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VINICIUS TORRES FREIRE
Neolulismo?
Governo promete "virada desenvolvimentista", com juro baixo. Se der certo, é um início, mas não uma solução
O VENERANDO colunista Clóvis
Rossi publica hoje nesta Folha relato de uma viagem
aos corredores econômicos do governo, em Brasília (a reportagem
está na capa deste caderno). Coletou alguns espécimes de idéias novas e boas sobre a economia do
neolulismo -o problema, como diz
a velhíssima piada acadêmica, é
que as idéias boas não são novas, e
as idéias novas não são boas. Por último, ficou ainda a dúvida a respeito do futuro desses pensamentos.
Trata-se do último show pirotécnico da campanha petista, que se inclinou pelo esquerdismo retórico
de resultados (eleitorais), ou de
projetos que serão mesmo bancados por Lula, se eleito?
O governo Lula 2 reduziria os juros nominais, da taxa Selic, para 9%
no ano que vem. Ontem, o Banco
Central baixou a Selic para 13,75%.
Por ora, bancos, outras instituições
financeiras e consultorias estimam
uma Selic de 12% no final de 2007.
Em termos reais e de mercado, a
taxa de juros está em torno de 9%
ao ano, no degrau mais baixo da
história. A partir daí, não se sabe
bem o que acontece na economia
brasileira. A média do pessoal do
mercado, que tem uma opinião
tendenciosa sobre o assunto, mas
não amalucada ou apenas chutada,
acredita que, abaixo desse patamar,
pode haver inflação por hiperaquecimento da atividade produtiva.
Entre o pessoal mais refinado e
de mais bom senso nesse mesmo
mercado, há gente para quem a formação de preços no Brasil mudou e
que a "taxa de juros de equilíbrio"
(a que não provoca inflação) seria
mais baixa. Mas as expectativas da
média do mercado tendem a enviesar uma parte da ação do BC, e, se o
mercado fincar pé numa certa estimativa exagerada de inflação e de
juros, o BC em parte será puxado
por tal esperança tendenciosa.
Mas, se a inflação realmente parecer inerte, nem mesmo tais esperanças tendenciosas resistirão.
Isso posto, levar os juros a 9% depende da inflação e das expectativas de mercado e do BC. Se o governo quiser ignorar tais fatores, terá
de arrumar encrenca com o BC.
Digamos que tais probleminhas e
imponderáveis sejam superados.
Com taxa de 9%, e tudo mais constante, a despesa com juros cairia
para uns 4% ou 5% do PIB (hoje, é
de uns 8%). O déficit público nominal tenderia a cair a zero. A dívida
pública começaria a cair a um ritmo anual de metade do crescimento do PIB. Tudo isso sem corte de
gastos primários (as despesas públicas afora juros). Viria o "espetáculo do crescimento". Viria?
Bom, ter menos dívida pública é
um bom começo. Se tal cenário fiscal ocorresse, tenderia haver mais
valorização do real. O "neolulismo
desenvolvimentista" então interviria mais no câmbio. O que pouco
resolve, a não ser que se façam loucuras fiscais. Ainda assim, restariam tantos problemas.
O que fazer de inempregáveis e
milhões de desempregados das
metrópoles, que perderem para
sempre os empregos devido à abertura comercial e à relocalização industrial pelo país? Por que a produtividade cresce tão devagar? De onde virá a energia se o país crescer
mais rápido? Decerto crescimento
puxa investimento, mas no curto
prazo estamos de calças curtas.
vinitu@ol.com.br
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