São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2008

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Injeções de BCs chegam a US$ 500 bi na semana

Nova ação coordenada coloca mais US$ 180 bi no sistema financeiro global

Fed disponibilizou recursos para que os demais BCs pudessem suprir a carência de recursos dos bancos comerciais

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Uma ação coordenada dos seis maiores bancos centrais do mundo injetou ontem mais uma dose bilionária de recursos no sistema financeiro, mas o objetivo de acalmar os mercados foi atingido apenas parcialmente, em meio a fortes oscilações nas Bolsas de Valores. Numa tentativa de amenizar a crise de liquidez agravada pela quebra do banco americano Lehman Brothers, o Federal Reserve (BC dos EUA) disponibilizou US$ 180 bilhões a cinco instituições estrangeiras, o BoJ (Banco Central do Japão), o BCE (Banco Central Europeu), o BoE (Reino Unido), o SNB (Suíça) e o Banco do Canadá. Com a operação de ontem, já passa de US$ 500 bilhões o volume de recursos injetados pelos BCs desde segunda-feira no sistema internacional. Em um comunicado divulgado às 3h de Nova York (4h de Brasília), para coincidir com a abertura dos mercados europeus, o Fed anunciou a injeção dos recursos por meio de acordos de troca recíproca (swap) com os cinco BCs. Um acordo "swap" permite a dois bancos centrais emprestar liquidez a curto prazo, quando um deles precisa estabilizar o sistema financeiro. Nesse caso, o objetivo do Fed foi disponibilizar recursos para que os demais BCs possam suprir a carência de recursos dos bancos comerciais. "Essas medidas, juntamente com outras ações tomadas individualmente nos últimos dias por bancos centrais, têm o objetivo de melhorar a liquidez dos mercados financeiros globais", disse o comunicado do Fed. "Os bancos centrais continuam a trabalhar em conjunto e darão os passos necessários para lidar com a atual pressão." Apesar da ação coordenada dos BCs, os mercados continuavam ontem sob intensa pressão, com o aumento do custo de empréstimos por períodos superiores a alguns dias. Diante disso, manteve-se a expectativa de que novas operações de injeção de liquidez ocorram nos próximos dias. "Os BCs não tinham alternativa a não ser injetar dinheiro no mercado, já que os bancos pararam de fazer empréstimos", disse à Folha Willem Buiter, professor da London School of Economics. O anúncio do Fed fez com que as principais Bolsas da Europa esboçassem uma recuperação na abertura, mas o movimento logo se inverteu e a maioria fechou no vermelho pelo quarto pregão consecutivo. Houve queda de 1,06% em Paris, de 0,66% em Londres e de 1,48% em Milão. A confirmação de que o Lloyds fechou a compra do problemático HBOS (Halifax Bank Of Scotland), maior financiador de hipotecas do Reino Unido, por US$ 22,1 bilhões, foi um alívio para o mercado. Numa decisão sem precedentes, a agência reguladora britânica (FSA, na sigla em inglês) proibiu até janeiro de 2009 a prática das vendas a descoberto ("short selling") -tomar um ativo emprestado e vendê-lo no mercado, na expectativa de recomprá-lo mais tarde a um preço inferior ao da venda e devolvê-lo ao proprietário. A queda das ações do HBOS, que em menos de uma semana perdeu 50% do seu valor, é atribuída ao grande volume de vendas a descoberto.
Ajuda ao Fed
O Departamento do Tesouro americano realizou mais um leilão de títulos públicos para ajudar o Fed a reunir os recursos empregados nas operações de salvamento de instituições financeiras em dificuldades. Depois de arrecadar US$ 40 bilhões na quarta-feira, vendeu, ontem, mais US$ 60 bilhões e anunciou outro leilão de US$ 60 bilhões hoje e um de US$ 40 bilhões na próxima quarta. Nos últimos dias, o rendimento dos papéis públicos, que cai conforme a demanda, recuou. O retorno do que vence em três meses passou de 1,6% ao ano na semana passada para 0,04% na quarta-feira. Mas, com os rumores de que o governo estuda criar uma nova agência para comprar e tirar de circulação os papéis lastreados em hipotecas, eles se recuperaram um pouco ontem e fecharam a com retorno de 0,07% ao ano.


Colaborou DENYSE GODOY , da Reportagem Local


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