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BENJAMIN STEINBRUCH
Viva a eleição!
As medidas na habitação são
um primeiro passo na busca
da expansão de setor vital
para alavancar a economia
O PACOTE de medidas na área
do financiamento imobiliário, baixado na semana passada, foi imediatamente taxado de
"eleitoral". Sem dúvida, é. Qualquer
medida que se tome na área habitacional tem forte impacto na vida
pessoal de milhões de famílias que
sonham com uma moradia própria.
E isso rende votos.
Países que se prezam cuidam do
crédito imobiliário não só porque
atende diretamente a um anseio
elementar das pessoas mas também porque é um dos mais poderosos estimuladores da economia e
da criação de empregos. Não é segredo para ninguém que o crédito
farto e barato alavanca os setores ligados à construção civil e impulsiona o crescimento da economia em
geral.
A Fiesp lançou em agosto, em colaboração com 93 entidades da cadeia produtiva da construção, um
documento elaborado pela FGV
Projetos, com propostas objetivas
para o setor. A principal delas refere-se à necessidade de investimentos governamentais da ordem de
R$ 30 bilhões por ano no próximo
quadriênio. Ao detalhar os efeitos
multiplicadores da construção, o
documento mostrou que, para cada
R$ 10 milhões de investimentos em
construção, são criados cerca de
300 postos de trabalho. Ou seja, ao
longo de quatro anos, seria possível
gerar 3,6 milhões de empregos com
essa iniciativa. O efeito multiplicador de renda dos investimentos no
setor também é elevado. Para cada
R$ 1.000 investidos na construção
formal, são gerados R$ 495 de renda no próprio setor, na forma de salários, rendimentos autônomos, lucros e impostos.
Nada justifica, então, que o país
tenha olhado com tanto desleixo
para essa área durante tanto tempo, embora disponha de importantes instrumentos de captação de recursos, como o Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço e a caderneta
de poupança. Um dado divulgado
na semana passada pela consultoria Accenture mostra que o Brasil
está anos-luz atrás de outros países
em matéria de crédito imobiliário.
Aqui, o volume total de financiamento habitacional representa
apenas 2% do PIB (Produto Interno Bruto), algo em torno de R$ 4,8
bilhões por ano. No México, esse
índice é de 11%. No Chile, de 17%, e,
na Espanha, de 44%.
O exemplo da Espanha deveria
servir de referência. Em 1995, o
crédito habitacional naquele país
representava 17% do PIB. Os espanhóis acharam pouco e, para elevar
o nível aos atuais 44%, lançaram
uma série de estímulos à tomada de
crédito, entre eles a redução dos juros (de 11% para 3% ao ano) e a elevação do prazo de financiamentos.
Transcorridos dez anos, a construção de habitações passou de 230
mil unidades por ano para 640 mil e
houve uma queda drástica no desemprego (de 24% para 11%).
Não se pode ter a pretensão, evidentemente, de esperar que o pacote de medidas da semana passada
venha a alcançar semelhante êxito.
A principal novidade foi a introdução opcional dos juros prefixados
no sistema. Com isso, será possível,
pela primeira vez em mais de 50
anos, comprar uma casa própria e
saber, no ato da assinatura do contrato de financiamento, o valor fixo
da prestação a ser paga durante 15
ou 20 anos.
Se os bancos realmente aderirem
a esse esquema de prefixação, ainda
que a taxa de juros continue elevada (14,5% ao ano, em comparação
com 3,3% na Espanha), estará aberta uma nova fase em matéria de crédito habitacional no país. O sucesso
dela vai depender da crença do sistema na estabilidade econômica de
longo prazo. Caso persistam dúvidas
sobre riscos futuros de desarranjo
inflacionário, o resultado será pífio,
porque os bancos se recusarão a emprestar com juros fixos, por medo de
prejuízos ao longo dos anos vindouros.
De qualquer forma, o conjunto de
medidas mostra que, diferentemente do que ocorreu em mais de uma
década, há um movimento favorável
à reativação do crédito imobiliário.
Certamente as medidas não serão
suficientes para promover uma revolução na área habitacional. Mas
são um primeiro passo na busca da
expansão de um setor vital para alavancar a economia. Um passo eleitoreiro? Viva a eleição!
BENJAMIN STEINBRUCH, 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do
conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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