São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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Bush convoca cúpula global de líderes contra a crise

Sarkozy defende ação coordenada com membros do G5, grupo que inclui o Brasil

Em encontro com colega americano, presidente francês e da UE propõe que encontro seja realizado até o final do próximo mês

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O presidente George W. Bush anunciou ontem que os Estados Unidos devem sediar uma reunião com outros líderes globais dos países desenvolvidos e em desenvolvimento para coordenar estratégias de combate à atual crise financeira. O mandatário francês, Nicolas Sarkozy, defendeu inclusão do G5, grupo do qual o Brasil faz parte, ao lado de México, China, Índia e África do Sul.

O anúncio foi feito antes de uma reunião entre Bush, Sarkozy e o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso. “É essencial que trabalhemos juntos, porque estamos juntos nesta crise”, disse Bush antes do encontro, na casa de campo da Presidência, nos arredores de Washington.

“Espero poder realizar a cúpula em breve”, disse Bush. Ele adiantou que já conversou a respeito do tema com o premiê japonês, Taro Aso, atual presidente do G8 (EUA, Canadá, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Japão e Rússia).

Bush ressaltou que as medidas a serem discutidas não devem, do ponto de vista dos EUA, “afetar os princípios básicos do capitalismo internacional”. “Devemos resistir à perigosa tentação de isolamento econômico e continuar perseguindo políticas para abrir os mercados, que tanto têm ajudado a melhorar os padrões de vida e a tirar milhões de pessoas da miséria ao redor do mundo.”

Mais cedo, Bush já havia dito que a compra de US$ 250 bilhões pelo Tesouro dos EUA em participações acionárias em bancos no país tem caráter “emergencial e temporário”.

Sarkozy vem insistindo que o mundo precisa buscar “uma nova arquitetura financeira”, a exemplo do que o encontro de Bretton Woods fez em 1944, no final da Segunda Guerra. Segundo o francês, a nova cúpula deve acontecer antes do final do mês que vem, possivelmente em Nova York _ “onde a crise começou” e “uma solução global deve ser encontrada”.

“Não podemos permitir que os responsáveis por terem no trazido aqui [para uma crise] o façam novamente”, disse. “Esse tipo de capitalismo é uma traição ao capitalismo que nós acreditamos. Esta é a razão de termos vindo até aqui: queremos que a voz da Europa seja ouvida”, afirmou Sarkozy.

Embora existam algumas idéias, principalmente na França, na direção de uma regulação para o setor bancário e financeiro em caráter global, os EUA têm se posicionado absolutamente contrário a regras iguais para todos. Mesmo os atuais candidatos à Presidência (Bush fica no cargo até 20 de janeiro), o democrata Barack Obama e o republicano John McCain, não concordam.

A atual crise teve origem nos EUA, mais especificamente no endividamento maciço dos bancos e consumidores, financiados por operações de crédito com alta alavancagem (com lastro em ativos reais muito pequeno). O problema foi “exportado” para fora das fronteiras dos EUA com a multiplicação de papéis e títulos de investimento com pouquíssimos ativos reais por trás (prometendo elevados retornos) e que foram negociados em vários países.

No início da atual crise, os países europeus foram criticados nos EUA por terem demorado a tomar medidas conjuntas. O Banco Central Europeu demorou quase duas semanas, por exemplo, para cortar a taxa básica de juro na região e só o fez depois de os mercados desabarem durante vários dias.



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