São Paulo, sábado, 19 de novembro de 2005

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VIZINHO

País lança licitação para retomar títulos que estão nas mãos de investidores desde a renegociação da dívida, neste ano

Argentina recompra US$ 317 mi em papéis

FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

O governo argentino anunciou ontem que vai gastar até US$ 317,9 milhões para recomprar títulos da dívida do país por meio de licitação, que será aberta na próxima terça-feira.
A operação de recompra só vale para papéis renegociados e ativos no mercado. Ou seja, o governo não aceitará oferta de títulos velhos que estão na mão dos 24% dos credores que ficaram fora da proposta para sair da moratória.
Em dezembro de 2001, em meio a uma grave crise econômica, a Argentina suspendeu os pagamentos da dívida. Em fevereiro deste ano, conseguiu que cerca de 76% de credores aceitassem trocar títulos velhos da dívida, com pagamentos suspensos, por novos, com valor 70% menor. Em junho, embora 24% tenham recusado a proposta, o governo anunciou ter saído do "default" e se nega a reabrir a negociação com quem ficou de fora (há US$ 20 bilhões com esses credores).
A operação de recompra de títulos estava prevista no programa de reestruturação da dívida. Por ele, a Argentina se comprometia a usar o "o excedente da capacidade de pagamento" para readquirir os papéis no mercado. Os US$ 317,9 milhões de "excedente" seriam exatamente os destinados a pagar os tais 24% dos credores.
Segundo informe do Ministério da Economia, poderão participar da licitação os credores que possuem 19 tipos de títulos. As propostas de venda de pessoas físicas e jurídicas serão aceitas até 14h da terça-feira. O governo decidirá se aceita as taxas oferecidas ou não. Como não é obrigado a comprar, a expectativa é que consiga forçar melhora das ofertas.
Ontem, em coletiva, o subsecretário de Financiamento, Sebastián Palla, sinalizou que a intenção do governo era mesmo esperar. "Há tempo de sobra para fazer várias licitações", afirmou.
Pelo previsto no programa de renegociação, o governo tem de usar os excedentes de caixa desde 2004 -de onde provém o dinheiro usado para a licitação de segunda-feira- até 2009.
Para o economista Santiago López Alfaro, da Delphos Investment, a operação de recompra não deve ter muito impacto no mercado, já que era prevista.
Alfaro duvida, porém, que o governo obtenha boas ofertas. "Quem tem títulos argentinos hoje imagino que não vai querer vender, já que estão rendendo bem. O cenário para nós, dos mercados emergentes, é bom", aponta ele, que diz que a expectativa é que o governo volte a emitir títulos da dívida em 2006.
O economista avalia que a recompra não aumentará a pressão de credores que ficaram fora da renegociação. "Não vejo possibilidade de reabertura de negociação neste ano ou em 2006", disse.
Participarão da licitação os papéis Boden 2007, 2008, 2012, 2013, 2014 e 2015 e os do tipo Discount cobrados em pesos e em dólares, entre outros.


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