São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 2006

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Financiamento para casa própria tem alta de 214%

No mês passado, R$ 979,28 milhões foram aplicados com recursos da poupança

Com a taxa básica de juros em 14,25% ao ano, crédito imobiliário é visto como bom negócio para os bancos que cobram TR mais 12%
ANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os financiamentos imobiliários com recursos da caderneta de poupança cresceram 214,3% em agosto, na comparação com igual período de 2005, segundo a Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança). Tanto o volume financiado no mês -R$ 979,28 milhões- como o total de unidades contratadas -11.495- são recordes nos últimos dois anos.
"A queda da taxa básica de juros e as mudanças feitas na legislação do crédito imobiliário desde 2003 tornaram o financiamento à habitação um bom negócio para os agentes do SBPE [Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo]", diz Osvaldo Correa Fonseca, diretor-geral da Abecip. "A concessão de financiamentos cresce há dois anos," acrescenta.
Em janeiro do ano passado, quando a Selic estava em 19,75% ao ano e o financiamento à habitação pelo SBPE rendia aos bancos 14,4% ao ano (TR mais juro de 12%), o volume emprestado foi de R$ 275,7 milhões apenas. "Agora a Selic e a remuneração do crédito imobiliário estão no mesmo patamar", afirma Fonseca.
Ele lembra que o financiamento começou a deslanchar depois da lei nš 10.931 de 2003, que estabeleceu medidas que dão maior segurança aos bancos e aos compradores de imóveis, como o patrimônio de afetação (que separa as contabilidades da obra e da construtora) e a alienação fiduciária (que garante a retomada mais rápida do imóvel em caso de inadimplência).
Além disso, desde 2005 o CMN (Conselho Monetário Nacional) exige que os bancos apliquem em crédito imobiliário 65% dos recursos captados na caderneta de poupança sob pena de terem os depósitos recolhidos ao Banco Central com remuneração de apenas 80% da TR (1,6% ao ano).
Ao mesmo tempo, flexibilizou a norma ao permitir que as instituições que financiarem imóveis no valor de R$ 60 mil a R$ 80 mil apliquem um multiplicador sobre esse valor, para atingir os 65% de exigibilidade. Quanto menor o valor financiado, maior o multiplicador. Parte dos recursos da poupança, por essa regra, pôde ser destinada à aplicação no mercado financeiro.
O objetivo era estimular o financiamento aos compradores de menor renda e compensar os bancos pelo diferencial entre a taxa básica de juros e a taxa do crédito imobiliário. "Isso estimulou os bancos a fazer crédito imobiliário e a competir pelos clientes", diz Fonseca.
Apesar do crescimento dos financiamentos, entretanto, o volume de crédito imobiliário ainda é baixo -apenas 2% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto em outros países chega a 40% e até 60% do PIB. "O volume é baixo, pois estamos usando quase exclusivamente recursos da poupança, é preciso buscar outras fontes de financiamento", diz Fonseca.
O pacote da habitação, anunciado pelo governo na semana passada, permitirá consolidar o crescimento do crédito imobiliário, segundo ele, com o consignado e a prestação prefixada que embute a TR nos juros.


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