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Dólar eleva insumo industrial em até 30%
Reajustes começaram com o agravamento da crise internacional; empresas vêem "oportunismo" em aumento de preços
Acordos entre fornecedores, indústrias e varejo estão tensos porque quem ainda não elevou preços pretende fazê-lo até o final do ano
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Após a alta do dólar, indústrias que utilizam matérias-primas como aço, resinas, componentes eletrônicos, papel, materiais para construção civil e
produtos químicos registram
aumentos de até 30% nos preços desses insumos.
A pressão sobre os custos industriais, que teve início com o
agravamento da crise financeira mundial, foi constatada em
ao menos dez setores da indústria consultados pela Folha.
Para os empresários, muitos
dos reajustes nos preços das
matérias-primas não têm justificativa e são "oportunistas".
As negociações entre fornecedores, indústrias e varejo estão
tensas neste momento, segundo eles, porque quem não aumentou o preço pretende fazê-lo até o final do ano.
"Os preços das resinas subiram entre 15% e 18% no pico da
cotação do dólar [semana passada], sem a menor razão. São
reajustes oportunistas", diz
Synésio Batista da Costa, presidente da Abraflex (associação
da indústria de embalagens laminadas flexíveis) e da Abrinq
(indústria de brinquedos).
A empresa Antilhas, fabricante de embalagens de plástico, papel e cartão, informa que
as altas de preços de fornecedores de matérias-primas estão entre 8% e 12%, mas há casos de reajustes de até 28%.
"Algumas indústrias de papel
e cartão fizeram reajustes de
8% em agosto. Agora, com a alta do dólar, foi a vez de outras
empresas do setor elevarem os
preços. No caso de resinas, com
a queda de preços no mercado
internacional, havia a possibilidade de queda de preço no Brasil, mas, com a alta do dólar, isso não ocorreu", afirma Bruno
Baptista, diretor da empresa.
Os fornecedores de produtos
químicos, como solventes e colas, segundo ele, foram os que
mais reajustaram os preços
neste mês -entre 19% e 28%.
A Florus Brasil, indústria de
cosméticos, informa que os
preços de seus insumos subiram, em média, 30% nas últimas três semanas.
"E faltam também algumas
matérias-primas, que, em alguns casos, são entregues apenas mediante pagamento de
ágio", afirma Fabio Mazzon Sacheto, um dos donos da Florus.
Na construção civil, a pressão maior vem dos fornecedores de aço. "As construtoras foram informadas de que as siderúrgicas subirão seus preços de
15% a 20% até dezembro. Se isso se concretizar, será o quarto
reajuste no ano. Esse é um setor oligopolizado e o repasse
não se justifica", afirma Sérgio
Watanabe, presidente do SindusCon-SP (indústria da construção civil paulista).
Para Merheg Cachum, presidente da Abiplast (associação
que reúne a indústria plástica),
repasses por causa da alta do
dólar serão "inevitáveis".
O que ainda segura o repasse
para os preços são os estoques,
segundo representantes de associações industriais. "As negociações para novos contratos
estão travadas até que o dólar
se estabilize", afirma Humberto Barbato, presidente da Abinee (associação da indústria
elétrica e eletrônica).
O setor eletroeletrônico é
um dos mais afetados pela alta
do dólar, já que é grande importador de componentes.
"Quem tem estoque pode esperar um pouco mais para importar. Quem não tem terá de pagar o dólar do dia que importar", diz Lourival Kiçula, presidente da Eletros (associação da
indústria eletroeletrônica).
Outro setor que sofre com a
alta de custos é o farmacêutico.
"Os insumos importados respondem por cerca de 80% da
composição de um medicamento. O dólar saiu do patamar
de R$ 1,60 para R$ 2. As empresas devem rever seus planos e
resultados em 2009", afirma
Ciro Mortella, presidente-executivo da Febrafarma (federação dos fabricantes de produtos farmacêuticos).
A indefinição quanto à cotação do dólar também emperrou as negociações entre o setor de máquinas e os fornecedores. "Não sabemos como ficarão os preços até o dólar se
estabilizar, mas eles vão mudar", diz Carlos Nogueira, vice-presidente da Abimaq (reúne
as indústrias de máquinas).
Jackson Schneider, presidente da Anfavea (associação
das montadoras), afirma que a
pressão de custos sobre os produtos importados é inevitável.
"Mas qualquer decisão de elevação de preço agora é precipitada. Além disso, os preços de
algumas commodities estão até
em queda no exterior."
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