UOL


São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Governo Bush banca jogo arriscado

DO "FINANCIAL TIMES"

A recente queda no dólar deveria ser causa de satisfação pelo início, já tardio, do processo de recuperação do equilíbrio na economia mundial. Mas, embora a queda da moeda estivesse sendo esperada há muito, a forma pela qual está acontecendo oferece certos motivos para preocupação.
Os EUA têm sido o único propulsor de crescimento na economia mundial há tempo demais. A melhor solução seria que o dólar caísse gradualmente, em um processo acompanhado pela recuperação do crescimento gerado internamente na Europa e na Ásia.
Mas o que temos visto é mais ação em termos cambiais do que em termos de crescimento. A referência a taxas de câmbio flexíveis durante o mais recente encontro do G7, em Dubai, foi encarada de maneira geral como uma inovação e deflagrou a mais recente onda de vendas do dólar.
Embora os japoneses tenham testado exaustivamente a idéia fracassada de que manipulações do câmbio servem como substituto adequado para a reforma econômica, a pressão de alta do iene em relação ao dólar não vem ajudando a alimentar as pequenas brasas de crescimento no país, deflagrando uma recuperação sustentada de sua combalida economia.
Acima de tudo, o déficit cada vez maior da conta corrente norte-americana, propelido por um déficit fiscal claramente descontrolado, faz da queda do dólar um negócio arriscado.
A alegação do governo americano de que o déficit em conta corrente pouco importa e reflete apenas o esmagador desejo dos investidores de controlar ativos de alto rendimento e denominados em dólar sempre pareceu pouco convincente.
Esses investidores são muitas vezes bancos centrais asiáticos envolvidos em manipulações cambiais, e não administradores de fundos atrás de retornos. E eles estão financiando as consequências fiscais dos irresponsáveis cortes de impostos do governo Bush, e não um surto de investimentos nos negócios.
A necessidade de reduzir o déficit em conta corrente vem prejudicando o dólar. Os preços dos títulos do Tesouro norte-americano caíram na semana passada, junto com o dólar. Se a queda da moeda ganhar ímpeto, pode transformar um realinhamento benigno em uma perigosa espiral de queda de cotações cambiais e de preços de ativos.
É verdade que os preços dos ativos vêm demonstrando certa resistência. A insistência do Federal Reserve (banco central dos EUA) em dizer que manterá baixas as taxas de juros está ajudando a sustentar os papéis do Tesouro, pelo menos os de prazo mais curto. E as ações norte-americanas, a despeito de avaliações implausivelmente elevadas, até agora se provaram relativamente imunes à queda do dólar.
Mas os equilíbrios precários nos mercados financeiros terminam por desabar subitamente. Caso isso ocorra, os perigos envolvidos em uma trama do governo norte-americano para causar a queda do dólar, enquanto toma cada vez mais dólares emprestados a investidores relutantes, vão se tornar tristemente claros.


Tradução de Paulo Migliacci


Texto Anterior: Dólar perde o encanto para os investidores
Próximo Texto: Declaração: 20 mi ainda não entregaram IR de isento
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.