São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Aleluias, juros, cupins e PIB


Velocidade do varejo e da produção industrial continua alta, mas primeiro semestre mostrou que há desaceleração

EM SÃO PAULO , setembro costuma ser a temporada das aleluias, aqueles bichinhos voadores enjoados que invadem lugares iluminados no começo de noites quentes -são cupins de madeira à procura de casa nova. O calor destes dias "enganou" as aleluias, que decolaram da toca antes da hora no calendário humano. A gente tem visto revoadas de aleluias até em julho. Seja devido ao "aquecimento global" ou às "ilhas de calor" da cidade cada vez mais cheia de prédios, o clima engana os bichos, que porém voam quando o calor começa a chegar. As vendas no varejo ou a produção industrial têm mais manhas que os cupins, mas costumam se desacelerar quando a temperatura dos juros sobe. Pelo menos é o que parecem dizer os gráficos e as estatísticas que relacionam tais variáveis. Se os cupins da atividade econômica não aterrissarem sob o calor dos juros, algo bem curioso terá acontecido na natureza da economia (Delfim Netto costuma dizer que, na ciência econômica, os átomos pensam). Há gente dizendo, neste agosto de produção ainda aquecida, que a economia não se desacelerou ou não vai se desacelerar (entre outras afirmações temerárias, como dizer que a queda do preço internacional das commodities já afetou os índices de inflação do consumidor, por exemplo). Aceleração, ou desaceleração, não é o mesmo que velocidade, como a gente vê nas aulas de física da escola. As vendas no varejo e a produção industrial vão bem, mas sua velocidade tem subido cada vez mais devagar. Ou quase nada, caso da indústria, que tem crescido em torno de 6,7% (em 12 meses) desde o início do ano, mas que começou 2007 crescendo no ritmo de quase 3% e terminou o ano a 6%. A economia se desacelerou (vide gráfico das vendas do varejo e da taxa de juros real, com defasagem de nove meses). E não foi por causa do câmbio (que nos "enriqueceu", por ora) ou da "crise mundial". Não se sabe bem se os juros reais de mercado no Brasil afetam a economia em seis meses, um ano ou nove meses, como diz o Banco Central -estatísticos não têm essa confiança dos economistas, e a história real tem suas manhas e novidades. Mas, a julgar pela experiência, trata-se de algo "por aí", e o efeito maior dos juros ainda está por vir. Decerto há "ruídos na relação", ruídos que seguram a influência negativa da alta dos juros de mercado. Os juros do BNDES estão "de graça", e há investimentos enormes e de longo prazo que não serão cancelados a não ser que caia um meteorito. Não se deve, porém, menosprezar a ameaça de meteoritos americanos caírem por aqui. E há coisas que jamais vimos no país, como o crédito crescendo a 30% por vários anos -o que acontece no fim desse arco-íris quando a velocidade da criação de empregos diminui? Por ora, o emprego segue relativamente forte. Mas os dominós da cadeia econômica começaram a cair. De leve. vinit uol.com.br



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