|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Dólar vai a R$ 1,96, e BC decide intervir
Meirelles anuncia de NY que banco fará leilão de venda de dólares a partir de hoje e interrompe escalada da moeda na BM&F
Será a primeira ação desse tipo do Banco Central brasileiro desde fevereiro de 2003; dólar sobe 3,32% e fecha o dia cotado a R$ 1,93
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
No dia em que o dólar superou R$ 1,96, o presidente do BC,
Henrique Meirelles, anunciou
que a instituição passará a promover leilões de venda de dólares, com compromisso de recompra futura. Esse tipo de
operação não era feita desde fevereiro de 2003. A reação do
mercado foi imediata, com a
moeda estrangeira perdendo
força. No pregão da BM&F, a
divisa americana chegou a ser
cotada a R$ 1,89 no fim do dia.
A primeira intervenção do
Banco Central ocorrerá hoje,
com um leilão no qual serão
ofertados US$ 500 milhões. Para explicar a alta expressiva do
dólar nos últimos dias, analistas apontaram a crescente procura pela moeda, em um mercado de oferta restrita.
Como o anúncio ocorreu
muito próximo do fechamento
do mercado de câmbio à vista,
que encerra às 16h, o impacto
nesse segmento foi menos intenso, e o dólar fechou vendido
a R$ 1,93, com alta de 3,32%. As
negociações nos pregões da
BM&F (Bolsa de Mercadorias
& Futuros) se estendem por
mais uma hora, o que permitiu
que a cotação descesse de forma mais acentuada. Dessa forma, espera-se que na abertura
do mercado de câmbio hoje o
dólar inicie em rota de queda.
"A liquidez em real continua
normal, devido às condições de
bom funcionamento da economia brasileira hoje (...) [Mas há]
a questão da liquidez em dólares. Na medida em que existe
um problema de liquidez do
sistema financeiro americano,
isso se reflete nas linhas interbancárias de dólares. Em função disso, o Banco Central do
Brasil tomou a decisão, hoje, de
promover leilões de venda de
dólares conjugada com uma
compra futura", declarou, em
entrevista coletiva na sede do
Consulado-Geral do Brasil em
Nova York.
"Isto é: o Banco Central vai
estar provendo liquidez no
mercado interbancário de
moeda estrangeira. Portanto, o
BC vai estar atuando no sentido
de corrigir uma distorção nos
mecanismos de fornecimento
de liquidez dos mercados internacionais", reforçou.
Após bater em R$ 1,56 no fim
de julho, o dólar foi aos poucos
se apreciando até atingir o atual
patamar, que é o maior em mais
de um ano. Apenas em setembro, a divisa norte-americana
registra apreciação de 18%
diante do real.
No início da tarde de ontem,
a procura por dólares se acelerou rápida e fortemente, o que
fez com que a moeda dos EUA
chegasse a registrar valorização
de 5,09%, cotada a R$ 1,963.
Meirelles afirmou que a ação
não está relacionado à disparada do dólar no país. "Não temos
nenhum objetivo de influenciar as cotações de câmbio, mas
simplesmente de corrigir problemas eventuais de liquidez
nos mercados, como qualquer
Banco Central do mundo."
Às maiores dificuldades em
se conseguir linhas de crédito
especialmente para o setor exportador, decorrentes da piora
na crise internacional, somou-se uma troca de posições dos
bancos e investidores estrangeiros. Até agosto, havia uma
aposta -sinalizada por operações feitas no mercado futuro-
na continuidade da apreciação
do real, que se reverteu intensamente nos últimos pregões.
"O que temos visto nos últimos dias no câmbio é um movimento especulativo", resume
Mário Battistel, diretor de câmbio da Fair Corretora.
Em busca de informação
Meirelles chegou anteontem
aos EUA para encontros com
"autoridades americanas e [representantes] do setor privado" para, segundo ele, se informar sobre as perspectivas do
sistema financeiro e da macroeconomia. "A crise, de fato,
é séria, como já está claro para
todos, e não está debelada", disse ele, que insistiu que o Brasil
está em condição favorável,
com economia "sólida".
"O Brasil, nos últimos anos,
reforçou fundamentalmente
seu mecanismo de resistência a
choques externos, como está
sendo demonstrado agora. O
Brasil se preparou para um cenário internacional de maior
dificuldade".
Meirelles disse ainda que não
sabia da possibilidade da ação
coordenada entre bancos centrais no mundo, anunciada ontem. "Minha capacidade de
previsão não chegou ainda a esse ponto", brincou. "Concluímos que estava havendo uma
deterioração e uma agudização
da liquidez e portanto tomamos a decisão de vir."
No leilão de hoje, no qual serão vendidos US$ 500 milhões
no mercado de câmbio, os bancos que participarem da operação se comprometerão a revender a mesma quantia de volta
para o BC dentro de 30 dias.
Por meio de sua assessoria, o
BC informou que a decisão foi
tomada "em função da restrição de liquidez observada nos
mercados financeiros internacionais [...], é de caráter temporário e não tem como objetivo
influir na taxa de câmbio".
Os dólares que serão vendidos saem das reservas internacionais do governo, que anteontem estava em US$ 208,6
bilhões. Leilões de venda de dólar com compromisso de recompra, como o anunciado ontem, não são feitos pelo BC desde fevereiro de 2003. Naquela
época, o país ainda se recuperava da crise do ano anterior,
quando as linhas de crédito internacionais para o país se reduziram repentinamente e o
BC passou a ser uma das principais fontes de dólares do mercado. Dependendo do resultado do leilão de hoje, o BC avaliará se fará outras operações
do tipo na próxima semana.
Colaborou a Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Análise: Alto gasto é obstáculo, diz mercado Próximo Texto: Bastidores: Meirelles tenta "vender" Brasil como opção segura Índice
|