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análise
Corte de meio ponto carecia de nota mais firme
DO "FINANCIAL TIMES"
MEIO PONTO percentual. Agora sabemos que o Federal Reserve sob Ben Bernanke é um banco central agressivo. Sua ação, em resposta a
uma crise crescente no mercado da habitação e a substanciais perturbações nos
mercados de crédito, pode se
provar sábia. Mas o corte
profundo de juros deveria ter
sido acompanhado por um
comunicado mais firme.
Sempre houve argumentos em defesa de um corte de
juros de meio ponto. Ele será
um estímulo poderoso para a
economia real. As empresas
poderão financiar sua expansão, e os consumidores com
bons históricos de crédito
poderão gastar mais. Isso deve ajudar a compensar impactos da desaceleração no
mercado de habitação.
Além disso, um corte de
meio ponto agirá como uma
espécie de terapia de choque
para os mercados de crédito,
que atravessam sérias dificuldades. Ajudará a tornar
mais atraentes todos os títulos lastreados por ativos e todas as obrigações de dívida
caucionada questionáveis.
Existem grandes chances de
que a ação decidida do Fed
restaure a confiança que os
mercados perderam.
Mas a ação do banco central é perturbadora. Observe
a reação dos mercados depois que ela foi anunciada: o
índice S&P 500 estava sendo
negociado acima de sua cotação em 7 de agosto, a data da
reunião anterior do Fed, antes do início da compressão
de crédito. Alguns ativos de
risco, como moedas de países
emergentes, subiram em direção às suas cotações mais
elevadas. Mas dólar e papéis
de longo prazo do Tesouro
norte-americano caíram: são
ativos sensíveis à inflação.
A ação do Fed tem seu custo. Ela cimentará uma percepção de que a instituição
corta juros em resposta a crises de mercado, e isso encoraja a especulação. Também
coloca em risco a credibilidade do banco central no combate à inflação. Em seu comunicado, o Fed afirma que
"continuará a monitorar
com cuidado os desdobramentos inflacionários". O
Fed precisa esperar que os
investidores e os negociadores de salários confiem nele.
Um dos maiores perigos é
que uma política monetária
frouxa solape a integridade
do dólar. O déficit comercial
americano é financiado por
investidores estrangeiros
dispostos a manter ativos e
títulos nos EUA e, se eles temerem que a inflação vá destruir os valores desses ativos,
começarão a vender. O corte
de meio ponto no juro transformou a derrocada do dólar
de altamente improvável em
praticamente possível.
Se o Fed pretendia cortar
os juros em meio ponto, deveria ter equilibrado essa atitude agressiva com um comunicado em que indicasse
mais ceticismo sobre novos
cortes nos juros de curto prazo. Mas optou por dizer que
"agirá quando necessário para fomentar a estabilidade de
preços e o crescimento econômico sustentável". Em determinado sentido, isso é só
uma reafirmação da missão
básica do banco central, mas,
dadas as circunstâncias, haverá quem presuma que o
Fed possa ser pressionando a
cortar ainda mais os juros. A
ação do Fed talvez seja uma
saída de mestre, mas é tão arriscada quanto audaciosa.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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