São Paulo, Quinta-feira, 19 de Agosto de 1999
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POLÍTICA CAMBIAL
Para economistas, medidas de ontem aliviam câmbio, mas pessimismo do mercado continua
Ação do BC não basta, dizem analistas

Folha Imagem
Para Loyola, ex-presidente do BC, medidas vão na direção certa


VANESSA ADACHI
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local

As medidas anunciadas ontem pelo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, para atrair mais dólares para o país foram bem recebidas pelo mercado financeiro. Mas também foram consideradas insuficientes para amenizar a pressão sobre a cotação da moeda norte-americana.
Enquanto houver indefinição no campo político e econômico, a cotação do dólar continuará em alta, dizem os analistas.
"As medidas vão na direção correta, mas, provavelmente, não serão suficientes enquanto houver o desconforto em relação a questões políticas", diz o ex-presidente do BC Gustavo Loyola.
Divisões na base de apoio ao governo, movimento dos ruralistas para abater dívidas, liminares na Justiça contra a CPMF e outras pressões que o Planalto tem sofrido colocam em xeque a realização das reformas econômicas e o cumprimento das metas fiscais acertadas com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Tudo isso tem deixado o mercado financeiro nervoso. Bancos e empresas estão comprando dólares para se proteger de maiores altas da moeda norte-americana. O dólar ontem fechou a R$ 1,90, o maior preço desde 12 de março.
Para injetar mais dólares no mercado e baixar a cotação, o BC anunciou duas medidas. Isentou os investimentos estrangeiros em renda fixa da cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e alargou o prazo máximo para contratação de câmbio pelos exportadores (ACC) de 180 dias para 360 dias.
"Só essas medidas não quebrarão o pessimismo do mercado. O que está havendo é um movimento especulativo diante do cenário conturbado dentro e fora do país", diz Maurício Zanella, operador de câmbio do Lloyds Bank. Segundo ele, o governo terá de ser capaz de gerar fatos políticos e econômicos para fazer "o país voltar a andar".
Para o economista-chefe do Banco Bilbao Vizcaya, Octavio de Barros, as medidas mostram que o BC precisa impor limites à variação do câmbio. "A valorização do dólar é preocupante porque pode aumentar a inflação e também porque aumenta o endividamento do governo. São restrições à livre flutuação e não se pode negligenciar isso", afirma ele.
Quando o dólar sobe, o preço dos importados aumenta e diminui a concorrência. Isso tende a gerar inflação.
Outro problema é o crescimento da dívida externa do governo e os débitos no mercado interno atrelados ao dólar. Segundo Barros, se o dólar permanecer em torno de R$ 1,90 até dezembro, a dívida total do governo será R$ 22 bilhões maior do que em um cenário com dólar a R$ 1,75.
A política de redução gradual dos juros também fica prejudicada pela pressão sobre o câmbio. Como o governo precisa atrair dólares, precisa oferecer taxas atraentes ao investidor estrangeiro. "Se o Fed (BC dos EUA) aumentar os juros, como se espera, não haverá muito espaço para reduzir a taxa no Brasil", diz Barros.
Segundo Gustavo Loyola, a única coisa que resolverá o problema do câmbio é uma demonstração por parte do governo de que tem condições de garantir o cumprimento das metas fiscais.


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