São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 2006

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Governo vê estagnação na criação de emprego formal

Geração de vagas com carteira neste ano deve ficar igual ou cair em relação a 2005

Em agosto foram abertos 128,9 mil novos postos, puxados por construção civil, extração mineral, indústria e serviços


IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante do fraco resultado do mercado de trabalho formal em agosto, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, previu ontem que a geração de empregos deve fechar o ano com número semelhante ou mesmo menor que o total do ano passado. De boa notícia, o registro do crescimento de vagas pelo oitavo mês consecutivo no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
"O ano passado são números concretos. Neste ano são previsões. No ano passado foi criado 1,253 milhão de vagas. Neste ano, nós acreditamos que ficaremos em torno disso. Podemos ficar um pouco para cima um pouco para baixo", afirmou Marinho.
Durante a campanha eleitoral de 2002, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a dizer que o governo precisaria de 10 milhões de novos empregos nos quatro anos seguintes. Desde janeiro de 2003, quando o petista chegou ao Planalto, foram criadas 4.629.770, de acordo com o ministro do Trabalho.
Na ótica de Marinho, há motivos para celebrar a média de 104 mil novos empregos mensais na gestão Lula, que encontrou um cenário externo extremamente favorável. "Um número bastante significativo, se compararmos com outros períodos da história recente do país", disse Marinho.
No mês passado, foram 128,9 mil novos empregos formais, de acordo com o Caged, uma queda de 4,8% em relação ao mesmo mês do ano passado. Não entram na conta contratações de pessoas jurídicas ou novos servidores públicos -municipais, estaduais ou federais.
Os setores de melhor desempenho foram construção civil, extração mineral, serviços, comércio e indústrias de transformação. A agricultura, devido à entressafra, amargou a perda de 13,7 mil vagas. Um pouco melhor que a redução de 20,5 mil de agosto de 2005.
Marinho tentou também vender otimismo. Setembro seria melhor pelo aumento da produção para o Natal. E a nova Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas provocaria a formalização de empregados no país.

Estagnação
Professor da PUC do Rio de Janeiro e sócio da consultoria Tendências, o economista José Márcio Camargo previu que a geração de novos empregos com carteira assinada está atingindo uma estagnação no país. Em especial, por conta do alto custo dos encargos trabalhistas para as empresas e benefícios relativamente pequenos para o trabalhador que adere à CLT.
"Em algum momento, esse crescimento vai parar. Vai continuar, mas com menos intensidade. É possível que estejamos chegando a esse ponto de estabilização", afirmou.
Dois fatores que poderiam alterar a tendência, segundo Camargo, seriam a nova Lei Geral das Micros, ainda em análise no Senado, e a disseminação do crédito consignado em folha de pagamento, que pode estimular trabalhadores hoje contratados como pessoas jurídicas a buscarem a assinatura da carteira de trabalho.
Para o diretor de Relações do Trabalho da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Dagoberto Godoy, o tímido aumento de novos postos de trabalho turva o diagnóstico de esgotamento de parte da indústria. "Isso representa falta de condições de desenvolvimento da indústria de transformação, mascarado pelo crescimento localizado de alguns setores voltados para a exportação", disse Godoy.


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