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Lula pressiona banco federal por juro menor
Com apoio de ministros, presidente-candidato quer que as instituições reduzam as taxas cobradas em empréstimos
Pressão do governo gera
desconforto entre os
dirigentes dos bancos
oficiais e alguns membros
do Ministério da Fazenda
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressiona os bancos
federais, nos bastidores, a baixar as taxas de juros cobradas
nos empréstimos aos seus
clientes. A determinação tem
causado um desconforto na
área econômica.
Embora a economia seja um
dos trunfos eleitorais de Lula, o
governo enfrenta desgastes
com as taxas de juros, o câmbio
sobrevalorizado e a crise na
agricultura.
Nos dois últimos casos, ontem foi ampliado o seguro-desemprego para setores prejudicados pelo dólar barato, enquanto o BNDES anunciou
mais prazo para as dívidas rurais (leia textos nesta página).
As instituições financeiras
oficiais, tendo à frente o Banco
do Brasil -a única que não é
100% da União e tem ações negociadas na Bolsa-, ainda resistem a reduzir o custo dos financiamentos "na canetada".
O argumento defendido por
técnicos do Ministério da Fazenda é que isso gera perdas de
receitas que afetarão o desempenho dos bancos e não há garantia de que isso será compensado com o aumento do volume
de crédito.
O tema tem sido a pauta de
várias reuniões recentes com
Lula. Ontem, os dirigentes dos
bancos públicos foram convocados para mais uma rodada de
conversas. Durante as mais de
três horas de reunião, os executivos ouviram novo pedido de
Lula.
"O presidente reiterou o esforço no sentido de que os
spreads [diferença entre juros
cobrados nos empréstimos e o
pago às aplicações] bancários
sejam revistos", afirmou ao final do encontro Roberto Smith,
presidente do Banco do Nordeste (BNB). Segundo ele, "o
tempo todo" o presidente falou
nesse assunto.
"O pedido é para que isso seja
conduzido dentro do equilíbrio
das contas das instituições", explicou, destacando ainda que a
orientação é ampliar investimentos produtivos. No entanto, reconheceu que o tema é delicado. "O assunto é complicado. Noto o esforço do presidente Lula e da ministra Dilma
[Rousseff, da Casa Civil] no
sentido de que o país não seja
recordista em termos de taxa
de juros e spreads bancários".
O secretário-executivo do
Ministério da Fazenda, Bernard Appy, abriu o encontro,
que teve também a presença do
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, no primeiro dia em que os diretores da
instituição discutem se farão
um novo corte da taxa básica
dos juros, a Selic. Appy fez uma
longa exposição sobre a evolução dos juros e dos spreads bancários no país. Depois foi aberta
a discussão.
Fundos constitucionais
Uma alternativa para satisfazer o presidente, mas que ainda
faz muita gente no governo torcer o nariz, é diminuir os juros
nas linhas de financiamento
que usam recursos dos fundos
constitucionais.
Criados em 1989, esses fundos têm o objetivo de promover
o desenvolvimento produtivo
nas regiões Norte (FNO), Nordeste (FNE) e Centro-Oeste
(FCO), dando preferência para
pequenos produtores rurais e
micro e pequenas empresas
que usam muita mão-de-obra.
Desde 2001, com mudanças
em suas normas, esses fundos
podem financiar também obras
privadas de infra-estrutura. E
aí entram projetos de energia,
telecomunicações, transporte e
abastecimento de gás e redes de
esgoto.
Esses setores têm merecido
atenção especial do governo
porque empregam muita mão-de-obra e têm repercussão sobre toda a economia local, gerando dividendos políticos para campanha lulista.
A idéia apresentada na reunião de ontem pelo presidente
do Banco do Nordeste (BNB),
Roberto Smith, é criar uma forma para que o custo dos empréstimos com recursos dos
fundos constitucionais seja reduzido automaticamente toda
vez que a TJLP (Taxa de Juros
de Longo Prazo) cair. A TJLP é
a taxa que serve de referência
para as operações do BNDES.
"Os fundos constitucionais
estão em desvantagem em relação ao BNDES", disse Smith,
ressaltando que, na região Nordeste, o custo desses financiamentos pode chegar a 14% ao
ano, contra 7,5% da TJLP. Os
empréstimos do BNB com dinheiro do FNE somam R$ 13
bilhões, mais de 70% da carteira de crédito de R$ 18 bilhões.
Neste ano, o BNB pretende emprestar R$ 8 bilhões -R$ 5 bilhões por meio do FNE.
Smith explicou ainda que,
pelas regras em vigor, a taxa dos
empréstimos desses fundos só
pode acompanhar automaticamente a TJLP se a variação
dessa taxa superar 30%. "O legislador estava preocupado
com o empresário quando fez
essa lei, porque ela o protege no
caso de alta", explicou.
Apoio de ministros
Segundo a Folha apurou, a
área econômica já está consciente de que dificilmente os
bancos oficiais conseguirão
sair dessa situação sem oferecer alguma proposta que satisfaça o presidente Lula. Nessa
disputa, ele conta com integral
apoio dos ministros de peso e
que, ontem, estavam estrategicamente sentados na bancada
em frente aos dirigentes dos
bancos públicos.
À esquerda de Lula, estavam
os ministros Dilma Rousseff
(Casa Civil), Guido Mantega
(Fazenda), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), além
dos secretários do Ministério
da Fazenda, Júlio Sérgio Almeida (Política Econômica) e
Bernard Appy (secretário-executivo).
Do outro lado da bancada estavam os presidentes dos bancos oficiais e o ministro Paulo
Bernardo (Planejamento).
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