São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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Trabalhadoras buscam registro formal e benefícios

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Antônia de Maria Lima Farias trabalha como doméstica que dorme no emprego desde 2005, quando, ainda adolescente, saiu de Fortaleza e desembarcou sozinha em São Paulo. Hoje, com 20 anos, já teve cinco empregos -cinco casas e patrões diferentes.
"A primeira patroa era muito legal, mas a segunda, muito falsa. O terceiro era um patrão maravilhoso. A quarta era uma senhora muito boa com uma filha muito chata. E a quinta queria me escravizar", resume.
Desempregada desde fevereiro, Antônia procura outra casa em que possa morar e trabalhar. "Compensa dormir no emprego porque não é fácil pagar aluguel e manter uma casa sozinha aos 20 anos." Sem direito a seguro-desemprego porque a última empregadora não fez depósitos do FGTS por 15 meses, condição para pedir o benefício para o governo, vive com a ajuda de uma amiga.
Anadeje dos Santos, 33, também reclama das condições desse tipo de emprego, em que a jornada de trabalho se estende pelo dia e pela noite. "Se você dorme no emprego, o expediente acaba às 18h, mas depois ainda tem que tirar a mesa, trocar a patroa e dar remédio. Tudo isso não conta como hora extra. Acho que devia contar."
Ao contrário de Antônia, que se candidata só para vagas que exijam a permanência durante a noite, Anadeje prefere outro tipo de emprego. "Todo mundo é capaz de exercer qualquer função, desde que se dedique." Mas, por ora, continua fazendo também as entrevistas para trabalhar como doméstica e, mesmo morando com o companheiro, ela se dispõe a deixar sua casa e dormir no emprego se o salário for bom.
"Já dormi muito no trabalho, mas comecei a trabalhar em firma e parei de dormir", diz Carmelita Rodrigues de Oliveira, 34, que está desempregada e tem experiência em companhias terceirizadas de limpeza. Carmelita destaca que é mais vantajoso trabalhar para uma empresa que para uma família. "A firma dá mais direitos. Existe a lei, mas, na prática, quem trabalha em casa de família não tem muitos benefícios."
Os dados do IBGE mostram que, em 2007, existiam 6,3 milhões de mulheres com no mínimo 10 anos que atuavam como domésticas, das quais 73,46% trabalhavam sem carteira assinada, percentual ligeiramente melhor que os 75,06% registrados em 2004.
João Donadon, diretor do Regime Geral da Previdência Social, admite que a formalização do emprego doméstico no país avança lentamente. "A gente percebe um claro movimento ascensional de formalização, mas [a taxa] progride aos pouquinhos."


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