centrais
Hidrelétricas) comercializaram 97 MW, totalizando 639
MW a um preço médio geral de
R$ 137,32 por MWh.
O montante negociado é inferior aos 1.165 MW de 38 empreendimentos que apresentaram garantias físicas à Aneel (Agência Nacional de Energia
Elétrica) para disputar o leilão
e muito abaixo dos 2.803 MW,
em 87 projetos, que se habilitaram na EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
De acordo com Maurício Tomasquim, presidente da EPE, o
número é "razoável, mas poderia ser maior". "O próximo leilão geral, marcado para o próximo dia 10 de julho, já tem cerca
de 20.000 MW inscritos", afirmou.
O presidente da APMPE (Associação Brasileira dos Pequenos e Médios Produtores de
Energia Elétrica), Ricardo Pigatto, disse que as regras do leilão tornaram os empreendimentos "inviáveis". A reclamação é principalmente em relação ao preço, máximo de R$ 140
para usinas térmicas a base de
biomassa e R$ 135 para PCHs.
Cultura
Tanto Hubner quanto Tomasquim avaliam que o setor
sucroalcooleiro ainda não possui uma cultura para vender
energia.
"O custo de produção da
energia de biomassa é muito inferior aos R$ 140 por MWh,
preço inicial do leilão. No entanto, esse setor trabalha com
taxas de retorno muito maiores
do que as oferecidas pela energia", afirma Tomasquim.
Para ele, devido à flutuação
de preços a que o álcool e o açúcar estão sujeitos, a produção e
a venda de energia poderiam
ser uma proteção para os usineiros. "A vantagem da energia
é a usina fechar um contrato de
15 anos que irá garantir determinada renda fixa. Isso poderia
funcionar como uma espécie de
hedge [proteção] da produção."
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