São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2008

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bastidores

Escassez de crédito preocupa BC

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A manutenção da atual escassez de linhas de crédito no mercado internacional por causa da crise no sistema bancário dos Estados Unidos aumentará a pressão sobre o Banco Central para mudar a atual política de alta dos juros e adotar medidas que reduzam o custo dos empréstimos para as empresas.
Isso porque o maior temor do governo é que a crise externa aborte o ciclo de investimento do setor produtivo. O assunto domina as discussões sobre os desdobramentos da crise esta semana.
A Folha apurou que, em reunião da equipe econômica nos últimos dias, a queda nos juros chegou a ser apontada como medida para evitar que projetos de expansão da produção sejam engavetados, caso a crise se prolongue. Avalia-se que, com a persistência desse cenário que os economistas chamam de "empoçamento de liquidez" (os dólares injetados na economia pelos maiores bancos centrais do mundo ficam retido nos bancos), as altas taxas de juros praticados no Brasil terão um peso maior para a economia.
Mas isso não é consenso e ainda preocupa o BC, que tem elevado os juros para conter pressões nos índices de inflação, originados pelo aquecimento da economia. Para o BC, a menos que o impacto da crise sobre o crescimento do país seja bem maior do que o esperado, inverter o rumo dos juros seria temeroso. Sobretudo, quando o real está se desvalorizando frente ao dólar e não há certeza se a queda no preço das commodities e as vendas de moeda estrangeira serão suficientes para compensar o impacto dessa combinação na inflação.
O tema foi discutido em reunião ontem do ministro Guido Mantega (Fazenda), sua equipe e três diretores do BC. Mesmo os defensores da tese, afirmam que é preciso esperar mais tempo para avaliar o efeito que as medidas coordenadas pelo Fed, o BC dos EUA, em conjunto com os demais bancos centrais das economia desenvolvidas terão nos mercados.
Nos cálculos do governo, como está numa situação ainda confortável, o Brasil tem, pelo menos, dois meses para adotar medidas com repercussões tão fortes para economia, como uma inversão na tendência dos juros.
A preocupação levantada no governo após a quebra do Lehman Brothers é que, como os bancos lá fora estão receosos de renovar ou fazer novas operações de empréstimos de longo prazo, por causas das perdas ocorridas e do risco de ter prejuízo, as empresas daqui perderam fonte importante e barata de financiar investimentos. A principal fonte, o BNDES, está sobrecarregado com demandas por crédito acima de seu orçamento. Mesmo com reforço do governo dificilmente conseguirá atender às necessidades das empresas.


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