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Após o Fed, cresce aposta de novo corte de juro do Brasil
Para economistas, país se beneficiará com menor chance de recessão mundial
Decisão nos EUA torna juros brasileiros mais altos em relação à média mundial, o que deverá elevar a entrada de investidores estrangeiros
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a redução de 0,5 ponto
nos juros americanos, o Federal Reserve diminuiu ontem a
chance de uma recessão internacional, que traria forte redução no consumo de produtos de
países emergentes, e ainda deixou os juros brasileiros altos
em relação à média do mundo.
Como conseqüência, o Brasil
se tornou um mercado ainda
mais atraente em termos de remuneração do capital, segundo
o professor José Luiz Rossi, do
Ibmec-SP. "O diferencial de juros aumenta no momento em
que aqui [o BC] está reduzindo
o ritmo [de cortes]. [O país] vai
ficar um pouco mais atraente."
No mercado futuro de juros,
os investidores viram aumentar a chance de mais um corte
em longo prazo na taxa Selic,
hoje em 11,25%. Um dos contratos de juros mais negociados, o de janeiro de 2010, teve
baixa ontem de 0,25 ponto percentual -o mesmo corte da Selic na semana passada. Caiu de
11,77% para 11,52% ao ano.
O economista José Francisco
de Lima Gonçalves, do Banco
Fator, acredita que houve um
excesso de otimismo ontem no
mercado de juros. "A queda me
pareceu muita comemoração.
O Fed estava com a faca no pescoço e causou um oba-oba que
não sei se é sustentável. No
Brasil, duvido que o BC saia se
precipitando. Eles vão agir com
toda a cautela. Baixar juro não é
o caminho recomendável em
época de crise", disse.
Para o professor Fernando
Cardim, da UFRJ, o maior risco
no momento não é a crise, mas
o BC interpretar o recente aumento da demanda como um
fator inflacionário. "O saldo [da
decisão do Fed] para o Brasil é
amplamente positivo só com o
fim da turbulência. O BC do
Brasil, em que o bom senso
nem sempre prevalece, deve
reagir com conservadorismo. É
menos que remota a esperança
de que o BC tenha essa audácia
do Fed. O nosso BC não responde bem a pressões", disse.
"Temos sempre a impressão
de que o banqueiro central é
conservador, mas eles podem
ser inteligentes e prudentes. O
Fed quer evitar o contágio da
crise imobiliária para a economia real. O contágio vai acontecer, só que com intensidade
menor, dada a corajosa decisão
do Fed. Aqui, há a preocupação
[no BC] com inflação sazonal
de alimentos e "possível" recessão mundial", disse o professor
Marcio Holland, da FGV.
Jason Vieira, economista-chefe da UpTrend, afirma que o
aumento dos juros criou uma
oportunidade para os grandes
fundos diminuírem suas perdas no mercado acionário e reposicionarem suas carteiras
agora com maior cautela.
O ex-ministro Mailson da
Nóbrega concorda e afirma que
a crise deverá trazer uma trégua nos mercados, inclusive o
brasileiro. "A decisão praticamente afasta o risco de um
crash. Tudo indica que o mundo não será mais o mesmo. A liquidez não será tão abundante
e haverá mais cautela na concessão de crédito. Muito provavelmente haverá uma queda
nos preços dos imóveis. É esse
movimento que produzirá uma
desaceleração, que virá pelo canal do crédito e do consumo."
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