São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2007

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BC deve reduzir a queda dos juros, diz Kawall

IURI DANTAS
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise dos mercados internacionais terá força suficiente para reduzir, mas não interromper, a queda da taxa de juros no Brasil. A incerteza ainda não permite fazer prognósticos, mas é possível dizer que o país não terá dificuldades para financiar sua dívida, auxiliado pela alta na cotação do dólar.
A avaliação do cenário econômico após a semana de turbulências nos mercados internacionais foi feita à Folha na sexta-feira por Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro Nacional na gestão do ministro Guido Mantega (Fazenda).
Na opinião dele, o ambiente econômico doméstico pesará mais na avaliação do Comitê de Política Monetária do Banco Central, que deve cortar a Selic em 0,25 na próxima reunião, metade do corte da última.
Para Kawall, sócio da Rio Bravo Investimentos, os investidores estrangeiros representam apenas 4,5% do estoque da dívida pública do país, o que indica menor vulnerabilidade se houver aumento da aversão aos mercados emergentes. Leia os principais trechos.

 

FOLHA - Qual a sua avaliação sobre a crise de liquidez?
CARLOS KAWALL
- Não temos hoje certeza sobre a extensão do tempo e a dimensão da crise. Não há como dizer que vai ser uma coisa muito mais grave e, por outro lado, não há elementos para dizer que o pior já passou. Precisa ser monitorado. Um contraponto importante é que o viés da economia global, até em termos de política monetária, era mais restritivo. Um cenário em que a economia global vinha relativamente bem em termos de crescimento. Caso haja um agravamento da crise, de indicação de efeito no setor real, a resposta natural seria as políticas monetárias recuarem desse viés pró-restrição e buscarem, via queda de taxa de juros, uma situação financeira mais saudável.

FOLHA - No curto prazo, como deve agir o Banco Central?
KAWALL
- Hoje acho que, com a incerteza, o cenário de [corte de] 0,25 [ponto percentual] é o mais provável. E não penso que isso mudou pela crise, porque o Brasil continua em situação favorável. A decisão deve se basear em fatores domésticos. O Brasil cada vez mais está começando a parecer uma economia normal e estável onde crescimento menor é igual a juro menor. Se a economia global está crescendo bastante, e nós também, e discutimos a redução do ritmo, em outra situação podemos discutir com bancos centrais a necessidade de cortes adicionais de juros para enfrentar uma crise de financiamento externo porque temos uma balança superavitária.

FOLHA - Há necessidade de elevar o superávit de forma preventiva?
KAWALL
- Não, hoje não seria favorável a isso. Desde a época em que estive no Tesouro, acho que o superávit primário é adequado. Havendo espaço fiscal, a melhor saída seria desonerar. Neste contexto de desvalorização do dólar, a dívida pública hoje cai. O governo virou a grande instituição comprada em dólar [que aposta na alta da moeda]. Com todo esse excesso que as contas externas geraram, o governo absorveu o que estava sobrando. Num contexto como esse, teríamos uma queda na relação dívida/PIB. Antes era o contrário.

FOLHA - O governo teme desvalorização das commodities. As empresas brasileiras têm capital para agüentar o tranco?
KAWALL
- Os cenários de crescimento global ainda são positivos para as commodities. Até onde eu sei, as empresas brasileiras que se beneficiaram do ciclo estão em melhor situação financeira, mais capitalizadas, e nos últimos anos aproveitaram para reduzir níveis de endividamento. Não vejo nenhum impacto maior sobre essas empresas. Certamente são as mais bem preparadas para uma desaceleração global.

FOLHA - A fuga de estrangeiros prejudica o financiamento do Tesouro Nacional?
KAWALL
- Não é apenas questão do estrangeiro, até porque tem papel muito pequeno no financiamento da nossa dívida, algo como 4,5%. A base de financiamento da dívida é e será aqui dentro, não me preocupo com o Tesouro. As condições são melhores do que quando eu estava lá e eram boas.


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