São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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MERCADO ABERTO

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Valor de empresas cai R$ 1 tri na Bovespa

A turbulência financeira já fez as empresas listadas na Bovespa encolherem R$ 1,068 trilhão. De acordo com levantamento da Gradual Corretora, o valor de mercado das 325 companhias brasileiras de capital aberto passou de R$ 2,291 trilhões em 30 de maio para R$ 1,222 trilhão na sexta-feira.
Para o analista-chefe da Gradual Corretora, Paulo Esteves, a corrida dos investidores para se desfazer de ativos se tornou um movimento irracional, que não reflete o valor real dos papéis. "Quem vende as ações hoje está baseando sua decisão no fluxo de mercado e não está dando importância para os fundamentos das empresas."
Segundo Esteves, a baixa cotação das ações na Bovespa é conseqüência da dependência da Bolsa brasileira de investidores estrangeiros. "Nos últimos anos, eles inflaram o valor das empresas e sustentaram o Ibovespa alto. Com esta crise, precisam cobrir perdas no exterior e vendem os ativos mais líquidos, como as ações brasileiras, mesmo que estejam com uma boa situação econômica."
Para mostrar que os papéis estão cotados abaixo do que valem, Esteves cita o exemplo da incorporadora Brascan. A empresa dispõe de R$ 1,8 bilhão em sua carteira de terrenos e propriedades, mas encerrou o último pregão avaliada em R$ 689 milhões na Bovespa. O mesmo ocorre com a Sadia, que vale hoje R$ 3,3 bilhões em Bolsa. No entanto, apenas o seu capital imobilizado, como máquinas e terrenos, soma cifra maior que essa. "Ou seja, pelo valor de Bolsa, a marca Sadia valeria zero", diz.
Mais que um prejuízo para os investidores, Esteves considera a baixa avaliação das empresas na Bovespa "muito grave" para a economia brasileira. Além da dificuldade de obter crédito nas instituições financeiras, hoje as empresas também encontram um ambiente desfavorável para captar recursos no mercado de capitais. "A Bolsa depreciada coloca em xeque a economia, porque proporciona um efeito cascata."
Se a turbulência financeira se mantiver até o fim do ano, ameaça o cumprimento das metas atuariais dos fundos de pensão, de previdência é até as reservas das seguradoras, diz o analista-chefe da Gradual.
Para ele, é o momento de o governo intervir. Esteves sugere uma nova oferta de PIBB (Papéis Índice Brasil Bovespa), fundo de ações do BNDES voltado ao pequeno investidor, com garantias de recompra pelo valor aplicado. "O investidor estrangeiro está indo embora e não volta tão cedo. O pequeno investidor está traumatizado com as perdas. O lançamento de PIBB mostraria que o governo acredita na recuperação do mercado e atrairia de volta a pessoa física à Bolsa", avalia.

NEGÓCIO REAL
Marcelo Cherto, presidente do grupo Cherto, consultoria especializada em ocupação de mercado, notou um aumento na procura por franquias nos últimos 15 dias, quando a crise econômica internacional se agravou. O perfil dos interessados é de executivos de alto nível, que buscam abrir o negócio com alguém da família, em geral a esposa, para complementar e ter uma segunda fonte de renda. "Tenho recebido uma média de três ligações por dia de presidentes e diretores de grandes empresas para se informar sobre franquias", diz. Segundo Cherto, a conjuntura de crise aumenta o interesse pelo negócio. "As pessoas que têm capital disponível querem investir na economia real e não no mercado financeiro. E as franquias têm a vantagem do risco menor e da facilidade de gerenciar, pois são marcas conhecidas."

QUEDA

O setor de leasing já começou a sentir os reflexos da crise, segundo Rafael Cardoso, presidente da Abel (Associação Brasileira das Empresas de Leasing). "A partir de setembro, o tomador de recursos começou a ficar desconfiado em razão de toda essa crise." A única certeza de Cardoso é que o volume de operações vai cair. "Ainda não sei em que proporção, não dá para prever." O aumento dos custos e a redução dos prazos provocados pela crise diminuiu a confiança do consumidor. O que mais contribui para o cenário desfavorável nos negócios de leasing são as operações referentes a automóveis para pessoas físicas, que representam cerca de 75% dos negócios.

NA PASSARELA
Miguel Jorge (Desenvolvimento), Roger Agnelli (Vale), Josué Gomes da Silva (Coteminas) e outros participarão do seminário O Valor da Moda, que será realizado paralelamente ao evento de moda Claro Rio Summer, no Rio, de 5 a 8 de novembro. O Rio Summer é iniciativa de Nizan Guanaes.

DOSE DUPLA
Paulo Nogueira Batista Jr. foi reeleito por unanimidade para seu segundo mandato como representante do grupo de nove países que está à frente no FMI. Ele fica, assim, mais dois anos na posição. O grupo, formado por Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago, também o indicou para a reeleição por unanimidade.

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