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Dados mostram recuo da demanda interna
DO ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG
O governo chinês precisa estimular o consumo interno para compensar a demanda em
queda em outros mercados.
Apesar do impacto modesto
da crise financeira na China, há
sinais internos de desaceleração, como a queda de 14% na
venda de imóveis no primeiro
semestre, a queda na venda de
carros em agosto -a primeira
em dez anos- e o encolhimento na confiança do consumidor
chinês, medida pelo Escritório
Nacional de Estatísticas, que
caiu 3,2% em relação ao ano
passado. Entre os empreendedores, a queda é mais pronunciada: 19 pontos percentuais.
Estimular o consumo é bem
mais difícil do que mandar
construir obras com os cofres
do país cheios -a China tem
US$ 1,9 trilhão em reservas, o
que equivale a uma vez e meia o
PIB brasileiro. Na China, 55%
da população ainda mora na zona rural -400 milhões de pessoas vivem com menos de
US$ 2 diários.
Como não existe gratuidade
na educação e na saúde públicas, nem sistema de aposentadorias, o consumidor chinês
economiza muito para enfrentar os tempos mais difíceis.
O consumo representa 30%
do PIB chinês (nos EUA ou na
Europa, é de 70%). Segundo
cálculo de Stephen Roach, diretor do Morgan Stanley para a
Ásia, a China tem um consumo
interno menor do que o da Alemanha, que tem uma população 15 vezes menor.
No último mês, a China cortou juros, diminuiu taxas e impostos, mas não há sinais de
que a cautela do consumidor
diminua, principalmente na
hora de comprar imóveis, o que
afeta a poderosa construção civil chinesa.
Na primeira semana deste
mês houve queda de 72% em
relação a 2007 nas vendas de
apartamentos em Pequim no
feriadão do aniversário da Revolução Comunista, que é data
habitual para muitos negócios
imobiliários.
Salário baixo
Os salários não ajudam. Mesmo em Pequim ou em Xangai,
ilhas de riqueza em um país
subdesenvolvido, o salário médio é de 3.000 yuans (R$ 900).
No interior, o salário médio é
de 1.000 yuans (R$ 300).
Com a queda na compra de
apartamentos, 18 prefeituras
estão criando linhas de crédito
para quem comprar o primeiro
imóvel.
"Houve uma bolha de apartamentos de alto luxo e os preços
inflacionaram. Mas, assim que
forem corrigidos, esse mercado
só tende a crescer. O setor residencial privado tem apenas dez
anos de idade. Demanda não
falta", diz Ben Simpfendorfer,
economista do Royal Bank of
Scotland em Hong Kong.
Até 1998, a habitação era providenciada pelas empresas estatais a seus funcionários, que
não tinham a propriedade dos
apartamentos.
Na última década, o governo
permitiu e estimulou a compra
de imóveis -o resultado foi um
boom na construção, que alimentou o crescimento acelerado da economia chinesa.
Em 2007, estima-se que 1,5
ponto percentual dos 11,9% de
crescimento do PIB se deveram
à construção de casas.
Os primeiros apartamentos
eram pequenos e de material
precário, o que provocou a demanda por espaços maiores.
Em 1978, cada morador urbano chinês tinha 7m2. Uma família média de três pessoas se
espremia em 21 m2. Em 2000,
esse número pulou para 20 m2
por pessoa e hoje estima-se que
seja de 28 m2.
A necessidade da casa própria é ainda maior porque 20
milhões de pessoas, em média,
trocam o campo pela cidade
por ano no país. A China ainda
tem apenas 45% de população
urbana -o Brasil tem 81%.
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