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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Economia mundial
se purga na crise
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
A expressão "queima de capital", associada a crises em que há
destruição em grande escala de
empresas e países, ganhou na semana passada uma expressão
concreta, numérica. Bancos e investidores perderam US$ 350 bilhões, quase metade do PIB brasileiro, apenas ao longo de 1997 e
1998. Os dados foram divulgados
na última sexta-feira pelo "International Institute for Economics"
(IIE), entidade que representa 300
instituições financeiras privadas
do mundo todo.
Mais interessante, no entanto, é
perceber a razão para o "Institute" ter divulgado uma cifra tão
elevada e precisa. Para a organização, seus membros não devem ser
forçados a participar na solução
das crises financeiras. Se derem
alguma contribuição, ela deve ser
caso a caso e voluntária.
É a primeira e mais contundente reação do sistema financeiro
internacional privado às pressões
crescentes, nos últimos dois anos,
feitas pelos organismos financeiros públicos e multilaterais, no
sentido de jogar sobre os especuladores globais uma parcela dos
custos de reestruturação e refinanciamento de dívidas de países
mais pobres e suas empresas.
A resposta é clara, é como se a
entidade dos bancos dissesse:
"também somos vítimas". Em lugar de pagar pelo estrago, os bancos se consideram uma parte do
problema. Parecem ameaçar. Se
forem molestados, a crise volta.
Outra contrapartida desse raciocínio é considerar sempre justificada a socialização de prejuízos, ou seja, a destinação de recursos públicos para o resgate de instituições financeiras falidas ou
que passam por sérias dificuldades. Na prática, é o que se tem verificado tanto na América Latina
quanto no Japão ou nos EUA.
No entanto, o principal economista do IIE, Charles Dallara, afirma que essa ilação não se sustenta. No México, na Coréia do Sul e
no Brasil, ele diz, não houve em
hipótese alguma resgate ("bail
out") de bancos privados pelo setor público. Ele apresentou suas
considerações e o relatório do IIE,
como faz todo ano, antecipando-se às reuniões do FMI e do Banco
Mundial. Tive oportunidade de
assistir a uma de suas apresentações, antes da crise recente nos
emergentes. Na época, ele argumentava que os organismos financeiros multilaterais (leia-se,
crédito público) eram totalmente
desnecessários e que os bancos
poderiam e saberiam, por si mesmos, direcionar de modo racional
seus recursos pelo mundo.
Esse diagnóstico ficou para trás.
Agora o IIE reconhece que seus
membros calcularam mal. E um
dos principais erros, por exemplo
na Rússia, foi acreditar que o governo jamais permitiria uma quebra financeira. Ou seja, fizeram
exatamente o oposto do que Dallara recomendava antes da crise.
Essas contradições ilustram de
modo perverso como o fim da crise na economia mundial ainda está distante. Mesmo os mais ardorosos defensores da auto-suficiência do mercado e das instituições financeiras erraram feio, paradoxalmente por acreditarem
que por trás do mercado havia Estados que os protegeriam em última instância. Agora, invertendo o
raciocínio, sugerem que os Estados deixem os bancos e o mercado em paz, pois já houve perdas
demais.
Recessão nos EUA
O fato é que ninguém sabe ao
certo se as perdas foram suficientes ou se a crise acabou, como sugeriu também na semana passada
o próprio FMI. Na contracorrente, o economista pop Lester Thurow previu nos últimos dias que
os EUA estão às vésperas de uma
profunda recessão. Se ela de fato
vier, os US$ 350 bilhões de perdas
estimadas pelo IIE podem vir a
parecer nada mais que um amargo aperitivo.
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