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EUA preparam "limpeza" nos mercados
Medidas que serão enviadas ao Congresso podem incluir compra de papéis podres que implodiram mercados e restrição à especulação
Rumores sobre plano, que
pode custar centenas de
bilhões de dólares, dão
fôlego ao mercado, e
Bolsa de NY sobe 3,86%
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
A administração Bush prepara uma grande intervenção nas
finanças do país que pode incluir a compra pelo governo de
papéis podres que implodiram
os mercados financeiros nos últimos dias.
O secretário do Tesouro,
Henry Paulson, e o presidente
do Federal Reserve (o Fed, BC
dos EUA), Ben Bernanke, reuniram-se com líderes políticos
ontem à noite para discutir as
medidas, que devem ir em dias
à aprovação do Congresso, de
maioria democrata, e a poucas
semanas das eleições presidenciais.
Rumores sobre o pacote, que
pode custar centenas de bilhões de dólares, deram algum
fôlego aos mercados. A Bolsa de
Valores de Nova York subiu
3,86%, a maior alta desde outubro de 2002. A Bovespa avançou 5,48% (leia texto ao lado).
A medida de maior alcance
seria a criação de uma nova entidade similar à Resolution
Trust Corporation, criada em
1989, no auge da crise financeira da época e fundamental para
sua resolução. A criação de algo
desse tipo vem sendo estudada
há semanas pelo governo do republicano George W. Bush, que
hesita em apresentar a medida
ao Congresso, controlado pela
oposição democrata, caso não
tenha garantias de aprovação.
A negociação foi confirmada
ontem após reunião no Capitólio de Paulson e Bernanke com
a presidente do Congresso,
Nancy Pelosi, e outros congressistas. Pessoas que acompanham as conversas dizem que
pode ser a maior reformulação
do sistema financeiro americano desde os anos 1930.
A dimensão do pacote revela
a preocupação do governo com
a intensidade e abrangência
crescentes da crise, que pode
corroer ainda mais a confiança
no sistema.
Na entrevista que se seguiu
ao encontro, no entanto, não se
falou de pontos específicos do
plano. "Nós estamos trabalhando num método rápido para lidar com o risco sistêmico e as
tensões de nossos mercados de
capitais", desconversou Paulson. "Falamos sobre uma abordagem abrangente que irá requerer uma legislação para lidar com ativos no balanço de
instituições financeiras."
Harry Reid, líder da maioria
no Senado, disse que a proposta
deve ser apresentada para votação "em questão de horas, não
dias". Em carta a Bush, Pelosi
escreveu que o Congresso estava pronto para uma votação bipartidária e poderia até adiar
seu recesso eleitoral, previsto
para o dia 26. O democrata
Charles Schumer, do comitê de
bancos do Senado, confirmou
que o governo Bush trabalhava
com a possibilidade de assumir
os papéis podres, entre outras
medidas.
"O Fed e o Tesouro estão percebendo que precisamos de
uma solução mais ampla", disse. Para ele, a nova entidade deveria ir além de assumir os empréstimos ruins de empresas,
mas também modificar empréstimos hipotecários, como
maneira de aliviar mutuários
endividados, que foram a origem de toda a crise atual, medida de grande apelo em ano eleitoral.
Além disso, três atores importantes do cenário financeiro mundial anunciaram medidas antiespeculação. Em Nova
York, o procurador-geral, Andrew Cuomo, lançou investigação ampla visando pessoas que
estivessem realizando vendas a
descoberto, movimento que
permite ganho com a quebra de
empresas. Na Califórnia, o Calpers, maior fundo de pensão
dos EUA, com capital de US$
260 bilhões, decidiu conter especulação com suas ações do
Goldman Sachs e do Morgan
Stanley.
Já no Reino Unido, as autoridades baixaram norma que
proíbe ações desse tipo com papéis de companhias financeiras
até janeiro de 2009. Ontem,
ainda, o Fed anunciou que injetará US$ 180 bilhões nos principais mercados financeiros do
mundo, via Banco Central Europeu e BCs da Inglaterra, do
Japão, da Suíça e do Canadá.
A intenção era conter o pânico instalado na véspera, quando o mercado de crédito ficou
congelado e as Bolsas despencaram. O resultado foi uma reação positiva das Bolsas. O Dow
Jones disparou 567 pontos e fechou em alta de 410,03 pontos.
A alta teria sido alavancada
principalmente pela possibilidade de a nova agência sair do
papel, segundo alguns analistas. "Mercados recessivos são
muito sensíveis a notícias", disse Scott Fullman, do WJB Capital Group. "E, numa escala de
1 a 10, essa chega aos 13." Ainda
assim, a volatilidade permaneceu, com a Bolsa nova-iorquina
oscilando até 500 pontos. "Estamos vendo uma grande quantidade de nervosismo, e isso está levando à volatilidade", disse
Anthony Conroy, do BNY ConvergEx Group.
Não foi por outro motivo a
aparição inesperada de Bush. O
presidente passou a tarde reunido com seus principais assessores econômicos, após cancelar uma viagem e fazer um pronunciamento não-programado
pela manhã. Por dois minutos,
procurou acalmar os ânimos.
"O povo americano pode ficar
seguro de que nós vamos continuar a agir para fortalecer e estabilizar nossos mercados financeiros e melhorar a confiança dos investidores."
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