São Paulo, terça-feira, 19 de junho de 2007

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Governo considera "decepção" leilão de energia alternativa

Usinas ofertam e vendem menos eletricidade do que sua capacidade de produção

Fonte alternativa é a que não se enquadra na geração hidráulica oriunda de grande hidrelétrica, nuclear, gás natural, carvão ou petróleo

MÁRCIO RODRIGUES
DA FOLHA ONLINE

O 1º Leilão de Energia de Fontes Alternativas, realizado ontem em São Paulo, frustrou as expectativas do governo e do setor energético, mesmo tendo movimentado cerca de R$ 4,2 bilhões. O ministro interino Nelson Hubner (Minas e Energia) considerou uma "decepção", principalmente em relação à oferta das usinas térmicas à biomassa (madeira e bagaço de cana-de-açúcar).
Fontes alternativas de energia são as que não se enquadram na geração hidráulica oriunda de grandes hidrelétricas, nuclear, gás natural, carvão ou derivados de petróleo.
Segundo o ministro, apesar de as usinas sucroalcooleiras dizerem possuir uma capacidade de produção de energia entre 2.000 e 3.000 MW (megawatts), foram ofertados apenas 1.019 MW e vendidos 542 MW. A iniciativa do governo em realizar esse leilão, de acordo com Hubner, partiu justamente de pedidos feitos pelas usinas.
"A oferta, principalmente das térmicas, foi decepcionante. Foi muito baixa se comparada à capacidade de produção. Se os volumes permanecerem pequenos, não valerá a pena realizar leilões específicos."
No leilão organizado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), o total de energia vendido no caso da biomassa foi de 542 MW, e as PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) comercializaram 97 MW, totalizando 639 MW a um preço médio geral de R$ 137,32 por MWh.
O montante negociado é inferior aos 1.165 MW de 38 empreendimentos que apresentaram garantias físicas à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para disputar o leilão e muito abaixo dos 2.803 MW, em 87 projetos, que se habilitaram na EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
De acordo com Maurício Tomasquim, presidente da EPE, o número é "razoável, mas poderia ser maior". "O próximo leilão geral, marcado para o próximo dia 10 de julho, já tem cerca de 20.000 MW inscritos", afirmou.
O presidente da APMPE (Associação Brasileira dos Pequenos e Médios Produtores de Energia Elétrica), Ricardo Pigatto, disse que as regras do leilão tornaram os empreendimentos "inviáveis". A reclamação é principalmente em relação ao preço, máximo de R$ 140 para usinas térmicas a base de biomassa e R$ 135 para PCHs.

Cultura
Tanto Hubner quanto Tomasquim avaliam que o setor sucroalcooleiro ainda não possui uma cultura para vender energia.
"O custo de produção da energia de biomassa é muito inferior aos R$ 140 por MWh, preço inicial do leilão. No entanto, esse setor trabalha com taxas de retorno muito maiores do que as oferecidas pela energia", afirma Tomasquim.
Para ele, devido à flutuação de preços a que o álcool e o açúcar estão sujeitos, a produção e a venda de energia poderiam ser uma proteção para os usineiros. "A vantagem da energia é a usina fechar um contrato de 15 anos que irá garantir determinada renda fixa. Isso poderia funcionar como uma espécie de hedge [proteção] da produção."


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