São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2008

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EUA preparam "limpeza" nos mercados

Medidas que serão enviadas ao Congresso podem incluir compra de papéis podres que implodiram mercados e restrição à especulação

Rumores sobre plano, que pode custar centenas de bilhões de dólares, dão fôlego ao mercado, e Bolsa de NY sobe 3,86%

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A administração Bush prepara uma grande intervenção nas finanças do país que pode incluir a compra pelo governo de papéis podres que implodiram os mercados financeiros nos últimos dias.
O secretário do Tesouro, Henry Paulson, e o presidente do Federal Reserve (o Fed, BC dos EUA), Ben Bernanke, reuniram-se com líderes políticos ontem à noite para discutir as medidas, que devem ir em dias à aprovação do Congresso, de maioria democrata, e a poucas semanas das eleições presidenciais.
Rumores sobre o pacote, que pode custar centenas de bilhões de dólares, deram algum fôlego aos mercados. A Bolsa de Valores de Nova York subiu 3,86%, a maior alta desde outubro de 2002. A Bovespa avançou 5,48% (leia texto ao lado).
A medida de maior alcance seria a criação de uma nova entidade similar à Resolution Trust Corporation, criada em 1989, no auge da crise financeira da época e fundamental para sua resolução. A criação de algo desse tipo vem sendo estudada há semanas pelo governo do republicano George W. Bush, que hesita em apresentar a medida ao Congresso, controlado pela oposição democrata, caso não tenha garantias de aprovação.
A negociação foi confirmada ontem após reunião no Capitólio de Paulson e Bernanke com a presidente do Congresso, Nancy Pelosi, e outros congressistas. Pessoas que acompanham as conversas dizem que pode ser a maior reformulação do sistema financeiro americano desde os anos 1930.
A dimensão do pacote revela a preocupação do governo com a intensidade e abrangência crescentes da crise, que pode corroer ainda mais a confiança no sistema.
Na entrevista que se seguiu ao encontro, no entanto, não se falou de pontos específicos do plano. "Nós estamos trabalhando num método rápido para lidar com o risco sistêmico e as tensões de nossos mercados de capitais", desconversou Paulson. "Falamos sobre uma abordagem abrangente que irá requerer uma legislação para lidar com ativos no balanço de instituições financeiras."
Harry Reid, líder da maioria no Senado, disse que a proposta deve ser apresentada para votação "em questão de horas, não dias". Em carta a Bush, Pelosi escreveu que o Congresso estava pronto para uma votação bipartidária e poderia até adiar seu recesso eleitoral, previsto para o dia 26. O democrata Charles Schumer, do comitê de bancos do Senado, confirmou que o governo Bush trabalhava com a possibilidade de assumir os papéis podres, entre outras medidas.
"O Fed e o Tesouro estão percebendo que precisamos de uma solução mais ampla", disse. Para ele, a nova entidade deveria ir além de assumir os empréstimos ruins de empresas, mas também modificar empréstimos hipotecários, como maneira de aliviar mutuários endividados, que foram a origem de toda a crise atual, medida de grande apelo em ano eleitoral.
Além disso, três atores importantes do cenário financeiro mundial anunciaram medidas antiespeculação. Em Nova York, o procurador-geral, Andrew Cuomo, lançou investigação ampla visando pessoas que estivessem realizando vendas a descoberto, movimento que permite ganho com a quebra de empresas. Na Califórnia, o Calpers, maior fundo de pensão dos EUA, com capital de US$ 260 bilhões, decidiu conter especulação com suas ações do Goldman Sachs e do Morgan Stanley.
Já no Reino Unido, as autoridades baixaram norma que proíbe ações desse tipo com papéis de companhias financeiras até janeiro de 2009. Ontem, ainda, o Fed anunciou que injetará US$ 180 bilhões nos principais mercados financeiros do mundo, via Banco Central Europeu e BCs da Inglaterra, do Japão, da Suíça e do Canadá.
A intenção era conter o pânico instalado na véspera, quando o mercado de crédito ficou congelado e as Bolsas despencaram. O resultado foi uma reação positiva das Bolsas. O Dow Jones disparou 567 pontos e fechou em alta de 410,03 pontos.
A alta teria sido alavancada principalmente pela possibilidade de a nova agência sair do papel, segundo alguns analistas. "Mercados recessivos são muito sensíveis a notícias", disse Scott Fullman, do WJB Capital Group. "E, numa escala de 1 a 10, essa chega aos 13." Ainda assim, a volatilidade permaneceu, com a Bolsa nova-iorquina oscilando até 500 pontos. "Estamos vendo uma grande quantidade de nervosismo, e isso está levando à volatilidade", disse Anthony Conroy, do BNY ConvergEx Group.
Não foi por outro motivo a aparição inesperada de Bush. O presidente passou a tarde reunido com seus principais assessores econômicos, após cancelar uma viagem e fazer um pronunciamento não-programado pela manhã. Por dois minutos, procurou acalmar os ânimos. "O povo americano pode ficar seguro de que nós vamos continuar a agir para fortalecer e estabilizar nossos mercados financeiros e melhorar a confiança dos investidores."


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