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"ISSO É LUXO"
Projetos que priorizam a experiência do consumo e mesclam moda, arte, alimentação e música se espalham pelo mundo
Lojas adotam estilo de clubes para vender
FIONA HARKIN
DO "FINANCIAL TIMES"
É 1h em São Paulo, e o barman
me serve um novo martini de lichia, com uma piscadela. Nesse
restaurante subterrâneo, estou
cercada de gente bonita e sofisticada e por palmeiras de três andares de altura plantadas na areia de
uma pequena praia interna.
Ostentando muito estilo e juventude, os paulistanos não portam bolsas com marcas evidentes
e não se identificam por meio de
rótulos de tamanho exagerado. O
barman enfeita meu drinque com
uma orquídea púrpura, e eu respondo com um sorriso. Acho que
peguei o tom do Clube Chocolate.
Não, não estou chapada de doces. Em lugar disso, estou curtindo a atmosfera de festa, em um
restaurante lotado instalado em
uma nova loja especializada em
estilo de vida, aninhada em meio
às elegantes e dispendiosas butiques da rua Oscar Freire.
O Clube Chocolate, um projeto
ousado, em forma de cubo, serve
como exemplo para as lojas conceituais que vêm pipocando em
todo o planeta, de Nova York e
Paris a Bancoc e Dubai.
Atendendo a uma clientela
preocupada com estilo e entediada com as ofertas das ruas genéricas de consumo de luxo, essas lojas exclusivas, de atmosfera semelhante à de um clube noturno,
misturam alta moda e design local
e mesclam produtos como flores,
comida, música e arte.
O resultado é nem tanto uma
pequena loja de departamentos,
mas uma atitude diferente, e quase íntima, para com o consumo de
luxo, voltada aos consumidores
mais exigentes, ávidos por produtos novos e singulares a cada visita, e oferecendo uma experiência
de consumo diversificada, tudo
isso envolto em um ambiente social e esteticamente agradável.
No Clube Chocolate, os produtos, que variam de sapatos Valentino e revistas internacionais de
moda a brinquedos japoneses colecionáveis e acessórios do hotel
Copacabana Palace, do Rio de Janeiro, ficam todos agrupados sob
temas como "romântico", "minimalista" e "natural".
A um continente de distância,
em Dubai, um país que se desenvolve rapidamente, Zayan Ghandour, proprietária de uma loja de
estilo de vida chamada S*uce, tem
um lema para suas compras, a fim
de garantir uma oferta igualmente eclética para seus clientes locais
e expatriados, viciados em compras e despreocupados quanto
aos preços. "Misture e nunca
combine é o nosso mantra", diz.
Ghandour mantém estoques
mínimos e se concentra em "aparelhos" de estilo de vida e em marcas de moda especializadas, como
Essa Kaftans, Tata Naka e Vanessa Bruno, sabendo que seus clientes "não querem mais os produtos que estão disponíveis para que
qualquer um compre".
Outra loja que opta por essa espécie de fluxo sazonal é a Utowa
Creative Consulting Company,
localizada na região do Flatiron
Building, em Nova York, uma loja
conceitual de estilo de vida que se
define como "uma experiência de
varejo que reúne moda, cosméticos e flores para criar uma experiência sensória deslumbrante".
O toque pessoal corre o risco de
desaparecer nos monolíticos
shopping centers de porte imenso
que se oferecem como o futuro do
varejo em Bancoc, uma das cidades em rápido de desenvolvimento que está ansiosa por conquistar
reputação como um centro de
consumo para a Ásia.
No entanto, um empreendedor
do ramo de imóveis, Pornsak Rattanamethanon, criou um ponto
de consumo mais íntimo, chamado H1 Project, que mistura espaços relaxantes com uma variedade de restaurantes e outras lojas
inovadoras. Há uma loja de mobília italiana, uma sorveteria, uma
livraria especializada em arte e design e uma mistura de papelaria e
loja de artigos fotográficos.
Rattanamethanon protesta contra os shoppings e seu clima sanitizado por ar-condicionado. Ele
acredita em uma filosofia de "voltar à natureza", que na prática se
traduz em espaços em forma de L,
cada qual dotado de um jardim.
Essa espécie de varejo que mistura o luxo e componentes orgânicos, em estilo reflexivo, localizado e diversificado, não passou
despercebido entre os grandes
conglomerados de moda.
O grupo Giorgio Armani está
mantendo a estratégia de varejo
de múltiplas marcas, à medida
que se expande, depois de encontrar uma maneira criativa de
construir suas lojas. O Three on
the Bund, o impressionante complexo de lojas que o grupo abriu
em Xangai em abril, combina
uma butique Giorgio Armani,
uma loja Emporio Armani e uma
loja que vende diversas marcas internacionais de moda e estilo de
vida, além da floricultura Armani
Fiori e da doceira Armani Dolci.
A divisão japonesa da Louis
Vuitton também se dedicou a
promover a experiência do luxo e
neste mês abriu a Celux, uma loja,
clube e salão exclusivo para membros, em Tóquio. O que mais se
poderia esperar de uma loja cujo
nome deriva da expressão francesa "c'est luxe" ("isso é luxo")? A
experiência oferecida é propiciar
ao cliente a chance de influenciar
o design de itens exclusivos como
relógios, malas e até um carro
projetado pela Louis Vuitton.
Beber sofisticados coquetéis
após a meia-noite, acompanhado
pelos privilegiados, em uma elegante microloja, envolve mais a
experiência do consumo do que
os produtos mesmos; não estamos falando de lojas de estilo de
vida criadas para promover produtos de uma determinada marca, mas do moderno luxo de uma
vida conduzida pelo design.
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