São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-Fed prevê 2ª onda de crise nos EUA

Para ex-diretor William Handorf, turbulência deve avançar no setor imobiliário, atingindo empréstimos a shoppings, escritórios e hotéis

Na opinião de Albert Fishlow, da Universidade Columbia, o Brasil "não é uma ilha", mas passa bem pela crise internacional

Mauricio Lima - 07.ago.08/France Presse
Operadores na BM&F Bovespa; além da Bolsa, é preciso analisar mais indicadores, diz Fishlow

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ex-diretor do Federal Reserve [BC dos EUA] na gestão de Alan Greenspan, William Charles Handorf, disse ontem em São Paulo que está prestes a eclodir uma segunda onda da crise que varreu o setor imobiliário americano. Para Handorf, a crise deve atingir em breve os empréstimos feitos para construção de shopping centers, prédios de escritórios e até hotéis -ou seja, o lado corporativo da construção civil, que cresceu a reboque do boom imobiliário do início da década.
Com as residências norte-americanas, esses setores tiveram uma valorização sem precedentes no preço do metro quadrado nas grandes e nas médias cidades dos EUA. Também foram beneficiados pelos empréstimos fartos e baratos dos bancos e das financeiras, que entraram em colapso após o aumento da inadimplência e a reclassificação geral de risco.
"Vamos ver problemas em outros setores da construção civil, além do residencial. Antecipo que serão os empréstimos para shopping centers, escritórios e hotéis. Não será apenas o setor residencial que terá problemas de crédito nos EUA."
Diretor do Federal Home Loan Bank, uma instituição que atua no crédito imobiliário americano, Handorf afirma que o preço das casas deverá seguir em queda pelo menos por mais um ou dois anos nos EUA.
"Isso vai continuar pressionando o mercado imobiliário em mais um ou dois anos. Os construtores reduziram bastante as obras residenciais, o que afeta o caixa das financeiras que atuam no setor", disse.

Efeito ilha
Para Handorf, outros bancos nos EUA e na Europa terão de assumir prejuízos decorrentes da reprecificação dos investimentos atrelados a créditos do setor imobiliário americano.
"Os EUA são uma economia resiliente, formada por pessoas trabalhadoras. Outros países do mundo vão atrair novas populações e elas precisam de casas. Haverá um novo ciclo, mas, antes de isso acontecer, vamos ver problemas em outros setores, além do residencial."
Por outro lado, Handorf lembra que os bancos poderão, no futuro, recuperar uma fração das perdas contábeis assumidas. Isso porque muitos dos créditos provisionados acabarão sendo recuperados. "O problema é que esse mercado está fechado. Ninguém quer comprar esses papéis, então eles não têm um preço", disse.
Para Albert Fishlow, professor emérito da Universidade Columbia, apesar de "não ser uma ilha", o Brasil passa relativamente bem pela crise nos mercados, mesmo com a recente queda na Bolsa. Ele acredita que o real tem uma valorização de mais de 30%.
"O indicador da Bolsa não é o mais útil para medir como o país passa pela crise. O melhor indicador é o nível de emprego, de investimentos e de exportações. Nenhum país existe como uma ilha. Tem relações com a economia internacional."
Alain Alcouffe, da Escola de Economia de Toulouse, acredita que, se todos esperarem uma recessão, ela virá. "Os países europeus estão mais preocupados com a crise financeira e com essa confusão originada nos EUA. Vejo uma desaceleração longa, que inviabiliza aumentos de juros na Europa. Mas, se não tivermos um cataclismo global, esperamos uma recuperação da economia em algum momento em 2009." "Embora os EUA possam já estar em recessão, há chance grande de não ser duradoura. A prova foi a decisão do Fed de interferir no Bear Stearns e continuar oferecendo liquidez aos bancos", disse Fishlow.


Texto Anterior: Benjamin Steinbruch: Grande Prêmio Brasil
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.