São Paulo, terça-feira, 19 de junho de 2007

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Dólar fraco restringe margem de empresas

De acordo com estudo realizado pela Serasa com 43,3 mil companhias, rentabilidade foi menor no ano passado

Margem da indústria caiu de 6,1% em 2005 para 5,5% em 2006; serviços, com 7%, é o setor que apresenta a maior rentabilidade

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os efeitos da desvalorização do dólar em relação ao real, com prejuízo às exportações e estímulo às importações, restringiu a rentabilidade de empresas brasileiras no ano passado, de acordo com levantamento da Serasa, empresa especializada em análise de crédito.
O estudo, que analisou dados de 43,3 mil balanços contábeis, mostra que a relação entre o lucro e o faturamento dessas empresas, ou seja, a margem líquida, que é um indicador de rentabilidade, foi de em média 5% em 2006, menos do que os 5,1% e 5,3% registrados em 2004 e 2005, respectivamente.
Os dados são baseados em informações fornecidas por 10,4 mil empresas industriais, 18,8 mil comerciais e 14,1 mil de serviços, públicas e privadas e de capital aberto e fechado.
Foi a indústria que puxou para baixo a rentabilidade média: sua margem caiu de 7%, em 2004, para 6,1% em 2005 e 5,5% no ano passado.
"Em 2007, os números devem ser muito parecidos. O que levou a indústria a essa situação não mudou: é o câmbio ruim", afirma Márcio Torres, gerente de crédito da Serasa e coordenador do estudo. "Mas há fatores muito positivos, como a inflação em queda e o mercado interno aquecido, com o consumo crescendo. Crescer de forma consistente já é uma boa notícia", pondera.
Ele cita como dois dos segmentos mais afetados pelo câmbio desfavorável as indústrias têxteis e químicas. "As têxteis são muito impactadas hoje pelas importações. E o setor químico exporta muito, e portanto é prejudicado pelo dólar, assim como pelas oscilações no preço do petróleo."
Por outro lado, lembra ele, o dólar desvalorizado acabou favorecendo as empresas com custos em dólar ou com dívidas em moeda americana (as dívidas em reais são reduzidas, o que gera receita financeira e contribui para a rentabilidade).
Fernando Exel, presidente da consultoria Economática, afirma que um levantamento recente feito somente com dados de empresas de capital aberto não mostra o mesmo impacto do câmbio sobre a rentabilidade das empresas.
"Mas isso pode ser explicado pelo fato de que na Bovespa há um peso enorme de empresas que são exportadoras de commodities, que estão muito bem, apesar do câmbio, porque os preços internacionais de seus produtos estão altos. Outro segmento de peso é o dos bancos, que por conta da expansão do crédito estão com resultados recordes", ressalva Exel.
Os segmentos que mais se destacaram positivamente, segundo o levantamento da Serasa, são o siderúrgico, cujas margens foram estimuladas pela redução em seus estoques e pelo elevado patamar das cotações do aço, e o de papel e celulose, que foi beneficiado pela demanda de outros países, pelos aumentos nos preços da celulose no mercado internacional e pelo aumento da demanda também no mercado interno.
O setor que mais contribuiu para os 5% de margem líquida, na média das 43,3 mil empresas, foi o de serviços, que teve uma rentabilidade de 7% no ano passado, ante 7,1% em 2005 e 4,7% em 2004.
Nesse caso, a Serasa destaca as prestadoras de serviços de utilidade pública, como saneamento e energia, como as de maior rentabilidade, por conta da expansão da economia brasileira. "As margens do setor de saneamento básico, por exemplo, foram impulsionadas pela alta no consumo de água e coleta de esgoto, além do aumento de usuários e alta dos investimentos", afirma Torres, destacando ainda os reajustes nas tarifas de água e esgoto.
No caso das empresas de telefonia fixa, de acordo com a Serasa, a tendência das operadoras de oferecerem serviços adicionais, como chamada em espera ou chamada em conferência e o chamado "triple play" (pacote combinando telefonia fixa, TV a cabo e acesso à internet por banda larga por um único preço), são responsáveis pela manutenção da rentabilidade dessas empresas.
O levantamento mostra também uma mudança no patamar da rentabilidade das empresas do comércio. Entre 2001 e 2003, a média da margem dessas empresas foi de 1,2%, em média, percentual que subiu para 2,1% entre 2004 e 2006.
"De alguns anos para cá houve essa pequena mudança de patamar, entre outras razões pelo maior ganho de margem dos supermercados, que vem vendendo mais eletrônicos, cuja lucratividade é maior que alimentos", analisa Torres.


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