São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Com crise, BC avalia diminuir ritmo de alta da taxa Selic

Ata do Copom mostra essa tendência, embora cenário de aperto tenha prevalecido na mais recente reunião do órgão

No Comitê de Política Monetária, 3 dos 8 diretores votaram para que juros básicos subissem 0,5 ponto percentual em vez de 0,75

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O agravamento da crise mundial faz com que o Banco Central considere a possibilidade de reduzir o ritmo de alta dos juros, embora, por enquanto, prevaleça o cenário de continuidade do aperto.
Na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) realizada na semana passada, 3 dos 8 diretotes do BC votaram por uma alta de 0,5 ponto na taxa Selic, mas prevaleceu a vontade da maioria, que optou pela elevação de 0,75 ponto.
Ontem, foi divulgada a ata do encontro, com mais alguns detalhes sobre a medida. Segundo o texto, os diretores do BC que votaram pelo aumento mais modesto nos juros argumentaram que a desaceleração da economia dos países desenvolvidos pode ser mais intensa do que o imaginado inicialmente, o que deve ajudar a reduzir a pressão sobre a inflação.
"Desde a última reunião [em julho], acumularam-se sinais de acentuada deterioração da atividade nas economias centrais, acarretando certa melhora nas perspectivas inflacionárias globais", diz o documento.
O texto se refere à avaliação feita na quarta-feira passada, quando o Copom decidiu elevar a taxa Selic de 13% ao ano para 13,75%. Desde então, a situação dos mercados financeiros se agravou, com a quebra do Lehman Brothers e o socorro à seguradora AIG.
Ainda assim, o cenário descrito no texto permanece atual, diz o economista-chefe do banco Schahin, Silvio Campos Neto. "A deterioração ocorrida nos últimos dias reforça a idéia de que o BC deve reduzir o ritmo de alta dos juros", afirma. Para o economista, o BC deve elevar a Selic em 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom, marcada para outubro, e em mais 0,25 no encontro seguinte, em dezembro.
Giovanna Rocca, economista do Unibanco, diz que as chances de que um agravamento da crise leve a uma interrupção na série de aumentos nos juros existem, mas são pequenas.
Segundo as projeções do Unibanco, a Selic deve subir mais 0,5 ponto em cada uma das duas reuniões do Copom previstas até o fim do ano, podendo também continuar em alta no primeiro encontro de 2009.
Esse cenário considera que, apesar do cenário externo mais turbulento, a economia brasileira deve sofrer pouco e continuar em expansão. Nesse caso, prevalece a preocupação, expressa pelo BC, com o ritmo desse crescimento.
O risco, nesse caso, seria o de a economia crescer de forma tão acelerada que as empresas não sejam capazes de produzir o suficiente para atender todo o aumento do consumo.
Até agora, segundo a ata do Copom, a maioria dos diretores do BC considera que essa é a maior ameaça à estabilidade dos preços e que ainda não há "melhora suficientemente convincente" no comportamento da inflação que justifique o fim da alta dos juros.


Texto Anterior: Fundo do FGTS destinará R$ 10 bi a projetos do banco
Próximo Texto: Para Lula, banco afetado pela crise é "palpiteiro"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.