São Paulo, Quinta-feira, 19 de Agosto de 1999
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MERCADOS
Duas medidas tentam atrair capital após venda de moeda não ter impedido que cotação chegasse a R$ 1,90
Dólar dispara e obriga o BC a intervir

da Reportagem Local

da Sucursal de Brasília

O Banco Central interveio no mercado de câmbio ontem, para tentar conter a alta do dólar. Mesmo com a ação, a moeda fechou o dia cotada a R$ 1,905, uma alta de 1,44% em relação a anteontem e o maior valor desde 12 de março.
Foi a primeira vez que o BC interveio diretamente no câmbio desde maio.
Segundo o presidente do BC, Armínio Fraga, a instituição entrou ontem três vezes no mercado de câmbio, mas não vendeu moeda em todas elas. Ele não revelou o quanto gastou (há um limite de cerca de US$ 3 bilhões para intervenção) nem forneceu detalhes das operações.
Segundo operadores de câmbio, as ações do Banco Central ocorreram pela manhã e efetivamente fizeram o valor da moeda recuar (de cerca de R$ 1,904 para R$ 1,885). Mas, à tarde, o mercado teria agido livremente, e o dólar voltou a subir.
Após o fechamento dos negócios, o BC anunciou medidas para estimular o ingresso de dólares no país, para aumentar a oferta de moeda.
Foi eliminada a tributação de 0,5% referente ao IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre capitais especulativos e afrouxada a regra para ingresso de dólares destinados aos exportadores.
Desde o início do dia, o dólar já apresentava tendência de alta. Em apenas dez minutos de negócios, a moeda apresentou valorização de 0,37%.
A fragilidade política do governo foi apontada como o principal fator causador da alta do dólar.
"O presidente (Fernando Henrique Cardoso) não está conseguindo transmitir a credibilidade que tinha no primeiro mandato, passando instabilidade. Ninguém quer manter reservas em reais. Todo mundo procura proteção no dólar", afirmou Mário Battistel, diretor da corretora Novação.
"As pessoas estão procurando fundos cambiais nos bancos e até as pequenas empresas já querem operações de proteção, aumentando a pressão no câmbio", disse Herbert Soares, da Finambrás.
Com muitos compradores e poucos vendedores, a moeda chegou ao pico de R$ 1,908. O BC agiu logo depois.
Fraga disse que as intervenções não tiveram o objetivo de impor um teto para a cotação da moeda, mas corrigir a falta de liquidez (poucas operações de venda).
"O fato de subir ou baixar não quer dizer nada", disse Fraga. "Irrigar o mercado não tem o objetivo de definir a taxa."
"A formação de preços não é boa", disse o diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo.
"O que o BC colocou, o mercado absorveu, revendeu em seguida e ainda teve um lucro", disse João Medeiros, sócio da Pioneer Corretora.


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