São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

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Restrição do fluxo divide economistas

INAIÊ SANCHEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

As recentes turbulências nos mercados emergentes levaram a uma nova onda de reflexão sobre a necessidade da implantação de controles de capital no Brasil.
Pesquisadores da Unicamp publicaram na semana passada o estudo "Controle de Capitais: Um Bem Necessário?", onde debatem a necessidade de se começar a "blindar" a política econômica contra movimentos de capital.
"As diferentes formas de controle possibilitam mais autonomia na gestão das políticas macroeconômicas, conferindo uma maior independência diante dos mercados financeiros de curto prazo", diz a economista Simone Silva de Deos, umas das autoras do trabalho.
Ela avalia que o controle permite reduzir a volatilidade do câmbio, seja limitando uma valorização em fase de liquidez, seja reduzindo as pressões de desvalorização em momentos de crise.
"Os controles tendem ainda a melhorar as condições de financiamento da dívida pública, permitem evitar perdas de competitividade associadas à valorização cambial e limitam a exposição de bancos e empresas aos riscos inerentes ao endividamento externo de curto prazo", diz Simone.
Controles de capital ainda ajudariam no gerenciamento da inflação, prevenindo o repasse para os preços domésticos de uma desvalorização cambial, via custos de insumos dolarizados ou contratos indexados indiretamente ao câmbio, diz André Martins Biancareli, outro autor do estudo.
A questão causa polêmica entre os economistas. O principal argumento de quem defende a livre movimentação do dinheiro é o de que a mobilidade do capital encoraja o aumento dos investimentos e assegura um crescimento econômico mais rápido.
Um dos maiores defensores da liberalização, Stanley Fischer, ex-vice-diretor-gerente do FMI e atual presidente do Citigroup International, diz que os benefícios da ausência de controle de capital compensam os custos em potencial. No relatório "Liberalização de Conta de Capital e o Papel do FMI", de 1997, Fischer diz que "o livre movimento ajuda a canalizar os recursos de uma maneira mais eficiente, aumentando o bem-estar e o crescimento econômico".
Na opinião do economista-chefe do Deutsche Bank, José Carlos de Faria, quanto menos controle, melhor. "Os controles são um instrumento artificial para estabilizar o câmbio em países com problemas de política monetária e fiscal. Caso contrário, não há necessidade de implementá-los", diz.
O economista Pérsio Arida, no texto "Por uma moeda plenamente conversível", de 2003, diz que, "se tivéssemos plena conversibilidade, afastando o risco de introdução de controles cambiais por via administrativa, teríamos menores taxas de juros em dólares nos títulos de longo prazo no exterior e, por conseqüência, menores taxas de juros em reais".


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