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LUÍS NASSIF
Por dentro da operação Daslu
A crise Daslu e a crise PT
têm um ponto em comum:
o início do trabalho profissional integrado entre Polícia Federal, Ministério Público e Secretaria da Receita Federal. A
partir do momento em que se
apertou o torniquete sobre doleiros e esquemas "offshore", tirou-se o oxigênio do submundo
político e empresarial.
Alguns detalhes de como foi
montada a operação Daslu demonstram o profissionalismo
da ação.
Os funcionários da Receita e
da Polícia Federal foram convocados na sexta-feira, dia 8.
Os técnicos achavam que seria
uma ação contra sacoleiros em
Foz do Iguaçu. Na segunda-feira, às 17h, ficaram sabendo que
deveriam levar paletó e gravata. Pensaram em pente fino no
aeroporto de Cumbica, em
Guarulhos.
Às 16h do dia 12, chegaram ao
auditório da Superintendência
da SRF, na avenida Prestes
Maia. O superintendente avisou que iriam imediatamente
para Guarulhos e ficariam hospedados no Ibis.
No jantar, foram informados
de que deveriam estar prontos
para partir às 2h30 (madrugada). Saíram em 30 carros e foram para a sede da PF em São
Paulo, em um auditório em que
se encontravam os 240 delegados e agentes da instituição. Os
superintendentes da PF e da
SRF e o procurador informaram que a operação se chamava Narciso e que iria desmontar o esquema Daslu. Avisaram
que anteciparam a operação
em razão de vazamento de informação e de haver muita
gente influente envolvida.
As equipes foram montadas
com um delegado da PF, dois
ou três agentes da PF (com submetralhadoras), um ou mais
auditores da SRF e o motorista.
Em cada equipe, o delegado recebeu um kit com os mandados
e os termos necessários; o auditor da SRF recebeu uma pasta
mostrando todo o esquema
fraudulento e indicando os documentos de interesse para
apreensão. Só aí souberam os
endereços a serem investigados.
Não houve abusos, relata um
auditor. Os agentes não apontaram arma para ninguém,
ninguém humilhou qualquer
pessoa. "Recebemos ordens para agir discretamente e fomos
educados. Os auditores da SRF
receberam ordens para não dar
entrevistas. Tanto é que tinha
gente que saía da loja e nem
havia percebido a nossa presença", conta ele.
Esquema
Segundo o relato desse auditor, o esquema Daslu, na verdade, funcionava assim:
1) A empresa de Miami comprava o vestido por US$ 1.000 e
exportava com notas de importadoras de fachada por US$ 100.
2) A importadora de fachada
pagava os impostos no desembaraço no valor da nota subfaturada e repassava para a Daslu
praticamente sem margem de
lucro. Não pagava nenhum tributo (exceto os do desembaraço). Depois de 12 ou 14 meses, fechava as portas com prejuízos.
3) Na loja, o tal vestido era
vendido por valor equivalente a
US$ 4.000 e era emitida nota fiscal. Porém duas das três equipes
que foram ao endereço antigo
encontraram caixas que continham notas fiscais de venda de
2004 e de 2005 com todas as
vias, inclusive as do fisco, além
de outros documentos importantes (fluxogramas de operação), escondidos em caixas, com
a palavra "Incinerar".
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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