São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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Ipea prevê crescimento e inflação maiores no ano

Instituto eleva sua estimativa de expansão do PIB deste ano de 4,3% para 4,5%

Aumento da projeção para a alta de preços em 2007 foi mais acentuado; passou de 3,4% para 4%, por causa da pressão dos alimentos

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

A economia deve crescer um pouco mais neste ano, mas o consumidor deverá enfrentar preços mais altos, principalmente de alimentos. Esse é o cenário previsto no último Boletim de Conjuntura do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado à Secretaria de Planejamento de Longo Prazo.
O instituto revisou sua projeção do PIB (Produto Interno Bruto) de 4,3% para 4,5%. Segundo Fabio Giambiagi, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural, a revisão foi motivada pelos resultados do PIB no segundo trimestre, com destaque para indústria, consumo das famílias e investimento. O FMI (Fundo Monetário Internacional) também elevou sua projeção para o PIB brasileiro (leia à pág. B8).
O instituto elevou sua estimativa para a indústria de 4,3% para 4,8%. A previsão de consumo das famílias passou de 5,7% para 6,2%, e a do investimento, de 9,0% para 10,0%.
Segundo Giambiagi, o investimento poderia se aproximar dos 11% caso não tivesse sido deflagrada a crise nos mercados financeiros. Apesar disso, estima que, de 2004 a 2008, o país acumule um ciclo de expansão dos investimentos da ordem de 8% ao ano.
"É razoável concluir que, se os problemas da economia internacional não suscitarem uma crise de graves proporções, o país poderá dar continuidade ao ciclo expansivo iniciado em 2004, conservando uma taxa de crescimento robusta também no ano de 2008", afirma o boletim.
Apesar do crescimento, a projeção ainda é inferior à do Banco Central, que espera uma alta de 4,7%. O Ipea afirma que, caso a agropecuária dê sinais de recuperação no segundo semestre, a expansão da economia poderá ser maior. Com os resultados do PIB abaixo das expectativas, a projeção para a agropecuária foi reduzida de 4,5% para 3,0%.

Inflação
O instituto elevou sua projeção de alta da inflação de 3,4% para 4% em razão da pressão dos alimentos. Segundo Giambiagi, esse é um problema não apenas do Brasil mas de diversos outros países, como Colômbia, Argentina e EUA. A taxa acumulada em 12 meses dos alimentos é de 9,3%.
Para o economista, os alimentos estão fechando um ciclo em que contribuíram para manter a inflação sob controle, no caso do Brasil, e começando a atrapalhar o desempenho dos índices de preços. Resta saber a intensidade do novo movimento. "Isso é mudança de preços relativos ou estamos na presença de um fenômeno de longa duração?", questiona.
No pior cenário, estaríamos assistindo ao início de um processo de longo prazo de inflação mundial em alta com pressões de milhões de novos consumidores de China e Índia.
Diante do cenário de alimentos em alta, Giambiagi estima que o Banco Central só faça mais um corte neste ano, de 0,25 ponto percentual, na taxa básica de juros, atualmente em 11,25% ao ano. Depois disso, a taxa deverá se manter até meados do ano que vem, quando voltariam a existir condições para uma retomada do processo de redução dos juros. O cenário mais confortável para o BC incluiria um patamar menor de preços de alimentos e de juros nos Estados Unidos.
"O importante é que o BC aja no sentido de manter as condições para o dinamismo da economia e ao mesmo tempo transmita à sociedade a mensagem de que continuará vigilante, controlando os preços."
O Ipea estima que a Selic média do último trimestre será de 11,1% e o câmbio do último trimestre fique em R$ 1,95. Caso se confirmem as projeções do instituto, o país atingirá em 2008 a menor taxa de juros reais (6,2%) desde o Plano Real, com exceção do ano de 2002, quando os juros reais foram afetados pelo salto da inflação diante da crise de confiança com as eleições presidenciais.


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