São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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País ainda não tem auto-suficiência real

Em setembro, produção nacional de petróleo ficou em 1,788 milhão de barris/dia, abaixo do consumo de 1,8 milhão

Petrobras diz que atraso e problemas em plataformas reduziram produção, mas que auto-suficiência "estrutural" já existe


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar da possibilidade de o consumo de derivados superar a produção média de petróleo neste ano e de a marca não ter sido atingida até setembro, o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, disse que, "estruturalmente", a auto-suficiência foi alcançada.
É que, diz o executivo, existe capacidade instalada de produção de óleo suficiente para cobrir todo o consumo de derivados do país. Na prática, porém, a produção efetiva de petróleo será provavelmente menor do que o consumo na média de 2006, segundo especialistas. Isso porque algumas plataformas foram paralisadas para manutenção e outras entraram em operação com atraso.
Em setembro, a produção nacional ficou em 1,788 milhão de barris/dia -alta de 3,2 % em relação ao mesmo mês de 2005 e de 1,4% ante agosto. O consumo médio de derivados do país é de 1,8 milhão de barris/dia, segundo a assessoria de imprensa da Petrobras -o número, porém, oscila ao longo do ano em razão de fatores sazonais como a safra agrícola, quando cresce o consumo de diesel para colheitadeiras.

Anúncio em abril
Quando anunciou a auto-suficiência -com a entrada em operação, em abril, da plataforma P-50-, a estatal havia estimado que a produção média anual de petróleo ficaria em 1,880 milhão de barris/dia em 2006, contra um consumo médio de derivados de 1,826 milhão. Ou seja: a auto-suficiência estaria assegurada com um consumo menor do que a extração efetiva de óleo.
Mas sistematicamente a produção deste ano ficou abaixo da marca estimada, e especialistas dizem que dificilmente a média do ano irá superar ou igualar o consumo do país.
Estrella minimiza o fato: "A média do ano todo é apenas um dado. O importante é que estamos com a produção crescente e sustentável com a entrada de novas plataformas. Qual é a diferença de uma plataforma entrar em dezembro [de 2006 e compor a média deste ano] ou em janeiro [de 2007]?".
Apesar de a produção efetiva de óleo não cobrir todo o consumo na média dos últimos meses, o diretor disse que o país é auto-suficiente desde a entrada em operação da P-50 em abril. Desde então, diz Estrella, o país passou a dispor de plataformas capazes de produzir óleo equivalente ao consumo, ainda que estas unidades não estejam ainda a plena carga ou tenham parado para manutenção.
A P-50 tem capacidade de produzir 180 mil barris/dia de petróleo. Atualmente, já extrai 150 mil barris de óleo ao dia.
Indagado se foi apresado o anúncio da auto-suficiência, Estrella respondeu: "Claro que não. Em capacidade instalada [de produção], ultrapassamos o nosso consumo. A auto-suficiência está assegurada estruturalmente. Somos auto-suficientes."

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Para promover a auto-suficiência, a Petrobras gastou R$ 37 milhões numa campanha publicitária lançada em abril e que foi ao ar até o começo de julho -a lei eleitoral restringe anúncios de estatais antes do pleito. Em sua campanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, citou a auto-suficiência como um feito de seu governo, sob protestos da oposição. Ela argumenta que o feito da Petrobras é resultado de um processo de muitos anos, iniciado muito antes do governo Lula.


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