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São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2003

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CONTAS EXTERNAS

Vencimento de dívida e crescimento devem pressionar o dólar

Expansão de 3% em 2004 custará US$ 3 bi às reservas

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Voltar a crescer vai custar caro ao país em 2004. Uma expansão estimada de 3% do PIB (Produto Interno Bruto) e a alta concentração de vencimentos de dívida pública e privada, cujo volume será 50% maior do que em 2003, pressionarão o dólar e deixarão um buraco de US$ 3,1 bilhões nas contas externas, que será coberto por reservas internacionais.
A estimativa foi divulgada no "Monitor Cambial", publicação nova da Tendências. Segundo o economista Nathan Blanche, sócio da consultoria, a concretização desse cenário dependerá da confirmação de suas projeções.
Ele espera que todos os fluxos de recursos para o país -como aplicações em ações, empréstimos e investimentos diretos- somem US$ 42,7 bilhões. Esse montante não deverá ser suficiente para compensar a necessidade de financiamento do país, que pode chegar a US$ 45,8 bilhões, se a economia crescer 3%.
A diferença de US$ 3,1 bilhões, necessária para que o balanço de pagamentos feche, terá de sair das reservas internacionais, hoje em US$ 19 bilhões em termos líquidos (sem considerar os recursos do FMI). Segundo Paulo Cintra, analista da consultoria Global Invest, isso reforça a necessidade de um novo acordo do país com o Fundo Monetário Internacional.

Vencimentos
Parte do buraco nas contas brasileiras será cavado pela alta concentração de vencimentos de dívidas externas feitas por empresas e, principalmente, por bancos.
As empresas terão um montante de US$ 35 bilhões de empréstimos vencendo em 2004, 59% a mais que em 2003, segundo a Global Invest. Se esses empréstimos fossem renovados, não haveria pressão sobre as contas externas.
Mas esse não é o cenário mais provável. Em 2004, a Tendências Consultoria prevê que as rolagens cheguem a 85% do total.
Isso porque boa parte das linhas de curto prazo foram tomadas por bancos no primeiro semestre de 2003 enquanto era atrativo pegar recursos a taxas mais baixas lá fora e lucrar alto aplicando no chamado cupom cambial aqui.
O cupom cambial é uma projeção da taxa de juros interna em dólar e se manteve elevado enquanto o risco-país esteve alto e a moeda brasileira desvalorizada.
Já não é mais o caso. O cupom de um ano que oscilava em torno de 20% no início de 2003 caiu para cerca de 2,5% agora.
Segundo José Guilherme Lembi, diretor-executivo do Bradesco, se o cupom continuar tão baixo, a tendência é que os bancos liquidem essas operações. "E isso poderá pressionar o mercado de câmbio", disse ele.
Para Lembi, essa tendência deverá começar já em dezembro deste ano, quando vencem US$ 2,7 bilhões, dos quais US$ 2,3 bilhões foram captados por bancos.
Às dívidas maiores do setor privado, se somará um montante também maior de vencimentos do setor público: US$ 6,8 bilhões de amortizações, em 2004, contra US$ 5 bilhões neste ano.
Se, por um lado, a necessidade de financiamento do país será significativamente maior no próximo ano, o saldo da balança comercial -pilar do atual superávit nas contas do país com o exterior- deverá ser mais magro.
Segundo estimativa da Tendências, o resultado de exportações menos importações deverá cair 19%, de US$ 22 bilhões, em 2003, para US$ 17,8 bilhões, em 2004.
Essa redução será consequência do impulso que a recuperação da economia brasileira dará ao nível de emprego, à renda e, consequentemente, às compras de bens do exterior. Saldo menor é sinônimo de menos recursos para financiar as contas externas do país.
Segundo Blanche, isso mostra que a alta dependência do país em relação ao capital externo ainda é um dos maiores limites ao crescimento econômico: "O Brasil não tem poupança interna para sustentar um crescimento econômico alto. Se crescer acima de 3%, o dólar é pressionado e o país terá problemas para financiar sua conta de transações correntes".


Colaborou Sandra Balbi, da Reportagem Local


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