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VINICIUS TORRES FREIRE
As famílias ricas de São Paulo
Diferença de renda entre as famílias cresce no Sudeste, o
que explica redução menor da desigualdade no Brasil
AS FAMÍLIAS mais ricas do Sudeste, aquelas em que a renda
mensal média é R$ 18,6 mil,
são menos de meio por cento dos
domicílios do Brasil. Somada, a renda dessas pessoas equivale à renda
de quase 30% das casas dos brasileiros mais pobres (devem equivaler a
mais, pois os rendimentos dos juros
de aplicações financeiras são subestimados nas pesquisas).
A Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios de 2005, a Pnad do
IBGE, mostra que a desigualdade
entre as famílias cresceu no Sudeste.
A fatia 10% mais rica das casas do
Sudeste passou a abocanhar mais
renda do Sudeste (40,6% do total) e
do Brasil (21,4%). O aumento da
renda dos 5% ou 10% mais ricos parece explicar a queda no ritmo de redução da desigualdade em 2005.
Em São Paulo, Santa Catarina e
Goiás, houve ligeiro aumento no índice de desigualdade, mas importa
mesmo o peso de São Paulo. Os moradores mais pobres de São Paulo e
do Sudeste em geral perderam renda? Não. Os brasileiros mais pobres,
aliás, tiveram razoáveis aumentos
de renda (15%, de 2004 para 2005,
no caso do fundo do poço da miséria,
os 10% mais pobres). A perda ocorreu entre quem ganha entre R$
1.600 e R$ 2.400 mensais.
O dado paulista é relevante porque ajuda a explicar a dinâmica da
redução da desigualdade no Brasil
neste início de milênio. Fazia uma
década que não se verificava aumento de renda entre os mais ricos. Fazia nove anos, aliás, que a renda média do brasileiro não crescia.
Não se trata de lamentar que, num
quadro de estagnação econômica, os
mais ricos tenham sofrido mais. O
problema é que, na primeira vez em
dez anos que os mais ricos, e os mais
ricos do Sudeste, vêem sua renda aumentar, o ritmo de redução da desigualdade caia para um ritmo menor
que o da média dos anos FHC.
Tal resultado, associado aos fatores que devem ter influenciado a
melhoria da renda dos mais pobres
nos anos Lula, levanta dúvidas sobre
o futuro da redução da extravagante
injustiça brasileira. Nesses anos, entre 50% e 75% da redução da desigualdade de renda se deveu ao aumento da renda do trabalho. O restante, na maior parte, deveu-se a
programas assistenciais.
É duvidoso, dado o aumento insustentável dos gastos do governo,
que os programas de renda mínima
(como Previdência rural ou Bolsa-Escola) possam distribuir a renda
dos impostos no ritmo em que vinham fazendo até agora.
Outro fator importante de redução de desigualdade de renda do trabalho foi a transferência de empregos melhores das metrópoles para o
interior, em parte devido à desconcentração industrial, em parte devido ao sucesso do agronegócio (embora a renda do trabalho, de 2004
para 2005, tenha crescido mais para
quem não tem carteira assinada).
Tais fatores não devem manter o
mesmo dinamismo.
Parece se esgotar o ciclo de redistribuição via impostos (e impostos
crescentes), em quadro de estagnação. Para evitar que o ciclo de desconcentração da renda se interrompa, é preciso mais crescimento, educação e emprego para a mão-de-obra mais desqualificada, e tributos
progressivos (pró-pobres). Isto é, o
bolo dos fundos públicos deverá ser
fatiado de forma diferente, o que será doloroso para os perdedores.
vinit@uol.com.br
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