São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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Dados mostram recuo da demanda interna

DO ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG

O governo chinês precisa estimular o consumo interno para compensar a demanda em queda em outros mercados.
Apesar do impacto modesto da crise financeira na China, há sinais internos de desaceleração, como a queda de 14% na venda de imóveis no primeiro semestre, a queda na venda de carros em agosto -a primeira em dez anos- e o encolhimento na confiança do consumidor chinês, medida pelo Escritório Nacional de Estatísticas, que caiu 3,2% em relação ao ano passado. Entre os empreendedores, a queda é mais pronunciada: 19 pontos percentuais.
Estimular o consumo é bem mais difícil do que mandar construir obras com os cofres do país cheios -a China tem US$ 1,9 trilhão em reservas, o que equivale a uma vez e meia o PIB brasileiro. Na China, 55% da população ainda mora na zona rural -400 milhões de pessoas vivem com menos de US$ 2 diários.
Como não existe gratuidade na educação e na saúde públicas, nem sistema de aposentadorias, o consumidor chinês economiza muito para enfrentar os tempos mais difíceis.
O consumo representa 30% do PIB chinês (nos EUA ou na Europa, é de 70%). Segundo cálculo de Stephen Roach, diretor do Morgan Stanley para a Ásia, a China tem um consumo interno menor do que o da Alemanha, que tem uma população 15 vezes menor.
No último mês, a China cortou juros, diminuiu taxas e impostos, mas não há sinais de que a cautela do consumidor diminua, principalmente na hora de comprar imóveis, o que afeta a poderosa construção civil chinesa.
Na primeira semana deste mês houve queda de 72% em relação a 2007 nas vendas de apartamentos em Pequim no feriadão do aniversário da Revolução Comunista, que é data habitual para muitos negócios imobiliários.

Salário baixo
Os salários não ajudam. Mesmo em Pequim ou em Xangai, ilhas de riqueza em um país subdesenvolvido, o salário médio é de 3.000 yuans (R$ 900). No interior, o salário médio é de 1.000 yuans (R$ 300).
Com a queda na compra de apartamentos, 18 prefeituras estão criando linhas de crédito para quem comprar o primeiro imóvel.
"Houve uma bolha de apartamentos de alto luxo e os preços inflacionaram. Mas, assim que forem corrigidos, esse mercado só tende a crescer. O setor residencial privado tem apenas dez anos de idade. Demanda não falta", diz Ben Simpfendorfer, economista do Royal Bank of Scotland em Hong Kong.
Até 1998, a habitação era providenciada pelas empresas estatais a seus funcionários, que não tinham a propriedade dos apartamentos.
Na última década, o governo permitiu e estimulou a compra de imóveis -o resultado foi um boom na construção, que alimentou o crescimento acelerado da economia chinesa.
Em 2007, estima-se que 1,5 ponto percentual dos 11,9% de crescimento do PIB se deveram à construção de casas.
Os primeiros apartamentos eram pequenos e de material precário, o que provocou a demanda por espaços maiores.
Em 1978, cada morador urbano chinês tinha 7m2. Uma família média de três pessoas se espremia em 21 m2. Em 2000, esse número pulou para 20 m2 por pessoa e hoje estima-se que seja de 28 m2.
A necessidade da casa própria é ainda maior porque 20 milhões de pessoas, em média, trocam o campo pela cidade por ano no país. A China ainda tem apenas 45% de população urbana -o Brasil tem 81%.


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