São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crise faz Copom deixar juro em 18%

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central sinalizou que não pretende reduzir os juros no curto prazo, como era esperado desde a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) realizada no mês passado. Ontem, o BC anunciou que manterá a taxa básica em 18% ao ano, mas desistiu de adotar o instrumento chamado de viés de baixa.
O viés de baixa permite que o presidente do BC reduza os juros sem reunião do Copom. O instrumento foi adotado no mês passado, criando a possibilidade de ocorrer um corte na taxa Selic a qualquer momento -o que acabou não acontecendo.
Ontem, o Copom retirou o viés de baixa adotado no mês passado. Isso significa que os juros continuarão em 18% ao ano até o próximo encontro, marcado para os dias 22 e 23 de outubro.
O BC creditou a manutenção dos juros ao "quadro de volatilidade e incerteza" observado atualmente.
O mercado ainda tem dúvidas em relação à política econômica que será adotada no ano que vem pelo novo presidente, fazendo com que investidores busquem proteção no dólar. Uma guerra entre EUA e Iraque teria o efeito imediato de elevar a cotação do petróleo e pressionar a inflação.
Quando os juros caem, também caem os rendimentos das aplicações de renda fixa. Isso estimula o mercado a buscar investimentos mais rentáveis, como o dólar e pressiona o valor da moeda.
A alta do dólar afeta o preço de matérias-primas e produtos importados, o que pode levar a mais inflação. Também para evitar esse repasse, o BC mantém juros elevados para desestimular o consumo, o que reduz o espaço para reajustes de preços.
O efeito colateral dos juros altos recai sobre o crescimento econômico. Com a queda no consumo, as empresas deixam de investir, e a economia pára de crescer. Na opinião de Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Amro Asset Management, a decisão do BC em manter os juros foi acertada, mesmo considerando seu efeito recessivo.
Para Penteado, o controle da inflação é fundamental para criar condições para que a economia cresça de maneira equilibrada. "Com inflação, o crescimento vai para o beleléu", diz. Segundo o economista, foi o que aconteceu nos anos 80, quando o Brasil conviveu com a hiperinflação e a estagnação.
Entre janeiro e agosto, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 4,85%. O mercado projeta que, até o final do ano, a alta chegue a aproximadamente 6,5%, acima da meta fixada pelo governo, que é de 3,5%, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.


Texto Anterior: Pioram os cenários para a economia do país
Próximo Texto: Dólar dá sinal de que parou de "fugir" do país
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.