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Para ministro, analistas estão errados
Mantega mantém previsão de crescimento entre 4% e 4,5% para 2009, bem acima das estimativas de economistas
"Sempre pensamos em cortar gastos de custeio
que não são essenciais; o que não podemos cortar
são os programas do PAC"
Ueslei Marcelino - 1º.out.08/Folha Imagem
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Mantega (Fazenda), para quem o Brasil não deve pôr o pé no freio
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O governo está disposto a
ampliar os gastos para não deixar que o país se desacelere demais com a crise global.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, é enfático ao afirmar que o Brasil não deve colocar o pé no freio.
"Temos condições de passar
por esta crise mantendo um padrão bastante razoável de crescimento", diz Mantega, que
mantém a previsão de crescimento de 4% a 4,5% para 2009.
O ministro não se impressiona com as previsões bem menos otimistas por parte de muitos economistas. De acordo
com o último Boletim Focus do
Banco Central, os economistas
prevêem crescimento de 3,5%
para o ano que vem.
Mantega diz que eles têm errado sistematicamente suas
previsões. "Deviam tomar um
Prozac para ver se melhoram."
FOLHA - O governo não está sendo
otimista demais quando prevê crescimento de 4% ou até 4,5% para o
ano que vem?
GUIDO MANTEGA - Quem está
pessimista são os outros países.
São os analistas dos Estados
Unidos, da Europa e do Japão.
Esses sim estão pessimistas, e
até têm razão para isso. Vai haver mesmo uma retração da atividade mundial. Não tenho a
menor dúvida, mas os países
emergentes têm condições de
passar pela turbulência com
desempenho muito melhor do
que aqueles que estão no epicentro da crise. É claro que não
estamos a salvo da crise, que vamos sofrer conseqüências,
principalmente nesta segunda
fase, depois do dia 15 de setembro [dia em que quebrou o Lehman Brothers]. Desde essa data, as coisas mudaram e passamos a sofrer mais. Mas, mesmo
assim, ainda não vejo necessidade de revermos nossas projeções. Para que vamos nos antecipar? Vamos deixar as coisas
se definirem melhor.
FOLHA - Mas já há alguns sinais de
retração na economia.
MANTEGA - Até agora, o que
aconteceu? A pesquisa mensal
de comércio mostra crescimento de 9,8%. Estão sendo
criados mais de 2 milhões de
empregos formais, o que significa mais renda e mais consumo. A arrecadação da Receita
Federal se mantém dentro das
nossas projeções. Até agora, de
relevante, o que aconteceu foi
um problema de liquidez.
A economia estava crescendo 6%
e vai baixar, claro, mas já estava
prevista essa desaceleração. Se
ela será menor ou maior, não
posso dizer nada. Estamos numa fase mais aguda da crise.
Vamos esperar mais um pouco
para ver se a crise se resolve no
plano internacional. Não vou
me precipitar.
O que posso dizer é que o Brasil está muito mais preparado, como nunca
esteve, para enfrentar uma crise dessa magnitude, sem sofrer
conseqüências devastadoras,
como já sofremos no passado.
Esta crise é maior do que a da
Ásia, a da Rússia, a do México e
de outras, mas, até agora, não
provocou as mesmas conseqüências.
Temos reservas externas, reservas internas [compulsório] e o nível de atividade
é maior. O Brasil tem um mercado interno que poucos países
têm. Os efeitos da crise serão
diferentes para o Brasil e estamos aqui para minimizá-los.
FOLHA - Muitos economistas apostam em crescimento de, no máximo, 3,5% para 2009. O sr. concorda?
MANTEGA - Não posso seguir os
conselhos desses eternos conselheiros do mercado que dizem: "Ah, vamos pôr o pé no
freio"; "Ah, não vamos crescer
mais". Esse pessoal é deprimido ou é pessimista. São os eternos pessimistas.
Se você pegar
as projeções desses cidadãos,
desses analistas que ganham
muito mais do que eu para fazer
projeções erradas, eles têm se
equivocado sistematicamente.
Em 2006, erraram. Erraram
também em 2007 e, felizmente
para nós, vão errar em 2008 e
em 2009.
Deviam tomar um
Prozac para ver se melhoram.
Em 2007, nenhum desses analistas disse que o Brasil ia crescer 5% -cresceu 5,4%. Diziam
3%, 3,5%, no máximo. Agora,
esses analistas dizem que a economia vai crescer 2%, 1% ou até
zero em 2009. Eles estão totalmente equivocados. Mais uma
vez vamos mostrar que eles estão errados. Vamos aguardar
para ver o tamanho da encrenca da economia internacional,
mas nós temos antídotos.
FOLHA - Quais antídotos?
MANTEGA - Se diminuir o mercado externo, e certamente vai
diminuir, o mercado interno
pode substituí-lo em parte. Há
compensações. O sistema se
ajusta. O fato de ter câmbio flutuante é muito bom numa hora
dessas. O governo tomará medidas anticíclicas e não deixará
a peteca cair.
Vamos aproveitar
o mercado interno. Temos uma
demanda tão forte que, se ela
cair uns 10% a 15%, ainda teremos uma demanda suficiente
para crescermos 4% a 4,5%. Temos condições de passar por
esta crise mantendo um padrão
bastante razoável de crescimento econômico. Não temos
os problemas que os Estados
Unidos têm.
FOLHA - Quais medidas anticíclicas
o governo pode tomar?
MANTEGA - Não colocar o pé no
freio, mas tentar manter o nível
de investimento público e privado; o BNDES, por exemplo,
continuar com um volume de
recursos para financiar os investimentos de longo prazo;
continuar implantando a infra-estrutura e manter o PAC.
FOLHA - Há idéia de cortar gastos
públicos?
MANTEGA - Sempre pensamos
em cortar gastos de custeio que
não são essenciais. O que não
podemos pensar em cortar são
os investimentos e os programas do PAC.
Não há nenhum
programa de redução de gastos
dessa natureza. Também não
pensamos em reduzir as despesas com os programas sociais. Quem vai puxar o crescimento seremos nós. Nós temos condições para isso.
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