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LIÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Roma locuta...
LUIZ GONZAGA BELLUZZO
O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial advertem: a livre movimentação
de capitais pode fazer mal à saúde de sua economia. As duas
instituições nascidas em Bretton
Woods, e responsáveis pela formulação do ideário conhecido
como "Consenso de Washington", recomendam cautela aos
países em desenvolvimento que
ainda pretendem avançar no
processo de liberalização da
conta de capitais e do balanço
de pagamentos.
Tais advertências, um tanto
tardias, estão distribuídas nas
páginas dos últimos relatórios
das Comadres de Washington.
São elas o International Capital
Market, o FMI e o World Development Report do Banco Mundial.
A imprensa nativa sempre repercute esses relatórios ao som
de trombetas e fanfarras. Desta
vez não foi diferente, a não ser
pelo ar de espanto e desconforto
da "turma do gargalho", aquela
que mergulhou sem bóia nas
corredeiras da globalização financeira.
Seria exagerado dizer que as
idéias boas não são novas, mas
os relatórios confirmam a suspeita de que muitas idéias velhas podem ser úteis. A certa altura, o World Development Report constata que a "liberalização da conta de capital influencia a estabilidade financeira doméstica porque o investimento
de portifólio pode ser volátil".
Os economistas do Banco
Mundial não atribuem a volatilidade apenas aos erros ou desmandos das políticas econômicas dos países emergentes. Ensina que "o acesso ao mundo financeiro global pode significar
uma maior exposição às mudanças de sentimento dos investidores institucionais nos países
industrializados".
O texto do Banco Mundial
lembra -não apenas na análise, mas no tom e no estilo- os
escritos de Nurkse, Keynes e Viner que tratavam dos problemas
monetários e financeiros dos
anos 20. Questionavam o papel
negativo -para a estabilidade
das economias nacionais- desempenhado pela livre movimentação de capitais.
Keynes observou que, entre as
guerras, o arranjo monetário e
financeiro permitiu a livre remessa e aceitação de fundos de
capitais internacionais por motivos de fuga, especulação ou investimento. Uma grande parte
de tais fluxos deixou de corresponder ao desenvolvimento de
novos recursos. Às vésperas da
Segunda Guerra a degeneração
foi completa e os fundos começaram a sair dos países que tinham balança deficitária na direção daqueles em que a balança era favorável.
Hoje, como naqueles tempos,
os movimentos de capitais vêm
reforçando a supremacia dos
mercados financeiros do país de
moeda dominante. As sucessivas crises das moedas e dos mercados financeiros na periferia
vêm incitando a demanda de
ativos denominados em dólar, a
despeito do crescimento do déficit em transações correntes dos
Estados Unidos.
Os mercados financeiros "internacionalizados" estão permanentemente sujeitos a acidentes graves e essas crises vêm
acarretando ajustamentos intoleráveis para os países de "moeda fraca".
Na última semana um diretor
do Banco Central ameaçou o
país com medidas que anunciam uma progressiva liberalização dos movimentos de capitais e maiores facilidades e garantias para as remessas de rendimentos para o exterior.
A vantagem dos ideólogos e
praticantes do novo e sempre velho liberalismo é que eles estão
dispensados de se submeter ao
teste da experiência. Nada mais
parecido com o pensamento crítico.
Luiz Gonzaga Belluzzo, 57, é professor titular de Economia da Unicamp (Universidade de Campinas). Foi chefe da Secretaria
Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de
São Paulo (governo Quércia).
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