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BC deve reduzir a queda dos juros, diz Kawall
IURI DANTAS
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A crise dos mercados internacionais terá força suficiente
para reduzir, mas não interromper, a queda da taxa de juros no Brasil. A incerteza ainda
não permite fazer prognósticos, mas é possível dizer que o
país não terá dificuldades para
financiar sua dívida, auxiliado
pela alta na cotação do dólar.
A avaliação do cenário econômico após a semana de turbulências nos mercados internacionais foi feita à Folha na sexta-feira por Carlos Kawall,
ex-secretário do Tesouro Nacional na gestão do ministro
Guido Mantega (Fazenda).
Na opinião dele, o ambiente
econômico doméstico pesará
mais na avaliação do Comitê de
Política Monetária do Banco
Central, que deve cortar a Selic
em 0,25 na próxima reunião,
metade do corte da última.
Para Kawall, sócio da Rio
Bravo Investimentos, os investidores estrangeiros representam apenas 4,5% do estoque da
dívida pública do país, o que indica menor vulnerabilidade se
houver aumento da aversão aos
mercados emergentes. Leia os
principais trechos.
FOLHA - Qual a sua avaliação sobre
a crise de liquidez?
CARLOS KAWALL - Não temos hoje certeza sobre a extensão do
tempo e a dimensão da crise.
Não há como dizer que vai ser
uma coisa muito mais grave e,
por outro lado, não há elementos para dizer que o pior já passou. Precisa ser monitorado.
Um contraponto importante
é que o viés da economia global,
até em termos de política monetária, era mais restritivo. Um
cenário em que a economia global vinha relativamente bem
em termos de crescimento.
Caso haja um agravamento
da crise, de indicação de efeito
no setor real, a resposta natural
seria as políticas monetárias
recuarem desse viés pró-restrição e buscarem, via queda de
taxa de juros, uma situação financeira mais saudável.
FOLHA - No curto prazo, como deve
agir o Banco Central?
KAWALL - Hoje acho que, com a
incerteza, o cenário de [corte
de] 0,25 [ponto percentual] é o
mais provável. E não penso que
isso mudou pela crise, porque o
Brasil continua em situação favorável. A decisão deve se basear em fatores domésticos.
O Brasil cada vez mais está
começando a parecer uma economia normal e estável onde
crescimento menor é igual a juro menor. Se a economia global
está crescendo bastante, e nós
também, e discutimos a redução do ritmo, em outra situação
podemos discutir com bancos
centrais a necessidade de cortes adicionais de juros para enfrentar uma crise de financiamento externo porque temos
uma balança superavitária.
FOLHA - Há necessidade de elevar
o superávit de forma preventiva?
KAWALL - Não, hoje não seria
favorável a isso. Desde a época
em que estive no Tesouro, acho
que o superávit primário é adequado. Havendo espaço fiscal, a
melhor saída seria desonerar.
Neste contexto de desvalorização do dólar, a dívida pública
hoje cai. O governo virou a
grande instituição comprada
em dólar [que aposta na alta da
moeda]. Com todo esse excesso
que as contas externas geraram, o governo absorveu o que
estava sobrando. Num contexto como esse, teríamos uma
queda na relação dívida/PIB.
Antes era o contrário.
FOLHA - O governo teme desvalorização das commodities. As empresas brasileiras têm capital para
agüentar o tranco?
KAWALL - Os cenários de crescimento global ainda são positivos para as commodities. Até
onde eu sei, as empresas brasileiras que se beneficiaram do
ciclo estão em melhor situação
financeira, mais capitalizadas,
e nos últimos anos aproveitaram para reduzir níveis de endividamento. Não vejo nenhum impacto maior sobre essas empresas. Certamente são
as mais bem preparadas para
uma desaceleração global.
FOLHA - A fuga de estrangeiros
prejudica o financiamento do Tesouro Nacional?
KAWALL - Não é apenas questão
do estrangeiro, até porque tem
papel muito pequeno no financiamento da nossa dívida, algo
como 4,5%. A base de financiamento da dívida é e será aqui
dentro, não me preocupo com
o Tesouro. As condições são
melhores do que quando eu estava lá e eram boas.
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