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Financiamento para casa própria tem alta de 214%
No mês passado, R$ 979,28 milhões foram aplicados com recursos da poupança
Com a taxa básica de juros em 14,25% ao ano, crédito imobiliário é visto como bom negócio para os bancos que cobram TR mais 12%
ANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os financiamentos imobiliários com recursos da caderneta
de poupança cresceram 214,3%
em agosto, na comparação com
igual período de 2005, segundo
a Abecip (Associação Brasileira
das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança). Tanto o
volume financiado no mês -R$
979,28 milhões- como o total
de unidades contratadas
-11.495- são recordes nos últimos dois anos.
"A queda da taxa básica de juros e as mudanças feitas na legislação do crédito imobiliário
desde 2003 tornaram o financiamento à habitação um bom
negócio para os agentes do
SBPE [Sistema Brasileiro de
Poupança e Empréstimo]", diz
Osvaldo Correa Fonseca, diretor-geral da Abecip. "A concessão de financiamentos cresce
há dois anos," acrescenta.
Em janeiro do ano passado,
quando a Selic estava em
19,75% ao ano e o financiamento à habitação pelo SBPE rendia aos bancos 14,4% ao ano
(TR mais juro de 12%), o volume emprestado foi de R$ 275,7
milhões apenas. "Agora a Selic
e a remuneração do crédito
imobiliário estão no mesmo patamar", afirma Fonseca.
Ele lembra que o financiamento começou a deslanchar
depois da lei nš 10.931 de 2003,
que estabeleceu medidas que
dão maior segurança aos bancos e aos compradores de imóveis, como o patrimônio de afetação (que separa as contabilidades da obra e da construtora)
e a alienação fiduciária (que garante a retomada mais rápida
do imóvel em caso de inadimplência).
Além disso, desde 2005 o
CMN (Conselho Monetário
Nacional) exige que os bancos
apliquem em crédito imobiliário 65% dos recursos captados
na caderneta de poupança sob
pena de terem os depósitos recolhidos ao Banco Central com
remuneração de apenas 80% da
TR (1,6% ao ano).
Ao mesmo tempo, flexibilizou a norma ao permitir que as
instituições que financiarem
imóveis no valor de R$ 60 mil a
R$ 80 mil apliquem um multiplicador sobre esse valor, para
atingir os 65% de exigibilidade.
Quanto menor o valor financiado, maior o multiplicador. Parte dos recursos da poupança,
por essa regra, pôde ser destinada à aplicação no mercado financeiro.
O objetivo era estimular o financiamento aos compradores
de menor renda e compensar
os bancos pelo diferencial entre
a taxa básica de juros e a taxa do
crédito imobiliário. "Isso estimulou os bancos a fazer crédito
imobiliário e a competir pelos
clientes", diz Fonseca.
Apesar do crescimento dos
financiamentos, entretanto, o
volume de crédito imobiliário
ainda é baixo -apenas 2% do
PIB (Produto Interno Bruto),
enquanto em outros países
chega a 40% e até 60% do PIB.
"O volume é baixo, pois estamos usando quase exclusivamente recursos da poupança, é
preciso buscar outras fontes de
financiamento", diz Fonseca.
O pacote da habitação, anunciado pelo governo na semana
passada, permitirá consolidar o
crescimento do crédito imobiliário, segundo ele, com o consignado e a prestação prefixada
que embute a TR nos juros.
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