São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2007

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Alta do dólar poderá ameaçar a inflação

Analistas acreditam que moeda em R$ 2,15 por tempo prolongado compromete meta de 4,5% do BC para o ano que vem

Com a turbulência, cotação subiu a R$ 2,094 na semana passada e depois recuou; câmbio tem sido principal aliado para segurar preços

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os desdobramentos da crise financeira mundial desencadeada por problemas no setor imobiliário norte-americano fizeram, na semana passada, a cotação do real diante do dólar se aproximar do patamar considerado de risco para inflação.
Nos cálculos de especialistas, uma taxa de câmbio acima de R$ 2,15 por um tempo prolongado compromete a meta de 4,5% para o ano que vem e deverá gerar uma revisão das expectativas, atualmente em 4%.
A turbulência verificada nos mercados financeiros fez com que a taxa de câmbio chegasse, na quinta-feira, a R$ 2,094, alta de 3,15%. Apesar do recuo na sexta, quando fechou a R$ 2,025, e da atuação do Fed (o BC dos EUA), reduzindo a taxa de juros nos empréstimos de socorro aos bancos, as dúvidas sobre o futuro persistem.
Até quinta, o governo brasileiro mantinha uma posição de certo conforto por crer que ainda existe espaço para a desvalorização do real antes que ele se torne uma ameaça ao controle dos preços. Mas, com os eventos da última semana, surgiram diagnósticos diferentes.
Parte da equipe econômica aposta que a crise não irá durar muito tempo e que a desvalorização do real agora pode até ajudar a amortecer os danos que uma queda no preço das commodities poderia trazer às exportações. O dólar, nesse cenário, minimizaria a contaminação da economia real via empresas exportadoras de commodities. Guido Mantega (Fazenda) tem reforçado esse discurso publicamente.
Outra corrente mantida na Fazenda e no BC teme que uma pressão prolongada da taxa de câmbio contamine as expectativas de inflação e ressalta a importância de uma ação coordenada do governo para evitar sinalizações desencontradas.
Diante desse quadro de incertezas, a equipe econômica já admite a possibilidade de fazer um superávit primário maior neste ano, elevando o volume de recursos destinados ao pagamento de juros da dívida pública. Existe ainda a possibilidade de serem adotadas medidas na área monetária.
Os modelos matemáticos desenvolvidos pelo banco JP Morgan e pela consultoria Tendências -tentando reproduzir o que serve de base para o BC tomar as suas decisões- apontam que, se a taxa de câmbio se mantiver acima de R$ 2,15, a inflação ultrapassará o centro da meta de 4,5% no ano que vem. Isso poderá afetar as decisões sobre a trajetória da taxa de juros nas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) neste ano.
Como há uma defasagem entre a fixação da taxa de juros e o efeito dela na economia, que pode demorar até seis meses, as decisões do BC nas próximas três reuniões do Copom (setembro, outubro e dezembro) já levarão em conta muito mais a estimativa para 2008 do que para este ano.

Ameaça
Nos últimos dois anos, o câmbio foi o principal aliado do governo no controle da inflação. Agora, a crise internacional pode transformá-lo numa ameaça. Desde 2005, a valorização do real atormenta os exportadores, pois reduz o ganho deles em reais, e é motivo de alegria para a equipe econômica por mostrar efeitos mais satisfatórios no controle da inflação que os da taxa de juros.
Considerando a taxa de câmbio média do final de 2004 (R$ 2,80) e a do mesmo período de 2006 (R$ 2,15), houve uma valorização de 23% do real. Isso, diz o economista Caio Megale, da Mauá Invest, representou quase dois pontos percentuais a menos na inflação.


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