São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

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RETOMADA

Compra de bens de capital aumenta 14,1% no primeiro semestre e aquisição de matérias-primas cresce 26,7%, diz Secex

Cresce importação de máquinas e insumos

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

As importações brasileiras começam a refletir o reaquecimento da produção industrial. A compra de bens de capital aumentou 14,1% de janeiro a junho deste ano, e a de matérias-primas e insumos cresceu 26,7%, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
No ano passado, quando o PIB (Produto Interno Bruto) encolheu 0,2%, a importação de bens de capital caiu 15,1% no primeiro semestre, e a de matérias-primas e insumos cresceu 7%.
Neste ano, até junho, bens de capital e matérias primas representaram 73% da pauta de importações. Bens de consumo duráveis, com 29,8% de crescimento, bens de consumo não duráveis (+14,3%) e combustíveis e lubrificantes (+35,6%) compõem o restante da pauta.
Segundo a Secex, o forte crescimento do item combustíveis é resultado, sobretudo, da alta dos preços do petróleo. Se até o ano passado o maior peso nas importações era dos itens consumidos pelos setores exportadores, como insumos agrícolas, por exemplo, neste ano o quadro começou a mudar.
Nos últimos meses, itens que até recentemente eram raros na pauta de importações estão sendo desembarcados no país. Fornos industriais, guindastes, empilhadeiras e colheitadeiras de algodão foram os produtos que registraram as maiores taxas de crescimento nas compras externas no primeiro semestre (veja quadro).
Os dados constam do relatório que será divulgado nesta semana pela Secex e foram antecipados para a Folha. Esses produtos integram a pauta de importação de bens de capital, que somou US$ 5,5 bilhões de janeiro a junho.
As matérias-primas e insumos totalizaram US$ 15,1 bilhões em compras no primeiro semestre. No topo da lista dos insumos mais importados estão as autopeças, com US$ 950 milhões em compras, valor 28,3% superior ao do primeiro semestre de 2003.
"O aumento das importações é resultado do aumento da produção industrial e dos investimentos em modernização e expansão da capacidade produtiva de alguns setores", afirma Ivan Ramalho, secretário de Comércio Exterior.
Segundo Ramalho, o crescimento de 25% das importações brasileiras foi puxado tanto pelo aumento da produção industrial voltada para o mercado interno como pelo crescimento das exportações de produtos manufaturados. "As importações voltaram a crescer no final de 2003 e mantiveram o ritmo ao longo do primeiro semestre", diz Ramalho.

Ressalvas
Empresários e analistas ouvidos pela Folha também atribuem ao aquecimento da produção industrial e da demanda interna a reação das importações. Mas fazem algumas ressalvas.
Paulo Skaf, presidente da ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), diz que o início da cobrança da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) sobre as importações, em maio, pode ter provocado uma antecipação das compras.
"Isso faria sentido se as importações dessem um salto em abril e depois houvesse uma paralisação, mas continuaram crescendo", argumenta Ramalho. Os dados da Secex mostram que em junho as importações de bens de capital cresceram 40,5%, e as de matérias-primas, 54,4%.
Outra explicação para o aumento das compras externas do setor produtivo seria um movimento de recomposição de estoques. "Se olharmos para trás, entre meados de 2001 e 2003, foram quase 30 meses de atividade econômica fraca. Os empresários tentaram, então, trabalhar da mão para a boca e agora podem estar recompondo estoques", diz Jorge Simino, sócio da MS Consult.
A indústria estaria vislumbrando que a recuperação do mercado interno poderá se sustentar no médio prazo, o que estimulou os empresários a aumentar os estoques de insumos, segundo Simino. "Isso explica por que a importação de matérias-primas cresce mais do que a de bens de capital."
Após seis meses de aumentos sucessivos nas importações e da permanência de saldos comerciais elevados, a dúvida dos analistas é por quanto tempo isso se manterá. A MS Consult já projeta uma queda do saldo da balança para o ano que vem: dos US$ 27 bilhões projetados para este ano haveria um recuo para US$ 23 bilhões em 2005.
Outra dúvida que paira sobre a escalada das importações voltadas para atiçar a produção é a sua sustentação no longo prazo. A indústria química, por exemplo, registra até maio um aumento de 24,4% nas importações.
"Houve aumento da demanda interna em todos os segmentos do setor. Se isso vai se manter, só o tempo dirá", diz Guilherme Duque Estrada, vice-presidente da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química).
Skaf, do setor têxtil, aposta em um crescimento de 5% do PIB neste ano. "Mas é preciso acreditar em Papai Noel para imaginar que estamos ingressando em uma nova era e que continuaremos crescendo de 6% a 7% ao ano." Na sua opinião os "juros altíssimos, a carga de impostos e a precária infra-estrutura do país inviabilizam o crescimento sustentado".
Dentro do governo, também há gente que, aparentemente, não acredita no velho Noel. "Se a atual taxa de juros se mantiver pelos próximos cinco anos, o país não continuará crescendo. Em algum momento o juro terá de ser reduzido", diz Bernard Appy, secretário-executivo de política econômica do Ministério da Fazenda.


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