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Trabalhadoras buscam registro formal e benefícios
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Antônia de Maria Lima Farias trabalha como doméstica
que dorme no emprego desde
2005, quando, ainda adolescente, saiu de Fortaleza e desembarcou sozinha em São
Paulo. Hoje, com 20 anos, já teve cinco empregos -cinco casas e patrões diferentes.
"A primeira patroa era muito
legal, mas a segunda, muito falsa. O terceiro era um patrão
maravilhoso. A quarta era uma
senhora muito boa com uma filha muito chata. E a quinta queria me escravizar", resume.
Desempregada desde fevereiro, Antônia procura outra
casa em que possa morar e trabalhar. "Compensa dormir no
emprego porque não é fácil pagar aluguel e manter uma casa
sozinha aos 20 anos." Sem direito a seguro-desemprego
porque a última empregadora
não fez depósitos do FGTS por
15 meses, condição para pedir o
benefício para o governo, vive
com a ajuda de uma amiga.
Anadeje dos Santos, 33, também reclama das condições
desse tipo de emprego, em que
a jornada de trabalho se estende pelo dia e pela noite. "Se você dorme no emprego, o expediente acaba às 18h, mas depois
ainda tem que tirar a mesa, trocar a patroa e dar remédio. Tudo isso não conta como hora
extra. Acho que devia contar."
Ao contrário de Antônia, que
se candidata só para vagas que
exijam a permanência durante
a noite, Anadeje prefere outro
tipo de emprego. "Todo mundo
é capaz de exercer qualquer
função, desde que se dedique."
Mas, por ora, continua fazendo
também as entrevistas para
trabalhar como doméstica e,
mesmo morando com o companheiro, ela se dispõe a deixar
sua casa e dormir no emprego
se o salário for bom.
"Já dormi muito no trabalho,
mas comecei a trabalhar em firma e parei de dormir", diz Carmelita Rodrigues de Oliveira,
34, que está desempregada e
tem experiência em companhias terceirizadas de limpeza.
Carmelita destaca que é mais
vantajoso trabalhar para uma
empresa que para uma família.
"A firma dá mais direitos. Existe a lei, mas, na prática, quem
trabalha em casa de família não
tem muitos benefícios."
Os dados do IBGE mostram
que, em 2007, existiam 6,3 milhões de mulheres com no mínimo 10 anos que atuavam como domésticas, das quais
73,46% trabalhavam sem carteira assinada, percentual ligeiramente melhor que os 75,06%
registrados em 2004.
João Donadon, diretor do
Regime Geral da Previdência
Social, admite que a formalização do emprego doméstico no
país avança lentamente. "A
gente percebe um claro movimento ascensional de formalização, mas [a taxa] progride aos
pouquinhos."
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