São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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ROGER AGNELLI

Investimento é sagrado


A escolha certa é a que vai afiançar o crescimento futuro e não a que produz apenas um sopro de curto prazo

HÁ DOIS ANOS vivi uma experiência interessante. Saía de Nova Caledônia em direção a Dalian, na China. Como chegaria de madrugada e o aeroporto já estaria fechado, pedi permissão para pousar fora do horário, e obtive. Tive uma surpresa ao ver o governador da Província na pista, à minha espera. Ele acompanhou-me até o hotel e, no caminho, mostrou-me investimentos realizados na região. Impressionante. No dia seguinte, visitei uma fábrica que a Vale construía com prazo e custos menores do que os orçados. A fábrica hoje está rodando e é lucrativa. No final da visita, o gerente-geral da obra fez a pergunta: "O senhor gostou?". Respondi que sim. Ele devolveu: "Se o senhor gostou, vai investir mais aqui".
Temos de adotar no Brasil a atitude do governador e do gerente: atrair e incentivar investimentos.
Diante dos desafios atuais, as empresas devem promover ajustes, economizando para manter operações e investimentos, sem comprometer a saúde financeira. A meu ver, isso lhes permitirá sair melhor da crise.
Vejamos o exemplo da empresa que dirijo, a Vale. Nossas prioridades são preservar a saúde financeira e continuar investindo. Buscamos reduzir, com criatividade, custos de implantação, mantendo milhares de empregos no Brasil e no mundo. Os governos não podem ser diferentes:
têm de economizar onde for possível, acelerar processos de licenciamento e contratação, aplicar investimentos que alavanquem a produção -como energia e infraestrutura de transportes e portos-, gerando emprego e renda. Infraestrutura é prioridade. Incluam-se aí educação, saúde e segurança. Assim, o futuro é mais viável para o crescimento.
O investimento garante a sustentabilidade do crescimento e a melhoria de vida das pessoas. A ideia está na encíclica do papa Bento 16, "A Verdadeira Caridade", que não condena o capitalismo nem o lucro; reconhece que geram desenvolvimento e propiciam condições melhores de existência. Investimentos têm de ser completados, respeitando-se o ambiente.
O processo não é fácil. Às vezes, para atingir o longo prazo, precisamos sacrificar o curto prazo. É um erro gerar despesas com olhos no bem-estar imediato. Um país não tem data para terminar; temos de trabalhar com o longo prazo. Gerar despesas sem garantias de novas receitas reduz o crescimento e compromete a sustentabilidade. Para o curto prazo, a solução é deixar mais renda nos agentes econômicos, reduzindo-se os tributos.
Na gestão das empresas e do país podemos aplicar a máxima que adotamos para nossas vidas: tudo é questão de prioridade. O prerrequisito é definir o alvo. A meta das empresas é garantir a sustentabilidade.
A do país deve ser o bem-estar das pessoas, a sustentabilidade da sociedade. O Brasil está numa posição privilegiada, por ter opções. A escolha certa é a que vai afiançar o crescimento futuro e não a que produz apenas um sopro de curto prazo.
Nesse contexto, o investimento é sagrado. Devem ser apoiadas, com ideias e ações, as iniciativas que o governo brasileiro vem adotando nessa direção para acelerar os investimentos. No meu modo de ver, isso é sustentabilidade.


ROGER AGNELLI, 50, economista e diretor-presidente da Vale, escreve neste espaço a cada quatro semanas.


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