São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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Após o Fed, cresce aposta de novo corte de juro do Brasil

Para economistas, país se beneficiará com menor chance de recessão mundial

Decisão nos EUA torna juros brasileiros mais altos em relação à média mundial, o que deverá elevar a entrada de investidores estrangeiros

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a redução de 0,5 ponto nos juros americanos, o Federal Reserve diminuiu ontem a chance de uma recessão internacional, que traria forte redução no consumo de produtos de países emergentes, e ainda deixou os juros brasileiros altos em relação à média do mundo.
Como conseqüência, o Brasil se tornou um mercado ainda mais atraente em termos de remuneração do capital, segundo o professor José Luiz Rossi, do Ibmec-SP. "O diferencial de juros aumenta no momento em que aqui [o BC] está reduzindo o ritmo [de cortes]. [O país] vai ficar um pouco mais atraente."
No mercado futuro de juros, os investidores viram aumentar a chance de mais um corte em longo prazo na taxa Selic, hoje em 11,25%. Um dos contratos de juros mais negociados, o de janeiro de 2010, teve baixa ontem de 0,25 ponto percentual -o mesmo corte da Selic na semana passada. Caiu de 11,77% para 11,52% ao ano.
O economista José Francisco de Lima Gonçalves, do Banco Fator, acredita que houve um excesso de otimismo ontem no mercado de juros. "A queda me pareceu muita comemoração. O Fed estava com a faca no pescoço e causou um oba-oba que não sei se é sustentável. No Brasil, duvido que o BC saia se precipitando. Eles vão agir com toda a cautela. Baixar juro não é o caminho recomendável em época de crise", disse.
Para o professor Fernando Cardim, da UFRJ, o maior risco no momento não é a crise, mas o BC interpretar o recente aumento da demanda como um fator inflacionário. "O saldo [da decisão do Fed] para o Brasil é amplamente positivo só com o fim da turbulência. O BC do Brasil, em que o bom senso nem sempre prevalece, deve reagir com conservadorismo. É menos que remota a esperança de que o BC tenha essa audácia do Fed. O nosso BC não responde bem a pressões", disse.
"Temos sempre a impressão de que o banqueiro central é conservador, mas eles podem ser inteligentes e prudentes. O Fed quer evitar o contágio da crise imobiliária para a economia real. O contágio vai acontecer, só que com intensidade menor, dada a corajosa decisão do Fed. Aqui, há a preocupação [no BC] com inflação sazonal de alimentos e "possível" recessão mundial", disse o professor Marcio Holland, da FGV.
Jason Vieira, economista-chefe da UpTrend, afirma que o aumento dos juros criou uma oportunidade para os grandes fundos diminuírem suas perdas no mercado acionário e reposicionarem suas carteiras agora com maior cautela.
O ex-ministro Mailson da Nóbrega concorda e afirma que a crise deverá trazer uma trégua nos mercados, inclusive o brasileiro. "A decisão praticamente afasta o risco de um crash. Tudo indica que o mundo não será mais o mesmo. A liquidez não será tão abundante e haverá mais cautela na concessão de crédito. Muito provavelmente haverá uma queda nos preços dos imóveis. É esse movimento que produzirá uma desaceleração, que virá pelo canal do crédito e do consumo."


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