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POLÍTICA CAMBIAL
Para economistas, medidas de ontem aliviam câmbio, mas pessimismo do mercado continua
Ação do BC não basta, dizem analistas
Folha Imagem
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Para Loyola, ex-presidente do BC, medidas vão na direção certa |
VANESSA ADACHI
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
As medidas anunciadas ontem
pelo presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, para atrair mais
dólares para o país foram bem recebidas pelo mercado financeiro.
Mas também foram consideradas
insuficientes para amenizar a
pressão sobre a cotação da moeda
norte-americana.
Enquanto houver indefinição
no campo político e econômico, a
cotação do dólar continuará em
alta, dizem os analistas.
"As medidas vão na direção
correta, mas, provavelmente, não
serão suficientes enquanto houver o desconforto em relação a
questões políticas", diz o ex-presidente do BC Gustavo Loyola.
Divisões na base de apoio ao governo, movimento dos ruralistas
para abater dívidas, liminares na
Justiça contra a CPMF e outras
pressões que o Planalto tem sofrido colocam em xeque a realização
das reformas econômicas e o
cumprimento das metas fiscais
acertadas com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Tudo isso tem deixado o mercado financeiro nervoso. Bancos e
empresas estão comprando dólares para se proteger de maiores altas da moeda norte-americana. O
dólar ontem fechou a R$ 1,90, o
maior preço desde 12 de março.
Para injetar mais dólares no
mercado e baixar a cotação, o BC
anunciou duas medidas. Isentou
os investimentos estrangeiros em
renda fixa da cobrança do IOF
(Imposto sobre Operações Financeiras) e alargou o prazo máximo
para contratação de câmbio pelos
exportadores (ACC) de 180 dias
para 360 dias.
"Só essas medidas não quebrarão o pessimismo do mercado. O
que está havendo é um movimento especulativo diante do cenário
conturbado dentro e fora do
país", diz Maurício Zanella, operador de câmbio do Lloyds Bank.
Segundo ele, o governo terá de ser
capaz de gerar fatos políticos e
econômicos para fazer "o país
voltar a andar".
Para o economista-chefe do
Banco Bilbao Vizcaya, Octavio de
Barros, as medidas mostram que
o BC precisa impor limites à variação do câmbio. "A valorização
do dólar é preocupante porque
pode aumentar a inflação e também porque aumenta o endividamento do governo. São restrições
à livre flutuação e não se pode negligenciar isso", afirma ele.
Quando o dólar sobe, o preço
dos importados aumenta e diminui a concorrência. Isso tende a
gerar inflação.
Outro problema é o crescimento da dívida externa do governo e
os débitos no mercado interno
atrelados ao dólar. Segundo Barros, se o dólar permanecer em
torno de R$ 1,90 até dezembro, a
dívida total do governo será R$ 22
bilhões maior do que em um cenário com dólar a R$ 1,75.
A política de redução gradual
dos juros também fica prejudicada pela pressão sobre o câmbio.
Como o governo precisa atrair
dólares, precisa oferecer taxas
atraentes ao investidor estrangeiro. "Se o Fed (BC dos EUA) aumentar os juros, como se espera,
não haverá muito espaço para reduzir a taxa no Brasil", diz Barros.
Segundo Gustavo Loyola, a única coisa que resolverá o problema
do câmbio é uma demonstração
por parte do governo de que tem
condições de garantir o cumprimento das metas fiscais.
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