|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sob Lula, domésticos só recebem 29% do mínimo
Repasse dos reajustes não é integral, constata Fipe
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Os reajustes do salário mínimo já não são mais repassados
integralmente para os trabalhadores domésticos em São
Paulo. Estudo da Fipe mostra
que, no governo Lula, os aumentos médios dos trabalhadores domésticos atingiram
apenas 29% do aumento do salário mínimo.
No governo Fernando Henrique Cardoso, o reajuste nominal do salário mínimo havia sido repassado integralmente
para os salários dos empregados domésticos.
Nos oito anos do governo
FHC, o mínimo teve reajuste
acumulado de 186%, e o aumento repassado pelas famílias
paulistanas que empregam esses profissionais foi de 195%.
No mesmo período, o IPC
(Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe registrou taxa de
inflação de 85% para São Paulo.
Ou seja, os empregados domésticos tiveram reajuste médio
um pouco acima da taxa do mínimo e ganho real de 59% em
relação à taxa de inflação.
No governo Lula, a situação
se inverte. A variação acumulada do salário mínimo foi de
75%, mas apenas 29% dessa taxa (22%) foi repassada para o
salário dos trabalhadores domésticos que atuam no município de São Paulo. Pior: o reajuste recebido por esses profissionais teve aumento real de apenas 3% sobre a inflação apurada pela Fipe no período. Com
isso, o poder de compra desses
trabalhadores teve forte perda.
José Venerando, advogado
do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Município
de São Paulo, diz que realmente
está havendo uma tendência de
reajuste do salário dos domésticos fora do percentual determinado pelo salário mínimo.
Venerando explica que esse
aumento se deve à falta de negociações coletivas e de acordos coletivos na categoria.
Conversas mais constantes
entre empregadores e empregados e mais conhecimento da
legislação de ambas as partes
têm permitido novos tipos de
reajustes, diz o advogado.
Venerando diz que, quando
os contratos de trabalho determinam que o trabalhador recebe um, dois ou mais salários mínimos, o reajuste tem de ser pelo percentual determinado pelo salário mínimo. Mas, quando
o contrato apenas determina
um valor específico, o reajuste
pode ser por acerto entre as
partes -patrão e empregado.
É o caso de Ivalnete Pereira
Lopes. Por receber bem mais
do que o salário mínimo, sua
patroa -uma ex-professora
aposentada- reajustou seu salário com base no valor, em
reais, determinado pelo governo. Mas, em porcentagem, o aumento foi menor: ela recebeu
12,5%, contra 16,67% determinados pelo reajuste para quem
ganha só um mínimo.
Valor restabelecido
Paulo Picchetti, coordenador
do IPC da Fipe, diz que "essa
pratica meio informal" ocorre
porque no período FHC o salário mínimo já teve seu patamar
restabelecido.
Esse equilíbrio do mínimo
atingido no governo FHC e os
reajustes menores recebidos
pelos patrões nos últimos anos
estão provocando reajustes
menores dos empregados domésticos, segundo Picchetti.
O coordenador da Fipe diz
que, "aparentemente, a redistribuição de renda no governo
Lula está ocorrendo mais pela
renda mínima do que pelo salário mínimo".
Picchetti diz que, mesmo
com redução nos últimos meses, os repasses de salários para
os domésticos têm grande participação na inflação.
Do início de 1995 a agosto de
2006, o aumento de 261% nos
salários dos empregados domésticos gerou inflação de
6,5%. Essa taxa tem peso porque representa 5,3% de toda a
inflação de 123% do período,
gerada pelos 525 itens do índice
Fipe, afirma Picchetti.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Vinicius Torres Freire: As famílias ricas de São Paulo Índice
|