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Alta do dólar poderá ameaçar a inflação
Analistas acreditam que moeda em R$ 2,15 por tempo prolongado compromete meta de 4,5% do BC para o ano que vem
Com a turbulência, cotação subiu a R$ 2,094 na semana passada e depois recuou; câmbio tem sido principal aliado para segurar preços
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os desdobramentos da crise
financeira mundial desencadeada por problemas no setor
imobiliário norte-americano
fizeram, na semana passada, a
cotação do real diante do dólar
se aproximar do patamar considerado de risco para inflação.
Nos cálculos de especialistas,
uma taxa de câmbio acima de
R$ 2,15 por um tempo prolongado compromete a meta de
4,5% para o ano que vem e deverá gerar uma revisão das expectativas, atualmente em 4%.
A turbulência verificada nos
mercados financeiros fez com
que a taxa de câmbio chegasse,
na quinta-feira, a R$ 2,094, alta
de 3,15%. Apesar do recuo na
sexta, quando fechou a R$
2,025, e da atuação do Fed (o
BC dos EUA), reduzindo a taxa
de juros nos empréstimos de
socorro aos bancos, as dúvidas
sobre o futuro persistem.
Até quinta, o governo brasileiro mantinha uma posição de
certo conforto por crer que ainda existe espaço para a desvalorização do real antes que ele se
torne uma ameaça ao controle
dos preços. Mas, com os eventos da última semana, surgiram
diagnósticos diferentes.
Parte da equipe econômica
aposta que a crise não irá durar
muito tempo e que a desvalorização do real agora pode até
ajudar a amortecer os danos
que uma queda no preço das
commodities poderia trazer às
exportações. O dólar, nesse cenário, minimizaria a contaminação da economia real via empresas exportadoras de commodities. Guido Mantega (Fazenda) tem reforçado esse discurso publicamente.
Outra corrente mantida na
Fazenda e no BC teme que uma
pressão prolongada da taxa de
câmbio contamine as expectativas de inflação e ressalta a importância de uma ação coordenada do governo para evitar sinalizações desencontradas.
Diante desse quadro de incertezas, a equipe econômica já
admite a possibilidade de fazer
um superávit primário maior
neste ano, elevando o volume
de recursos destinados ao pagamento de juros da dívida pública. Existe ainda a possibilidade
de serem adotadas medidas na
área monetária.
Os modelos matemáticos desenvolvidos pelo banco JP
Morgan e pela consultoria Tendências -tentando reproduzir
o que serve de base para o BC
tomar as suas decisões- apontam que, se a taxa de câmbio se
mantiver acima de R$ 2,15, a inflação ultrapassará o centro da
meta de 4,5% no ano que vem.
Isso poderá afetar as decisões
sobre a trajetória da taxa de juros nas próximas reuniões do
Copom (Comitê de Política
Monetária do BC) neste ano.
Como há uma defasagem entre a fixação da taxa de juros e o
efeito dela na economia, que
pode demorar até seis meses, as
decisões do BC nas próximas
três reuniões do Copom (setembro, outubro e dezembro)
já levarão em conta muito mais
a estimativa para 2008 do que
para este ano.
Ameaça
Nos últimos dois anos, o
câmbio foi o principal aliado do
governo no controle da inflação. Agora, a crise internacional pode transformá-lo numa
ameaça. Desde 2005, a valorização do real atormenta os exportadores, pois reduz o ganho
deles em reais, e é motivo de
alegria para a equipe econômica por mostrar efeitos mais satisfatórios no controle da inflação que os da taxa de juros.
Considerando a taxa de câmbio média do final de 2004 (R$
2,80) e a do mesmo período de
2006 (R$ 2,15), houve uma valorização de 23% do real. Isso,
diz o economista Caio Megale,
da Mauá Invest, representou
quase dois pontos percentuais
a menos na inflação.
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